Resumo
Os dentes possuem quatro pontos-chave que os protegem de reabsorções: cementoblastos, junção cemento-esmalte, odontoblastos e restos epiteliais de Malassez; quando há algum tipo de lesão ou trauma em um destes pontos, o processo de reabsorção pode ser desencadeado. De acordo com a estrutura lesada podemos ter quatro tipos de reabsorção, respectivamente: reabsorção radicular externa inflamatória, reabsorção cervical externa inflamatória, reabsorção dentária interna inflamatória e reabsorção dentária externa por substituição (CONSOLARO; BITTENCOURT, 2016).
A reabsorção radicular externa é uma perda progressiva e destrutiva da estrutura dentária, iniciada por uma área desmineralizada ou desnudada da superfÃcie radicular (YILMAZ; KALENDER; CENGIZ, 2010). Traumas dentários são mais predominantes em crianças e adultos jovens, mais comumente na região anterior da boca (ASGARY; NOSRAT; SEIFI, 2011). Mesmo um trauma leve, que muitas vezes passa despercebido pelo paciente, pode ser capaz de desencadear necrose pulpar e também alterar a camada de cementoblastos, que protege a raiz externamente, tornando o meio propÃcio ao desenvolvimento da reabsorção externa inflamatória (CONSOLARO, 2018).
Para que ocorra a reabsorção radicular inflamatória externa, a camada protetora do pré-cemento deve ser lesada, provavelmente por trauma ou inflamação do ligamento periodontal, levando à exposição da dentina subjacente (SAOUD et al., 2016). Além disso, o espaço do canal deve conter tecido pulpar necrótico infectado. Quando há presença de bactérias no sistema de canais radiculares e túbulos dentinários, decorrente da necrose pulpar e ausência de cemento, a inflamação pode se exacerbar. (PATEL; RICUCCI; DURAK; TAY, 2010; YU; ABBOTT, 2016).
Tradicionalmente, os dentes traumatizados com necrose pulpar e reabsorção radicular inflamatória externa são tratados com terapia convencional de canal radicular, incluindo desbridamento do espaço do canal e preenchimento do mesmo (CHANIOTIS, 2014). Atualmente, quando a instrumentação é completada, o medicamento preferido no tratamento da reabsorção radicular inflamatória é o hidróxido de cálcio. Este medicamento quando colocado no canal radicular atua como agente antibacteriano e influencia o ambiente local das áreas de reabsorção evitando mais reabsorção e criando um ambiente favorável para a cura (RABIE; TROPE; TRONSTAD, 1988). Porém, se a área de reabsorção se comunica com a cavidade oral, a influência do medicamento no ambiente local é rapidamente perdida e o reparo pode não ocorrer. Nesses casos, a intervenção cirúrgica para tratar a reabsorção radicular externa progressiva, pode ser necessário para prevenir a perda dentária. Materiais diferentes podem ser usados ​​para restaurar cavidades de reabsorção. Incluindo resina composta, agregado de trióxido mineral (MTA) e ionômero de vidro (HOMMEZ; BROWAEYS; DE MOOR, 2006)
Esse caso clinico abordará o tratamento de reabsorção dentária externa com a obturação transcirúrgica utilizando MTA.