Resumo
Atualmente nas clínicas odontológicas é notória uma procura mais frequente por procedimentos que visem não só a funcionalidade, mas principalmente a estética. O anseio por um sorriso estético e harmônico eleva o nível de exigência e de expectativa do paciente devido ao indivíduo estar inserido numa sociedade na qual a aparência tem grande relevância na sua aceitação e autoestima. Dentro desse contexto, muitos parâmetros são analisados para o planejamento de uma reabilitação.
A ausência total ou parcial de dentes é uma condição que deve ser analisada multidisciplinarmente e com cautela, uma vez que se apresenta como uma circunstância de impacto negativo sobre a qualidade de vida do paciente (BABBUSH et al., 2010; DE VICO et al., 2011). Além da estética, as perdas dentárias podem afetar a capacidade mastigatória, desequilíbrios musculares (CAVALCANTI; OLIVEIRA; BATISTA, 2015), o consumo de diversos alimentos e a fonação, podendo também causar impactos psicológicos indesejáveis (SANTOS, 2009).
O planejamento da reabilitação oral deve envolver o julgamento profissional, as preferências do paciente, as evidências científicas disponíveis, as necessidades de tratamento odontológico, as limitações biológicas, a higiene oral, a mudança na qualidade de vida, os custos, e as competências técnicas do profissional (CAVALCANTI; OLIVEIRA; BATISTA, 2015). Baseado em outros fatores, como preferência pessoal, experiência do profissional, custo, necessidade de cirurgias adicionais, entre outros, o profissional juntamente com o paciente, pode optar por diferentes técnicas.
Em reabilitações totais, as próteses totais removíveis são comumente usadas, contudo, apresentam as limitações da perda de volume ósseo com o tempo de uso, diminuição da capacidade de retenção dos alimentos, diminuição do controle motor da língua e da função sensorial e, consequente instabilidade das mesmas (BABBUSH; KUTSKO; BROKLOFF, 2010).
Diante disso, a reabilitação com próteses totais sobre implantes osseointegrados tem sido proposta como uma alternativa, com a vantagem de driblar as limitações apresentadas pelas reabilitações convencionais com próteses totais ou parciais removíveis (AGLIARDI et al., 2010; PAREL; PHILLIPS, 2011).
Nas reabilitações totais que envolvem implantes osseointegrados existem dois protocolos de eleição: 1- o protocolo preconizado por BRANEMARK, em 1977, com a colocação de seis implantes verticais por arcada e com um período de reparo ósseo de três meses para a mandíbula e seis meses para a maxila; 2- protocolos mais recentes com implantes em carga imediata, que consiste na instalação das próteses implantossuportadas imediatamente ou logo após a colocação dos implantes.
De acordo com alguns autores, o protocolo de carga imediata permite melhores condições de reabilitação, provendo maior estabilidade das próteses, menor tempo de reabilitação, menor morbidade (DE VICO et al., 2011), longevidade do tratamento, maior taxa de sobrevida dos implantes e próteses (PUIG, 2010) em longo prazo (KUTSKO; BROKLOFF, 2011), satisfação do paciente e minimização de etapas cirúrgicas (ex. enxertos ósseos ou levantamento de seio maxilar), que torna o tratamento vantajoso para reabilitações funcionais e estéticas imediatas (BABBUSH; KUTSKO; BROKLOFF, 2011), com menor tempo e custo de tratamento (AGLIARDI et al., 2010; DE VICO et al., 2010; GRAVES et al., 2011; MALO et al., 2011; DE VICO et al., 2011; ATA-ALI et al., 2012; CRESPI et al., 2012; DUELLO et al., 2012; GILLOT et al., 2012; MALO et al., 2012).
O pós-cirúrgico também é mais confortável para os pacientes, uma vez que eles estarão utilizando suas próteses provisórias fixas logo após os implantes (CRESPI et al., 2012), trazendo, também, maior qualidade de vida (DE VICO et al., 2011).
Contudo, existem situações consideradas desfavoráveis para este protocolo de reabilitação imediata, como: baixa densidade óssea, reabsorções ósseas, presença de seios maxilares pneumatizados (PUIG, 2010; GRAVES et al., 2011), regiões de deiscências e fenestrações, locais periodontalmente comprometidos, alvéolos frescos (MALO et al., 2011; GILLOT et al., 2012; MALO et al., 2012), pacientes com doenças sistêmicas (MALO et al., 2011; PENARROCHA-OLTRA et al., 2011), com densidade óssea comprometida (PUIG, 2010; GRAVES et al., 2011), e parafunção (PAREL; PHILLIPS, 2012).
Atualmente, existe um conceito de reabilitação com carga imediata, conhecido como all-on-four, que consiste na colocação de quatro implantes por arco, sendo dois anteriores paralelos e dois posteriores colocados com inclinação (PUIG, 2010; PAREL; PHILLIPS, 2011), entre 30◦ e 45◦ (AGLIARDI et al., 2010).
Este protocolo foi idealizado tanto para atender demandas de reabilitações de maxilas atróficas, que apresentam grandes limitações, quanto para reabilitações imediatas em condições desfavoráveis, permitindo a colocação de implantes posteriores longos e inclinados em regiões distais dos maxilares (SILVA et al., 2010), desviando de estruturas nobres da face e eliminando etapas cirúrgicas prévias à colocação dos implantes.
Este protocolo também visa aumentar a área de sustentação das próteses, com o aumento da distância entre os implantes anteriores e posteriores (CAPELLI et al., 2007, AGLIARDI et al., 2010), o que permite a diminuição da extensão distal das próteses, e consequentemente, o menor risco de falhas no protocolo (MALO et al., 2011). Segundo DE VICO et al. (2011), extensões distais longas aumentam o risco de falha dos implantes e de fraturas nas próteses implantossuportadas. E, quando menores, permitem uma melhor distribuição de forças oclusais mastigatórias nas próteses (DE VICO et al., 2011).
É importante considerar, porém, que a técnica all-on-four, apesar de todas as vantagens apresentadas, quando comparada ao protocolo de Branemark, pode apresentar maior dificuldade na reabilitação posterior, pois exige um ângulo de correção de pilares (abutments) nesta região dos implantes inclinados (GRAVES et al., 2011).
Além disso, alguns fatores considerados de risco podem ser considerados associados aos tratamentos all-on-four: dentição antagonista natural, gênero masculino, baixa densidade óssea, localização do implante distal (PAREL; PHILLIPS, 2011). Na ausência destes fatores, tanto o protocolo de Branemark, quanto o all-on-four podem ser utilizados com boa previsibilidade, apresentando desempenho semelhantes. Em relação ao reestabelecimento da função muscular do paciente edêntulo, a alta atividade muscular dos músculos masseter e temporais em pacientes assim reabilitados é muito próxima à atividade de pacientes com dentição natural do que as próteses removíveis, o que indica que estes protocolos são vantajosos também para este objetivo (DE ROSSI, 2014).
Para que uma reabilitação oral esteja completa, algumas exigências funcionais e estéticas são almejadas para que se assemelhem ao máximo nestes quesitos à uma dentição natural. Dentre as exigências funcionais, busca-se a desoclusão em grupo nos movimentos de lateralidade e protrusão como guias oclusivas mais desejadas, levando a uma oclusão mutuamente protegida. (CAVALCANTI; OLIVEIRA; BATISTA, 2015).