Resumo
São diversas as reabilitações do sistema estomatognático que podem ser tratadas por meio da associação de especialidades odontológicas, na qual a equipe inter ou multidisciplinar pode oferecer ao paciente bons resultados estéticos, funcionais e fonéticos (TAGAS, 1996; CLAMAN; ALFARO; MERCADO, 2003; PITHON; BERNARDES, 2004; LEITE, 2009).
De forma geral, a integração entre diferentes especialidades da área de saúde tem o objetivo de otimizar os procedimentos e a previsibilidade dos tratamentos. Em específico na Odontologia, a integração das especialidades valoriza o tratamento proposto e o profissional (CLAMAN; ALFARO; MERCADO, 2003; ZANETTI et al., 2007). Dessa forma, a interação interdisciplinar odontológica passa a ser tida como o fator-chave para melhorar o prognóstico dos pacientes e a satisfação dos profissionais e clientes envolvidos (ZANETTI et al., 2007; COSTA, 2010).
Nesse contexto, a fim de tornar possível a reabilitação oral com próteses convencionais ou implantossuportadas, faz-se necessário que as relações oclusais estejam satisfatórias, com dentes bem posicionados nos arcos e com os espaços interproximais adequados para receber as futuras próteses (CLAMAN; ALFARO; MERCADO, 2003; PITHON; BERNARDES, 2004; COSTA, 2010).
Contudo, é sabido que a perda dentária, ou mesmo de tecido dentinário por desgaste e desajuste oclusal, ocasiona inúmeras alterações em ambas as arcadas e nos rebordos residuais. Dessa forma, quando o cirurgião-dentista vai reabilitar os dentes com próteses, é comum se deparar com espaços e condições que não favorecem a execução de um bom trabalho (CÂMARA; MAIA; MAIA, 2013; PITHON; BERNARDES, 2004; ZANETTI et al., 2007). Para essas situações, o profissional que sabe diagnosticar e indicar a correção do posicionamento dentário de maneira a favorecer o seu plano de tratamento protético tem mais chances de oferecer uma excelente reabilitação funcional com longevidade. Portanto, de fato, a associação entre a Ortodontia e o tratamento protético parece proporcionar benefícios em muitos casos clínicos e deve ser sempre considerada quando a posição dos dentes e/ou remanescentes dentários não é a ideal (CLAMAN; ALFARO; MERCADO, 2003; LEITE, 2009).
Nesse ínterim, afirma-se que a terapia ortodôntica não é somente indicada para uma abordagem completa da maloclusão dos pacientes, pois, com o desenvolvimento dos tratamentos protéticos e restauradores, a Ortodontia tem desempenhado um papel importante na melhora do posicionamento dentário, visando essas condutas clínicas (KERBER, 2009).
No intuito de executar um bom trabalho e preservar ao máximo a integridade dos dentes e do periodonto, são necessários alguns critérios ao especialista em Prótese Dentária: 1) paralelismo dos dentes que servirão de pilares protéticos, reduzindo a necessidade de desgaste de tecido dentário sadio e do tratamento endodôntico; 2) dentes verticalizados, para que a força oclusal incida sobre seu longo eixo; 3) espaço edêntulo adequado para a confecção de dentes de tamanhos e formas naturais; 4) espaço para preparo dos dentes mantendo a integridade da distância biológica; 5) propiciar guia anterior e nos caninos, quando o tratamento envolver a maloclusão como um todo. Portanto, a Ortodontia é fundamental no processo de estabelecimento desses quesitos, pois atua em todos os níveis (JANSON, 2005).
Mais especificamente, pode-se afirmar que a associação entre Prótese Dentária e Ortodontia, na maioria das vezes, busca a obtenção de: 1) paralelismo dos pilares de prótese; 2) melhor distribuição dos dentes intra-arcos e interarcos; 3) redistribuição e redirecionamento das forças oclusais e incisais; 4) plano oclusal aceitável e potencial para guia anterior em uma dimensão vertical satisfatória; 5) eliminação do trauma oclusal; 6) melhoria no suporte e competência labial; 7) melhoria na proporção coroa-raiz; 8) correção ou melhora de defeitos ósseos e ou gengivais; 9) eliminação de locais de retenção de placa pelo delineamento correto do contorno da crista óssea nos dentes adjacentes; 10) melhores condições na manutenção da saúde periodontal; 11) estética; 12) correção de mordidas cruzadas que apresentam interferência oclusal ou deficiência estética, e; 13) buscar, quando possível, os objetivos tradicionais ortodônticos, caso contrário, limitar-se a dar uma oclusão fisiológica em áreas de problemas localizados, não interferindo nas áreas em que a oclusão esteja satisfatória (VANARSDAL JUNIOR; MUSICH, 1994).
Além disso, Buttke e Proffit (1999) ressaltaram que a ação conjunta entre Prótese Dentária e Ortodontia também é importante para a obtenção da estética almejada, uma vez que a sociedade moderna está cada vez mais influenciada pelos aspectos da valorização da beleza individual. Claman, Alfaro e Mercado (2003) complementaram, afirmando que essa interdisciplinaridade agrega muitos benefícios estéticos ao tratamento, principalmente em região de maxila anterior.
A implementação de um plano de tratamento interdisciplinar, que associa os recursos ortodônticos à reabilitação protética, pode ser de grande valia, melhorando as condições dos dentes e seus tecidos de suporte. As forças aplicadas durante os movimentos devem ser controladas, de modo a não comprometer a nutrição dos ligamentos periodontais e a ancoragem deve ser obtida da forma mais eficaz possível, podendo ser utilizados para esse fim aparelhos fixos, removíveis e mini-implantes (TAGAS, 1996).
De forma geral, planos de tratamento que integrem Prótese Dentária e Ortodontia seguem os mesmos passos de qualquer tratamento odontológico (anamnese, exames intra e extraorais, radiografias, modelos e montagem em articulador), porém, todos os profissionais envolvidos devem desenvolvê-lo de forma conjunta, visando à obtenção dos melhores resultados possíveis (SPALDING; COHEN, 1992).
Nesse contexto, conhecer as possibilidades e poder integrar uma equipe interdisciplinar torna-se importante para o cirurgião-dentista que deseja alcançar o sucesso em sua prática diária (LEITE, 2009). Assim, este estudo objetivou descrever um caso clínico no qual a associação entre Ortodontia e Prótese Dentária foi utilizada como meio de reabilitação oral, devolvendo estética e função ao paciente.