Resumo
Os mini-implantes também são conhecidos como dispositivos de ancoragem temporária, pois são utilizados a fim de proporcionar uma ancoragem esquelética, em que não se permite que haja movimento da unidade de reação, ou seja, não admite a movimentação do mini-implante diante das forças da mecânica ortodôntica (CHEN et al., 2009; LEE; BAEK, 2010). Contudo, vários dispositivos foram criados em busca de uma ancoragem significativa, porém somente em 1997 com a criação de mini-implantes, foi que a ancoragem óssea absoluta obteve resultados significativos (KANOMI, 1997). Para o ortodontista, a principal vantagem desse dispositivo é que ele proporciona um melhor controle de direção e das intensidades de forças. Porém, para que ocorra sucesso no uso do mini-implante é importante avaliar as características clínicas e até mesmo radiográficas do paciente, bem como a idade, o gênero e local de inserção, a fim de que se obtenha uma estabilidade primária e secundária. Essas estabilidades são influenciadas por dois fatores, o stress de compressão na interface do tecido peri-implantar e o mini-implante, bem como a quantidade de contato entre os dois (PARK et al., 2001; WILMES; SUB; DRESCHERC, 2008; ELIAS; RUELAS; MARINS, 2011). Os mini-implantes inter-radiculares são comumente utilizados, porém apresentam contraindicações dependendo do tipo de mecânica ortodôntica a ser utilizada, os mini-implantes instalados na face vestibular, de forma extra-alveolar, são propostos com o intuito de fornecer uma retração de todo o complexo dentoalveolar, seja da maxila e/ou mandíbulas, para corrigir apinhamento severo, protrusão dentária e/ou esquelética sem extrações ou cirurgia ortognática (PITHON; FIGUEIREDO; OLIVEIRA, 2013). É de suma importância proporcionar uma ancoragem ideal para retrair o arco maxilar e/ou mandibular, os mini-implantes devem ser posicionados de forma oblíqua em relação às raízes dentárias, afastados de tecidos moles (aproximadamente 5 mm) e em áreas que apresentem boa área óssea (CHANG; LIU; ROBERTS, 2015).
A resistência diante do movimento para mecânica de fechamento de espaço em pacientes que são submetidos a extrações dentárias é um fator crucial para que o resultado do tratamento ortodôntico seja satisfatório. Em pacientes adultos que apresentam uma má oclusão com protusão dentária, seja maxilar e/ou mandibular, uma ancoragem adequada se torna importante durante o tratamento ortodôntico; tal ancoragem pode ser alcançada por vários métodos, como: uso de aparelhos extrabucais, embora eficientes dependem muito da colaboração do paciente; aparelhos intrabucais, por exemplo, um arco de retenção de Nance ou barra transpalatina (BTP) também podem ser utilizados, porém apresentam limitações quanto às suas indicações e mecânicas. Os mini-implantes (MI) ortodônticos ou também conhecidos como dispositivos de ancoragem temporária (TADs) são uma alternativa diante das formas mais tradicionais de ancoragem, pois são não apoiados aos dentes, ao contrário de outros métodos de reforço de ancoragem (ANTOSZEWSKA-SMITH et al., 2017).
Extrações de pré-molares e retração dos dentes anteriores podem ser comumente indicadas, pois a biprotrusão dentoalveolar é uma condição caracterizada pela protrusão e inclinação dos incisivos superiores e inferiores. Com o intuito de criar espaço suficiente para a retração dos dentes anteriores, os dentes posteriores mandibulares podem ser retraídos com mini-implantes posterior colocado na área retromolar seguido por uma retração em massa dos dentes anteriores inferiores. Após a retração, inicialmente, dos dentes inferiores, MIs instalados na região posterior da maxila podem ser implantados no osso alveolar vestibular entre os segundos pré-molares superiores e os primeiros molares. Esses dispositivos oferecem uma ancoragem para obtenção de um bom perfil facial mesmo sem a extração de pré-molares. Com o uso de mini-implantes, como ancoragem, tornou-se possível distalizar os dentes superiores e inferiores sem perda de ancoragem. Portanto, a eficácia e potência dos Mis, como um auxílio de ancoragem no caso de biprotrusão severa com a ausência de segunda mola mandibular (CHAE, 2007). Mini-implantes ortodônticos são instalados no osso alveolar (dois bilateralmente à maxila e dois bilateralmente à mandíbula) para fornecer ancoragem frente a retração em massa. A estabilidade desses mini-implantes permite a resistência dos momentos de força de rotação e controle dos movimentos tridimensionais dos dentes anteriores durante a retração. Estética facial do paciente, presença do selamento labial passivo e a relação interdental podem ser alcançadas com a utilização desses dispositivos na mecânica ortodôntica adotada (CHUNG et al., 2007; DEVINDER; DEEPAK, 2016).
É de suma importância que para o sucesso da mecânica com mini-implantes ortodônticos o local de inserção tenha a presença suficiente de osso. Os mini-implantes podem ter sua instalação indicada em muitos locais anatômicos dependendo da biomecânica utilizada. Os locais anatômicos mais indicados são: palato duro, região retromolar da maxila e mandíbula, além dos processos alveolares vestibulares. Inúmeros estudos utilizaram a TCFC (Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico), a fim de analisar a espessura do osso cortical para identificar os locais anatômicos de inserção mais favoráveis e avaliar as estruturas de risco em vários locais. Atualmente a região conhecida como Buccal Shelf (prateleira bucal) da mandíbula (área vestibular localizada na região dos molares) foi utilizada como local de inserção de mini-implantes ortodônticos. Essa região está indicada, geralmente, para correção dos casos de má oclusão de Classe III esquelética. Os prováveis locais para instalação do Buccal Shelf é na face vestibular entre o primeiro e segundo molar ou próximo e/ou distalmente ao segundo molar, porém podem existir variações anatômicas nessa região, como: espessura da cortical óssea, largura óssea na região posterior da mandíbula e proximidade com o nervo alveolar inferior (ELSHEBINY; PALOMO; BAUMGAERTEL, 2018).
A biprotrusão alveolar é caracterizada pela inclinação e protrusão dos incisivos tanto superiores e/ou inferiores em que o objetivo do tratamento ortodôntico é a retração e retroinclinação dos incisivos com redução da projeção e convexidade dos tecidos moles, pois a correta posição dos incisivos influencia na adequada oclusão, estabilidade e estética. Partindo desse ponto, a retração dos dentes anteriores representa uma etapa fundamental e muitas vezes crítica, pois está diretamente relacionada à ancoragem no tratamento ortodôntico. Para evitar a perda de ancoragem, o clínico pode usar diferentes dispositivos e técnicas, contudo alguns dispositivos dependem da colaboração do paciente. Recentemente, dispositivos de ancoragem temporária do esqueleto (TADs), como mini-implantes, têm sido usados como ancoragem em casos de retração em massa de seis dentes anteriores. Um caso clínico relata o tratamento em um paciente do gênero masculino com extração de quatro pré-molares e retração anterior para correção da protrusão dentária e labial, em que a retração dos dentes superiores foi realizada com uma barra transpalatina ativada por meio de um mini-implante na região da sutura palatina e os dentes inferiores foram retraídos com dois mini-implantes instalados bilateralmente na mandíbula entre o primeiro e segundo molar. Como resultado pode-se concluir que os mini-implantes foram importantes para manter a estabilidade da mecânica ortodôntica (SUZUKI et al., 2013). Um trabalho envolvendo revisão sistemática com o intuito de comparar o resultado de tratamentos em pacientes com biprotrusão dentoalveolar da maxila e mandíbula com relação às alterações esqueléticas, dentárias e faciais, em que os tratamentos com mini-implantes como unidades de ancoragem foram analisados e comparados aos métodos tradicionais de se obter ancoragem. Os autores concluíram que a ancoragem com mini-implante foi mais eficaz na retração dos dentes anteriores, produzindo uma menor perda de ancoragem e teve um efeito maior na alteração facial em pacientes do tipo dolicofacial do que a ancoragem tradicional (XU; XIE, 2017).