Resumo
Disfunção Temporomandibular (DTM) é o termo que reúne dois grandes grupos de doenças que acometem a Articulação Temporomandibular (ATM). Os sintomas clínicos podem afetar a musculatura mastigatória, a superfície da ATM, o espaço articular e estruturas adjacentes. A DTM é a segunda causa de dor mais comum em região orofacial, perdendo apenas para as dores odontogênicas (SUN et al., 2018).
A ATM possui características únicas, sem comparação com qualquer outra articulação do corpo. A superfície articular da ATM é composta por fibrocartilagem. Esse tipo de cartilagem demonstra ser superior à cartilagem hialina no suporte às cargas mastigatórias, sendo menos suscetível aos efeitos fisiológicos característicos do envelhecimento e possuindo uma maior capacidade de regeneração (NIIBO et al., 2016).
Os tecidos articulares das ATMs podem ser afetados por traumas mecânicos, infecções, iatrogenias, bem como por doenças reumáticas autoimunes (ABRÃO et al., 2016).
As doenças reumáticas são inflamações crônicas, ou não, que atingem um ou mais componentes do sistema musculoesquelético, onde ocorrem alterações funcionais de causa não traumática. Há doenças que acometem somente articulações; outras envolvem apenas tecidos moles como músculos, ligamentos, bursas e tendões; e as doenças difusas do tecido conjuntivo (DDTC). As DDTC são caracterizadas pelo envolvimento de órgãos e sistemas, além das manifestações articulares. A Artrite Reumatoide (AR) e o Lúpus Eritematoso (LE) fazem parte do grupo das DDTC (GARCIA; SANTOS; MENDONÇA, 2012).
A incidência de doença articular inflamatória envolvendo a ATM tem sido subestimada (O’CONNOR et al., 2017). A artrite na ATM é uma condição degenerativa, progressiva, caracterizada por destruição de estrutura óssea (cabeça da mandíbula, fossa e eminência articular) e hiperplasia sinovial. Tais alterações patológicas ativam neurônios nociceptivos do Nervo Trigêmeo. Aproximadamente 15% dos pacientes evoluem para um quadro crônico de dor, refratário ao tratamento conservador (SPERRY et al., 2017). Percebe-se um curso prolongado com repetidos períodos de remissão e exacerbação (TORRES; CAMPOS; NASCIMENTO, 2011). Pode apresentar-se com sintomatologia clínica variada em intensidade, incluindo dor articular, crepitação, limitação de movimento e eventual perda de função (SUN et al., 2018). Observa-se presença de mediadores inflamatórios típicos, incluindo o fator de necrose tumoral (TNF) -α, a interleucina (IL) -β, IL-6 e a IL-8. Tais achados estão correlacionados com a extensão da doença (sintomatologia clínica, derrame articular ou alterações na morfologia da ATM) (ABRÃO et al., 2016).
Os exames complementares auxiliam na elaboração do diagnóstico definitivo. Na maioria dos casos, os exames de imagem, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética fornecerão subsídios para o diagnóstico das anomalias morfológicas e/ou funcionais (MARCUCCI; CORRÊIA, 2001; LOIOLA et al., 2015).
Atualmente, o tratamento pode ser dividido em conservador ou cirúrgico, tendo como objetivo primário a resolução das queixas álgicas e melhora da função (SUN et al., 2018).
O tratamento conservador baseia-se em exercícios fisioterápicos, tratamento medicamentoso (analgésicos ou anti-inflamatórios não esteroidais), injeções intra-articulares, dispositivos interoclusais (SUN et al., 2018) e crioterapia (CORNELIAN; MOREIRA; BARBOSA, 2014).
Dentre as opções de tratamento cirúrgico, a Artrocentese é o procedimento mais simples. Tem sido utilizada para tratamento de vários desarranjos internos articulares da ATM, assim como para fins de diagnóstico. O processo durante a Artrocentese é definido como “lavagem e lise”, rompendo aderências/adesões, pela lavagem sob pressão da articulação. A lavagem tem como resultado a diminuição nas concentrações de mediadores inflamatórios e de enzimas que degradam a matriz, assim como a remoção mecânica de detritos (cristais, calcificações, granulações) e restos celulares. A remoção de tais substâncias traz o benefício de restabelecer adequada função mandibular (movimentos excursivos abertura/fechamento/lateralidade de boca, sem limitação) e a diminuição das queixas álgicas (LEIBUR; JAGUR; VOOG-ORAS, 2015).
Este trabalho tem por objetivo relatar um caso clínico de paciente do sexo feminino, 48 anos de idade, encaminhada ao Serviço de Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial do Hospital Universitário Teresina-PI, relatando queixas álgicas e limitação de sua abertura bucal, tendo sido proposto como tratamento inicial a artrocentese.