Resumo
A colocação imediata do implante após a exodontia é considerada um procedimento complexo e desafiador, especialmente quando se trata de dentes comprometidos periodontal ou endodonticamente, devido à perda óssea causada pela disseminação bacteriana nesses alvéolos. Essa perda óssea é tradicionalmente considerada um obstáculo à colocação imediata do implante (HAMMERLE; CHEN; WILSON, 2004; RODRIGO; MARTIN; SANZ, 2012).
Outro fator a ser considerado na colocação de um implante imediatamente após a extração é a manutenção da arquitetura dos tecidos moles e do osso alveolar de suporte, que são considerados fatores indispensáveis para alcançar resultados favoráveis no tratamento estético com implantes osseointegráveis (DA ROSA et al. 2009; HUYNH-BA et al. 2010).
Muitos estudos clínicos defendem o uso de enxertos ósseos autógenos e/ou regeneração óssea guiada (ROG) para a reconstrução de defeitos ósseos em alvéolos comprometidos após a remoção do dente (SCHNEIDER et al., 2011; COSYN et al., 2011; BUSER et al., 2013; PIERI et al., 2013). No entanto, essas técnicas exigem cirurgias mais invasivas, além de um longo tempo de tratamento devido à colocação tardia do implante em combinação com procedimentos de dois ou três estágios (TSOUKAKI et al., 2013).
A Restauração Dentoalveolar Imediata (RDI) é uma técnica de estágio cirúrgica única, sem levantamento de retalho, que propõe a instalação de implante imediato à exodontia, em elementos onde exista o comprometimento ósseo em diferentes extensões, as quais são reconstruídas com osso autógeno corticomedular coletado da tuberosidade na mesma sessão cirúrgica. Isso permite que a extração dentária, a colocação do implante e a provisionalização ocorram durante o mesmo procedimento. Um gap de 3 mm deve ser mantido entre a superfície vestibular do implante e a parede óssea vestibular externa que será preenchida com osso coletado da tuberosidade da maxila, seguido da provisionalização imediata – condições imprescindíveis para o sucesso da técnica (DA ROSA et al. 2009; DA ROSA et al. 2013; DA ROSA, PÉRTILE DE OLIVEIRA ROSA; HUWAIS, 2019). Além de ter um custo geral mais baixo e um menor tempo de tratamento, a técnica RDI mostra-se eficaz em termos de estabilidade de tecidos moles e duros (ROSA et al., 2014).
O osso autógeno é o padrão ouro na reconstrução dos defeitos ósseos devido a sua capacidade osteoindutora, osteocondutora e osteogência garantida pela biodisponibilidade celular. Além disso, não apresenta risco de reações imunológicas ou transmissão de doenças. A principal desvantagem dos enxertos autógenos é a necessidade de um segundo sítio doador, aumentando o tempo cirúrgico e, consequentemente, a morbidade do procedimento (YIP et al., 2015, MIRON et al., 2016, SHEIKH et al., 2017, AUSENDA et al., 2019).
Os sítios doadores intraorais mais comuns são: mento, corpo e ramo mandibulares e a tuberosidade maxilar. Quando a reconstrução é pequena, a tuberosidade representa um sítio de fácil acesso e manipulação, excelente incorporação ao sítio receptor e menor morbidade para o paciente. De acordo com os idealizadores da técnica RDI, a pneumatização do seio maxilar, a espessura dos tecidos moles, além de pacientes com abertura de boca limitada são desvantagens na utilização da região da tuberosidade como sítio doador, sendo de extrema importância a realização de tomografias e radiografias para a avaliação e o diagnóstico dos tecidos duros e moles nos sentidos vertical e horizontal, permitindo, assim, o correto planejamento dos procedimentos cirúrgicos (DA ROSA et al., 2008).
O enxerto corticomedular removido da tuberosidade age como uma barreira biológica promovendo a cicatrização óssea e gengival. Ainda há o aumento da revascularização devido à natureza medular e à liberação de fatores de crescimento no sítio receptor. A instalação de um provisório imediatamente, por sua vez, proporciona a conformação do perfil de emergência protético ideal e o estímulo necessário para acelerar a cicatrização dos tecidos peri-implantares (ROSA et al., 2014; DA ROSA; ROMANELLI; CALICCHIO, 2018).
O desafio mais significativo na aplicação da técnica de RDI é proporcionar a colocação do implante com alta estabilidade primária para permitir a provisionalização imediata e a reconstrução óssea em um único procedimento. Portanto, a utilização do método de preparação do local do implante por meio da técnica de osseodensificação é importante e, muitas vezes, a única forma para obtenção da estabilidade necessária do implante para o procedimento de RDI (DA ROSA, 2018).
A osseodensificação é um método de preparo biomecânico do osso para a colocação de implantes, no qual a densificação óssea se dá por meio da osteotomia não extrativa utilizando brocas especialmente projetadas com geometria cônica e com tecnologia para expandir progressivamente a leito cirúrgico enquanto compactam o osso em suas paredes e ápice (HUWAIS et al., 2018).
Enquanto a osteotomia com a preparação biomecânica convencional aumenta as microfraturas ósseas e está associada à cicatrização tardia e à redução da superfície de contato osso – implante: BIC (Bone to Implant Contact), as brocas osseodensificadoras são usadas no sentido anti-horário, ou não cortante, realizando um autoenxerto simultâneo ao preparo, aumentando a estabilidade primária do implante e aumentando a superfície de contato osso – implante (BIC) (HUWAIS et al. 2018).
O leito cirúrgico do local de osseodensificação é preparado e estimulado biomecanicamente; esse procedimento resulta em aumento da densidade mineral óssea ao redor da periferia da osteotomia e produz autoenxertos compactos ao longo de toda a profundidade da osteotomia. A técnica garante um efeito de “retorno ao centro da osteotomia” (spring-back effect) e cria uma compressão reversa do tecido ósseo no corpo do implante, aumentando, consequentemente, a estabilidade primária do implante. A deformação óssea ocorre através de mecanismos viscoelásticos e plásticos durante a fresagem, quando a carga é controlada sob o osso (HUWAIS; MEYER, 2017).
Uma irrigação abundante deve ser usada durante o procedimento de osseodensificação no intuito de promover refrigeração e lubrificação entre as superfícies da broca e do osso, diminuindo assim o superaquecimento (PEÑARROCHA et al., 2001). O cirurgião pode controlar com segurança o processo de densificação, porque a força de reação axial é proporcional à intensidade da força aplicada pelo cirurgião. Isso dá ao operador a sensibilidade tátil necessária para o controle dessa força com base na densidade óssea (HUWAIS; MEYER, 2017).
A associação dessas duas técnicas, Osseodensificação e RDI favorece a estabilidade do implante em alvéolos pós-extração de dentes periodontalmente comprometidos e com defeitos ósseos extensos. A osseodensificação permite a compactação lateral e apical do osso enxertado para a reconstrução do processo alveolar durante o preparo do leito ósseo. Nesses casos, é recomendada a diminuição da velocidade da fresa (entre 100 a 200 rpm) além da não utilização de irrigação durante o preparo (DA ROSA, PÉRTILE DE OLIVEIRA ROSA; HUWAIS, 2019).