Resumo
O edentulismo total e a consequente atrofia dos ossos maxilares como a pneumatização dos seios da face elevam o grau de dificudade durante o tratamento reabilitador. Sabe-se que as consequências das perdas dos elementos dentais afetam todo o sistema estomatognático, interferindo na função mastigatória, na estética facial. Adicionalmente gera transtornos psicológicos, como baixa autoestima e alterações na saúde sistêmica, as quais se tornam critérios relevantes durante o processo de definição da melhor forma de tratamento do edentado total.
A literatura confirma que há insatisfação de grande parte desses pacientes ao fazer uso de próteses do tipo removíveis convencionais (AGERBERTG; CARLSSON, 1981). Tal fato leva à procura por tratamentos reabilitadores por meio de implantes.
Nos casos de atrofia severa, os enxertos ósseos para aumento de rebordos ósseos tanto na mandíbula e maxila quanto na elevação da membrana do seio são comumente utilizados quando bem indicados.
A reabsorção óssea que ocorre após exodontias dentárias é rápida e gera alterações na relação oclusal maxilo-mandibular, essas alterações são mais exacerbadas na maxila devido à característica estrutural desse osso. A reabsorção da crista alveolar combinada com a pneumatização do seio maxilar resulta numa atrofia severa e na perda do suporte ósseo, limitando a ancoragem dos implantes dentários (LOPES, 2006).
Várias são as técnicas desenvolvidas para reconstrução de maxilas atróficas, algumas são de alta complexidade, consistindo em extensos enxertos ósseos. Essas dificuldades exigiram a necessidade de desenvolver uma alternativa mais satisfatória como a proposta pela técnica All-on-4 (MALÓ et al., 2014).
Por outro lado, aos pacientes que não desejam ou são contraindicadas as técnicas de reconstrução óssea, como cirurgias de enxertia óssea (KELLER et al., 1987), levantamento da membrana do seio maxilar (BOYNE; JAMES, 1980; TATUM, 1986 apud VICENTE, 2014), entre outros, podem ser reabilitados por uma técnica chamada All-on-4.
De acordo com o conceito original de Branemark, em um arco mandibular desdentado, os implantes são colocados em uma posição vertical induzindo a confecção de extensões posteriores bilaterais (cantilevers) que podem chegar até 20 mm de comprimento. Esses cantilevers fornecem ao paciente capacidade mastigatória na região de molar, onde as cargas oclusais estão em sua maior parte concentradas, o que gera maior risco de falhas, como comprovado por estudos clínicos e mecânicos (KREKMANOV et al., 2000).
Baseando-se no fato de que implantes, quando colocados em locais estratégicos, podem suportar uma prótese fixa de forma eficiente, surgiu o conceito All-on-4 (MALÓ P. et al., 2014). Essa técnica consiste na utilização de apenas quatro implantes para sustentação das próteses, sendo os dois implantes posteriores bilaterais inclinados para distal. A inclinação dos implantes posteriores proporciona algumas vantagens, como a redução do cantilever distal, o que proporciona vantagem biomecânica e fuga das estruturas anatômicas, como seio maxilar e forames mentuais (MIGLIORANÇA, 2008).
As principais vantagens dessa técnica consistem na instalação dos implantes de forma menos invasiva, possibilidade de instalação de implantes mais longos, que devem aumentar a área de contato osso-implante, como também a estabilidade primária. Inclinando os implantes também amplia-se a distância entre os implantes posteriores e anteriores, o que deve resultar em uma melhor distribuição de carga. Além da técnica também proporcionar uma redução ou eliminação da necessidade de cantilevers na prótese (KREKMANOV et al., 2000; MAIA et al., 2008; BLOCK et al., 2009).
A taxa de sobrevivência cumulativa de implantes curtos associados a implantes regulares (10-13 mm) e implantes longos (15-18 mm) em design All-on-4 foi respectivamente de 95% e 95,7%, sendo comparável a estudos anteriores sobre a reabilitação de maxilas de desdentados por meio do conceito de tratamento All-on-4, com taxas cumulativas de implantes de sobrevivência ao redor de 98% após 1 e 3 anos de acompanhamento (AGLIARDI et al., 2010).