Resumo
Traumas em dentes decíduos acontecem com frequência na primeira infância e podem ocasionar danos funcionais e estéticos, além de promoverem um grande impacto emocional e psicológico, tanto na criança como nos pais. O atendimento a crianças com traumatismos na dentição decídua requer uma abordagem diferente daquela utilizada na dentição permanente. Isso acontece porque a injúria traumática na dentição decídua, associada à proximidade anatômica com o germe do dente permanente sucessor, determina, frequentemente, alterações nos dentes em desenvolvimento (BEN-BASSAT et al., 1985, 1989; HOLAN et al., 1992; TAHMASSEBI; O´SULLIVAN, 1999). Na literatura, de 30 a 50% das crianças sofrem traumas dentais na dentição primária, e 90% destas injúrias afetam diretamente a maxila, devido à disposição anatômica. Os incisivos centrais superiores são os dentes mais frequentemente envolvidos (KRAMER et al., 2003; CUNHA; PUGLIESI; MELLO VIEIRA, 2001; SENNHENN-KIRCHNER; JACOBS, 2006). Em crianças com menos de 2 anos de idade, que sofreram trauma, 63% dos sucessores permanentes sofreram algum tipo de sequela (ANDREASEN; RAVN, 1971). A frequência reduz para 53%, quando a injúria ocorreu em crianças entre 3 e 4 anos, e em apenas 24% dos casos, em crianças entre 5 e 6 anos. Segundo a literatura, quanto mais jovem a criança, maior será a gravidade da sequela (BRIN et al., 1984; SENNHENN-KIRCHNER; JACOBS, 2006; ANDREASEN; SUNDSTRÖM; RAVN, 1971; RAVN, 1976; SARASWATHI; PRASANTH, 2003). As possíveis repercussões podem ocorrer no momento do traumatismo, por impacto direto da raiz do dente decíduo no germe permanente, ou a médio e longo prazo, como consequência de complicações pós-traumáticas. Essas consequências variam desde hipocalcificação do esmalte até a interrupção do desenvolvimento do germe (ANDREASEN; ANDREASEN, 1994; KRAMER; FELDENS, 2005; WILSON, 1995). A sequela mais frequentemente diagnosticada nos dentes permanentes, após trauma nos decíduos, é a descoloração do esmalte (BEM BASSAT et al., 1985). Pode ser causada mesmo quando a atividade ameloblástica já foi interrompida, visto que a maturação do esmalte continua até o período de erupção. Isso ocorre devido à incorporação de produtos decorrentes da degradação da hemoglobina, originada da hemorragia da área traumatizada. Von Arx (1993) observou essas alterações em crianças que sofreram trauma com idades variando de 1 a 7 anos, aproximadamente, e 25% dos incisivos permanentes, cujos predecessores decíduos não foram afetados diretamente pelo trauma, apresentaram defeitos na mineralização. A proximidade com o sítio do trauma é sugerido pelos autores como a razão para esse fato (BRIN et al., 1984).
Assim, o objetivo deste relato de caso foi descrever uma opção de tratamento para dente decíduo com traumatismo que levou à necrose pulpar.