Resumo
Os mini-implantes surgiram como ferramentas auxiliares do tratamento ortodôntico, possibilitando uma ancoragem esquelética para a obtenção de muitos movimentos dentários, com o intuito de eliminar as consequências desfavoráveis na unidade de ancoragem (ARAÚJO et al., 2006).
Desta forma, começaram a ser usados por apresentarem a vantagem de não dependência da colaboração do paciente para o cumprimento de ativação/aplicação extraoral; abreviação do tempo do tratamento ortodôntico; fornecimento de ancoragem absoluta; redução do risco de lesão radicular; fácil manipulação, instalação e remoção; permitir uma mecânica ortodôntica controlada; não provocar reação recíproca nos demais dentes; apresentar boa relação custo benefício e eficácia comprovada (MARASSI; MARASSI; COZER, 2008).
Mini-implante: nomenclatura, design e características
Segundo Mah e Bergstrand (2005), o termo mini-implante parece ter se definido recentemente, visto que, no início, era chamado de microimplante, que caiu em desuso porque o termo micro é utilizado quando seu tamanho corresponde ao algarismo 10-6 e só pode ser visualizado com recursos de aumento como o microscópio. Outras denominações em uso são TAD (Temporary Anchorage Device) e MIA (Mini Implant Anchorage) (MAH; BERGSTRAND, 2005).
De acordo com Janson, Sant’Ana e Vasconcelos em 2006, o design do mini-implante possui três componentes: cabeça, colar e rosca (figura 1).
- a) Cabeça:
– é a parte mais importante para o ortodontista, pois fica exposta e é onde se apoia para aplicar a força. Idealmente, deve ser pequena, ter a superfície polida e arredondada, para não ferir o indivíduo, e deve possuir retenções para os acessórios ortodônticos.
- b) Colar:
– pode estar ou não presente no mini-implante e corresponde à superfície lisa logo abaixo da cabeça. Sua função é fazer a interface do osso com o meio externo, ou seja, fica coberto pela mucosa. Por ser liso, permite maior adaptabilidade dos tecidos moles e menos risco de aderência de placa e inflamação da mucosa. O colar pode apresentar variações para se adequar à espessura do tecido mole de determinada área.
- c) Quanto ao tipo de rosca:
– Cônico – é mais espesso, próximo à cabeça e torna-se mais estreito na ponta.
– Cilíndrico – possui o mesmo calibre do começo ao fim, com apenas um afinamento na ponta para permitir a entrada da rosca.
A seleção do local dos mini-implantes deve ser baseada na qualidade e quantidade ósseas disponíveis, bem como na direção da resultante de força obtida, que deve passar pelo centro de resistência do dente a ser intruído (MARASSI; MARASSI, 2006).
Um diagnóstico correto do paciente é fundamental para o sucesso do tratamento, pois o uso indevido dos mini-implantes pode agravar movimentos ortodônticos indesejados ou mesmo levar ao declínio da estética facial em casos mal diagnosticados. Portanto, o planejamento para instalação de mini-implantes deve ser feito após exame clínico, avaliação da documentação ortodôntica completa do paciente e após elaboração do plano de tratamento ortodôntico detalhado (MARASSI; MARASSI; COZER, 2008).
A intrusão de molares é considerada um movimento ortodôntico demasiadamente difícil e complexo de se realizar, usando métodos tradicionais de ancoragem (VILLELA et al., 2004).
A perda precoce dos molares inferiores frequentemente leva à extrusão dos dentes superiores antagonistas, resultando em interferência oclusal, sensibilidade dolorosa, colapso na oclusão e perda de espaço protético. A mecânica ortodôntica com uso de mini-implante (MI) pode ser uma alternativa para restabelecer o espaço protético necessário. Os MI estão indicados para indivíduos: com necessidade de ancoragem máxima; não colaboradores; unidade de ancoragem comprometida, por número reduzido de dentes, reabsorção radicular ou sequelas de doença periodontal; com necessidade de movimentos dentários considerados difíceis ou complexos para os tratamentos convencionais (por ex.: intrusão de molares e casos assimétricos) (MARASSI; MARASSI; COZER, 2008).
A intrusão seria o procedimento menos invasivo em relação à impacção dentária cirúrgica ou à redução oclusal por meio de desgastes, a qual, invariavelmente, apresenta o custo biológico do tratamento endodôntico dos dentes em questão (VALARELLI et al., 2010.)
Radiografias periapicais e interproximais são utilizadas para diagnosticar variações na anatomia radicular e a presença de estruturas anatômicas importantes como o seio maxilar e o nervo mandibular. As radiografias interproximais são mais fidedignas do que as periapicais para avaliar se há espaço interdental suficiente para a inserção do mini-implante entre raízes. Em casos de espaço insuficiente entre as raízes no primeiro sítio de instalação escolhido, o ortodontista pode: optar por outro sítio de instalação; aguardar até o final da fase de alinhamento e nivelamento, quando os espaços entre as raízes normalmente estarão regularizados; fazer um preparo ortodôntico para a instalação dos mini-implantes, utilizando colagens atípicas ou arcos segmentados (MARASSI; MARASSI; COZER, 2008).
Segundo Cesare et al 2007), dentre as vantagens do uso dos mini-implantes, destacam-se: instalação relativamente simples; fácil remoção; boa aceitação por parte do paciente; permite aplicação em diversos sítios, possibilitando inúmeras aplicações clínicas; permite melhorias mais significativas na estética facial; redução do tempo de tratamento; mais discreto e seguro para o paciente quando comparado com aparelhos extrabucais (elimina o risco de dano ocular associado ao uso de aparelhos extrabucais) e apresenta mínima dependência da colaboração do paciente.
Dentre as possíveis intercorrências, o maior risco é o contato do mini-implante com a raiz do dente. Alguns trabalhos indicam que o risco de perda do dente ou mesmo uma reabsorção externa é baixo, levando-se em consideração que uma lesão no ligamento periodontal de até 2mm² é naturalmente reparada. Como os parafusos variam entre 1,2 e 2mm de diâmetro, o risco de lesão permanente é diminuto. Outros problemas que podem ocorrer são a quebra do parafuso dentro do osso ou somente sua cabeça, contato com feixe vásculo-nervoso e inflamação da mucosa Peri-implantar (JASON, SANT’ANNA, VASCONCELOS, 2006).
Para evitar estes contratempos, deve se tomar os seguintes cuidados:
- planejar as posições dos mini-implantes com critério;
- realizar tomadas radiográficas precisas;
- cnfeccionar um guia cirúrgico;
- escolher adequadamente o parafuso;
- aplicar força suave e na direção do longo eixo do parafuso no momento da instalação.
O objetivo do presente trabalho é relatar um caso clínico, no qual foi realizada a intrusão e distalização do dente 16 por meio de dois mini-implantes sem uso de aparelho ortodôntico fixo. Houve restabelecimento do espaço protético adequado para instalação do implante dentário ósseo integrável na região do dente 46.