Resumo
O principal objetivo do tratamento endodôntico é impedir a atividade microbiana nos canais radiculares. Desse modo, para se obter o sucesso, é necessário que haja uma desinfecção, por meio da limpeza, modelagem e obturação tridimensional. De acordo com Hargreaves e Cohen (2010), a falha endodôntica pode estar associada à persistência da infecção devido à não localização e instrumentação de todos os canais ou eliminação ineficiente de microrganismos e restos de polpa necrótica. Sendo assim, para se conseguir a limpeza e selamento eficientes, é preciso o conhecimento da anatomia dental e suas possíveis variações, minimizando as chances de insucesso. Cantatore, BERUTTI & CASTELLUCCI (2009) também chegaram à conclusão de que uma das principais causas da falha da terapia do canal radicular é a incapacidade de localizar e tratar todos os canais do sistema radicular.
De acordo com VITOR (2009), as variações do sistema de canais radiculares podem ser em número, tamanho, forma e apresentar diferentes direções, fusões e divisões. A maioria das dificuldades encontradas durante o tratamento endodôntico podem ser devido às variações na morfologia interna, portanto, o conhecimento da anatomia do sistema de canais radiculares é fundamental para o tratamento ser realizado com sucesso (SOUZA-FLAMINI et al., 2014).
Gaêta-Araujo et al. (2019) concluíram que a anatomia complexa do sistema de canais radiculares pode ser mascarada, pois na maioria dos casos são realizadas apenas radiografias periapicais para o diagnóstico, limitando a visualização das estruturas estudadas por revelar uma imagem bidimensional a uma estrutura tridimensional. A imagem da Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico (TCFC) tem um desempenho de diagnóstico mais alta que a radiografia periapical na identificação da anatomia do complexo radicular (AL-NUAIMI et al., 2017). De acordo com a declaração conjunta feita pela Associação Americana de Endodontia (AAE) e a Academia Americana de Radiologia Oral e Maxilofacial (AAOMR), com relação à imagem de TCFC, esta foi recomendada na endodontia em muitas situações, como na identificação da anatomia perdida ou no estudo de um caso de morfologia única antes ou após tratamento endodôntico.
Os molares inferiores podem apresentar variações na sua anatomia, como a presença de canais mesiomediais nas raízes mesiais ou a presença de uma terceira raiz, supranumerária, que pode estar localizada na região lingual. Esta raiz adicional é geralmente menor que as raízes mesial e distal, pode ser separada ou parcialmente fundida com as outras raízes apresentando uma curvatura severa na maioria dos casos (VERTUCCI, 2005 e DE MOOR R.J.; DEROOSE C.A.; CALBERSON F.L., 2004) e é denominada de Radix Entomolaris (RE) ou na região vestibular é chamada de Radix Paramolaris (RP). Estas entidades anatômicas denominadas RE e RP são anomalias morfológicas características em países asiáticos, e seu conhecimento, identificação e tratamento são de fundamental importância para se alcançar o êxito do tratamento endodôntico. Foram descritas pela primeira vez por Carabelli em 1844, que relatou que a prevalência dessa raiz está diretamente relacionada a grupos étnicos e áreas geográficas. Foi relatado que a prevalência de RE nos primeiros molares inferiores, em populações asiáticas e étnicas com características mongoloides (esquimós e índios americanos) aparecem em percentual entre 5,8% (SKIDMORE; BJORNDAL, 2015) e 33,1% (TRATMAN, 1938), seguidos por populações indianas entre 2,19% (BHARTI et al., 2011) e 13,3% (CHANDRA, 2011), nas áreas geográficas árabes entre 2,3% (AL-QUDAH ; AWAADEH, 2009) e 6,0% (AL-NAZHAN, 1999), nos eurasianos entre 1,0% (TRATMAN, 1938) e 4,2% (ÇOLAK; OZCAN; HAMIDI, 2012), nas populações africanas entre 0,7% (SPERBER; MOREAU, 1998) e 3,1% (YOUNES; AL-SHAMMERY;EL-ANGBAWI, 1990) e finalmente, a etnia caucasiana tem uma prevalência no continente europeu (Reino Unido, Alemanha e Espanha) de 3,3% (CURSON, 1973), 0,7% (SCHAFER; BREUER; JANSEN, 2009) e 0% (SUÀREZ-FEITO et al., 1995) e no continente americano (Brasil e Estados Unidos) o percentual é de 2,2% (SKIDMORE; BJORNDAL, 1971) e 4,2% (FERRAZ; PECORA, 1993). Ainda em relação a este fato, em 0,68% nos caucasianos, 3% nas populações africanas e até 40% nas populações mongoloides (AHMED et al., 2007; SCHAFER; BREUER; JANSEN, 2009 e CURZON; CURZON, 1971). Em um estudo de KUKEZANI et al. (2017), mostraram que houve uma incidência de RE maior em primeiros molares inferiores em relação aos segundos molares inferiores, e em 6% da população iraniana enquanto 2% europeus e caucasianos, confirmando a diferença étnica.