Resumo
As recessões gengivais são caracterizadas pela exposição da superfície radicular devido à migração do tecido da margem gengival apical em relação à junção cemento-esmalte, podendo acarretar hipersensibilidade dentinária, comprometimento estético, cáries radiculares ou até lesões cervicais não cariosas (RAJAPAKSE et al., 2007). Os fatores etiológicos para as recessões gengivais são: bacterianos, traumáticos, virais ou mistos (ZUCCHELLI et al., 2006). As recessões gengivais mais frequentes estão relacionadas a traumatismo por escovação decorrente de técnica inadequada ou do emprego de escova com cerdas muito duras, e por inflamação induzida por placa bacteriana, embora esses pontos ainda precisem de mais elucidações (RAJAPAKSE et al., 2007).
Diversas técnicas cirúrgicas foram propostas e descritas ao longo dos anos para o tratamento das recessões gengivais (CHAMBRONE et al., 2008; CHAMBRONE; TATAKIS, 2015). As técnicas de Retalho Reposicionado Coronalmente (Coronally Advanced Flap – CAF), retalhos pediculados, ou técnica do tipo envelope, nas quais podem ou não estar associados enxertos gengivais, ou por meio de substitutos (ZUCCHELLI et al., 2006). Existem também técnicas de enxertia ditas como “duas fases”, em que um enxerto epitélio – conjuntivo é utilizado com a finalidade de ganho de tecido queratinizado, para que num segundo momento seja feito o recobrimento radicular (VELLIS et al., 2018). Além disso, diversos estudos e revisões sistemáticas mostram que o Enxerto de Tecido Conjuntivo (Connective Tissue Graft – CTG) associado a técnicas de reposicionamento coronário do retalho ainda são considerados padrão-ouro no tratamento das recessões gengivais (PINI-PRATO et al., 2010).
No entanto, a coleta do (CTG) apresenta certas desvantagens, tais como: necessidade de um segundo leito cirúrgico doador, aumento da morbidade devido a essa colheita, limitações da quantidade tecidual disponível e dificuldade operatória para remoção dos enxertos (HARRIS, 2002).
A fim de superar tais limitações e aumentar a eficácia das técnicas cirúrgicas de recobrimento radicular e diminuição da morbidade, outras abordagens vêm sendo discutidas, dentre elas, a utilização de substitutos teciduais como: matriz dérmica acelular, matriz de colágeno xenógeno, derivados da matriz de esmalte, fibrina rica em plaquetas (STÄHLI et al., 2016).
Nessa linha, a Mucoderme® (Matriz de Colágeno Xenógeno) tem se mostrado um ótimo substituto tecidual, parecendo ser uma ótima alternativa ao enxerto de tecido conjuntivo autógeno, para reposição de tecidos moles (SCHLEE et al., 2012). Esta matriz dérmica de origem suína é constituída a partir de colágeno nativo tipos I e III, o que lhe confere similaridade tecidual aos tecidos conjuntivos autógenos. A Mucoderme® é obtida após um processamento de descontaminação, em que ocorre toda a desnaturação proteica do material e a remoção de todas as células, o que confere a ela baixo potencial antigênico.
As grandes vantagens da utilização desse material são: redução da morbidade, devido à não necessidade de um segundo leito cirúrgico para remoção do enxerto, além da facilidade de seu manuseio pós-hidratado por se tratar-se de um material elástico e resistente, que pode ser recortado e modelado conforme as necessidades da área receptora (VELLIS et al., 2018).
Acredita-se que este substituto tecidual apresenta resultados clínicos promissores para o recobrimento de dentes e implantes, além de ganhos de mucosa queratinizada e redução da morbidade (STÄHLI et al., 2016).
O objetivo deste relato de caso será avaliar clinicamente o recobrimento radicular de recessões múltiplas tratadas com técnica do retalho modificado reposicionado coronalmente, associado ao enxerto de substituto tecidual – matriz xenogênica de colágeno (Mucoderm®).