Resumo
O esmalte dentário é um tecido altamente mineralizado e tem seu desenvolvimento na vida intrauterina, em três etapas distintas. A primeira é a formativa, na qual ocorre a deposição da matriz orgânica sobre o germe dentário. Em seguida, a etapa de mineralização, onde a matriz é parcialmente mineralizada, por fim, a de maturação, onde a calcificação se estabelece totalmente (PIMLOTT et al., 1985). A célula responsável e extremamente sensível do ponto de vista metabólico é o ameloblasto, e esta pode sofrer a influência de fatores externos, a qual pode resultar em alterações estruturais durante a formação da matriz orgânica (SOARES et al., 2002). Sendo o esmalte uma estrutura que se mantém intacta, qualquer alteração com a formação incompleta ou defeituosa da matriz permanece registrada como defeitos ou irregularidades na superfície do tecido, denominando-se hipoplasia de esmalte dental (SANTOS, 2014). Estas anomalias do desenvolvimento podem resultar em redução da espessura do esmalte, podendo ter aparência opaca ou translúcida. Pode variar de manchas brancas até descoloração dos dentes, variando de amarelo até marrom-escuro. Radiograficamente o esmalte dos dentes afetados não é visível ou, quando presente, aparecerá como uma mancha muito delgada sobre as superfícies oclusais ou interproximais. Em alguns casos a alteração pode manifestar-se como sulcos ou depressões, ou como falta parcial ou total da superfície do esmalte, com exposições dentinárias em alguns pontos, podendo apresentar sensibilidade, estética insatisfatória, má oclusão e até mesmo predisposição à cárie dentária (SUCKLING, 1989; SHAFER; HINE; LEVY, 1987).
Esses defeitos podem ter etiologia hereditária, sistêmica e local. Alguns fatores genéticos podem estar associados, como amelogênese imperfeita e epidermólise bolhosa hereditária. Nos casos de desordens sistêmicas, alguns exemplos de fatores etiológicos são: complicações durante ou logo após o parto, fissuras lábio-palatais, desordens nutricionais (deficiências de vitaminas A, C, D, cálcio e fósforo), distúrbios metabólicos (hipotireoidismo), infecções (sífilis, sarampo, varicela), terapia antineoplásica, lesões cerebrais e defeitos neurológicos (LASKARIS, 2000). Como fatores locais podemos ter infecções locais e traumas (CAMPOS; CRUZ; MELLO, 2004). Quando hereditária, pode ser transmitida por um caráter dominante ligado ao sexo ou autossômico dominante, afetando ambas as dentições. Quando a condição ocorre em virtude de fatores locais ou sistêmicos, qualquer dentição pode ser envolvida. Em casos sistêmicos, envolve um grupo de dentes cujo esmalte formou-se durante o distúrbio metabólico. Já nos de etiologia local, afeta dentes isolados e em muitos casos, um único dente (SHAFER; HINE; LEVY, 1987).
Um estudo, analisando resultados de outros 70 estudos ao redor do mundo, mostrou uma prevalência de 14,2% globalmente. Não havendo diferença estatística entre sexo masculino (14,3%) e feminino (14,4%). A prevalência entre crianças de 10 anos ou menos foi de 15,1% e em crianças mais velhas de 12,1% (ZHAO et al., 2017).
Com exceção aos casos mais severos, a maioria dos defeitos hipoplásicos não gera problemas dentários funcionais. O tratamento dessas alterações pode ser necessário por razões estéticas e depende da gravidade e da necessidade de melhorar as condições funcionais e psicológicas do paciente, para não gerar distúrbios psicológicos e comportamentais. Entre os fatores que determinam o tratamento apropriado, há que se relevar a idade do paciente, devendo evitar-se tratamentos invasivos especialmente na infância. Entretanto, quando os danos estéticos comprometem a vida social, tratamentos restauradores são indicados e devem ser o mais conservadores possível (BERTELLI et al., 2012). Assim, vários protocolos de tratamento podem ser adotados, desde clareamento, microabrasão, restaurações estéticas conservadoras, facetas e coroas artificiais (SHAFER; HINE; LEVY, 1987; SOUZA, 2009; RODD et al., 2011). Com isso, visa-se com o tratamento apropriado, restabelecer a anatomia, harmonia entre oclusão, função e estética, devolvendo autoestima e promovendo benefícios psicológicos e sociais ao paciente (RIBAS, CZLUSNIAK, 2004).