Resumo
A impactação de um elemento dentário é definida na condição em que o elemento é impedido de irromper completamente em uma posição natural ou fisiológica dentro do período esperado, geralmente devido à falta de espaço, obstrução física por outro dente ou um caminho de erupção desviante (CHU et al., 2003). Essa situação possui uma alta incidência devido à mecânica ortodôntica inadequada empregada na dentição mista com objetivo de distalização dos primeiros molares; o menor crescimento da caixa craniana em detrimento dos maxilares e uma dieta cada vez menos exigente do sistema estomatognático e discrepância osseodental, sendo a impactação agravada pelo desenvolvimento do terceiro molar (TERRY; HEGTVEDT, 1993).
Segundo Turley (2020), a impactação de segundos molares inferiores se apresenta de forma rara, quando inclusos ou semi-inclusos, podendo acarretar algumas complicações indesejadas, como maior incidência de cáries dentárias, maloclusão, doença periodontal, cárie radicular nos dentes adjacentes, além de tratamento ortodôntico prolongado. A impactação de um segundo molar inferior pode causar problemas estéticos, mastigatórios e de estabilidade da arcada dentária, além de facilitar o aparecimento de cáries na face distal do primeiro molar inferior (TERRY; HEGTVEDT, 1993).
A impactação frequentemente ocorre na sequência de terceiros molares inferiores, terceiros molares superiores, caninos superiores, pré-molares inferiores e raramente a impactação de segundos molares inferiores (WEISMANN, ROSA, 1990). Bondemark & Tsiopa (2007) apresentaram uma prevalência de 0,2% de segundos molares impactados. Fu et al., (2012) observaram em Taiwan que a prevalência de segundos molares mandibulares impactados foi de 0,65%. Cassetta et al. (2013) avaliaram pacientes de ortodontia e observaram que 1,36% apresentavam a impactação.
A técnica de reposicionamento cirúrgico de segundo molar contribui para a oclusão normal e natural, favorecendo principalmente pacientes com problemas socioeconômicos, onde a destruição dos molares por patologias irreversíveis acarreta mutilações irreparáveis, comprometendo a saúde em geral. Porém a técnica tem como riscos a necrose pulpar, sendo necessário tratamento endodôntico; anquilose; fratura radicular ou reabsorção. Kravitz et al. (2016) citaram o deslocamento do segundo molar para a mordida cruzada bucal como o efeito colateral indesejável mais comum.
Monaca et al. (2019) relataram um resultado positivo em todos os 38 molares tratados, nos quais existia apenas uma pequena inclinação axial desfavorável. Pogrel (1995) relataram sucesso em 21 de 22 casos, com oito casos desenvolvendo cálcio pulpar assintomático. Nenhum dos 21 casos desenvolveu reabsorção radicular interna ou externa ou doença periapical. Um dente foi perdido devido a uma infecção.
Para obtenção de sucesso da técnica baseada nos conceitos do transplante dentário, temos como requisito que a técnica seja idealmente realizada durante o início da adolescência, quando a formação da raiz do segundo molar ainda está incompleta, com grau de desenvolvimento do germe dentário de 3 a 5 mm de formação radicular, pois a revascularização da polpa pode ocorrer após os vasos apicais serem rompidos devido à manipulação cirúrgica. O efeito da revascularização é que o espaço pulpar permanece não infectado e na ausência de bactérias na reabsorção radicular inflamatória não ocorrerá, devido ao amplo canal radicular e por ser o estroma pulpar pouco fibromatoso e apresentar um concentrado número de células mesenquimais (TROPE, 1998; SHIPPEER, THOMADAKIS, 2003).
Desta forma, para decidir a técnica como plano de tratamento é necessária uma abordagem multidisciplinar envolvendo o clínico geral, a odontopediatra, o ortodontista e o cirurgião bucomaxilofacial devido à existência de diversas técnicas. O objetivo deste relato de caso é apresentar um caso de reposicionamento cirúrgico de segundo molar inferior semi-incluso.