Resumo
A língua é um órgão localizado na cavidade bucal, que participa ativamente das funções de sucção, deglutição, mastigação e fala (FERRÉS-AMAT et al., 2016). Possui, em sua face inferior, uma pequena prega de membrana mucosa que a conecta ao assoalho da boca e possibilita a movimentação da língua, sendo denominada freio ou frênulo lingual (MARTINELLI MARCHESAN; RODRIGUES et al., 201; MARCHESAN; MARTINELLI; GUSMÃO, 2012; JOSEPH et al., 2016). O frênulo é formado por tecido conjuntivo fibrodenso e, muitas vezes, por fibras superiores do músculo genioglosso (BRITO; MARCHESAN; DE BOSCO et al., 2008).
Durante o desenvolvimento embrionário, caso não ocorra a apoptose completa do frênulo, o tecido residual remanescente pode limitar os movimentos linguais (MARTINELLI MARCHESAN; RODRIGUES et al., 2012; MARTINELLI et al., 2015). Entretanto, durante o crescimento ósseo com o prolongamento lingual e a erupção dentária, o freio lingual deve migrar para a posição central até ocupar a sua posição definitiva com o nascimento dos dentes, caso isto não ocorra, pode levar à anquiloglossia (MELO; LIMA; FERNANDES et al., 2011).
Deste modo, a anquiloglossia é uma anomalia oral congênita, que afeta cerca de 3% das crianças, e pode ocorrer de forma total ou parcial, limitando a mobilidade lingual em diferentes graus e interferindo nas funções orais (MARCHESAN; MARTINELLI; GUSMÃO, 2012; FERRÉS-AMAT et al., 2016; FERRÉS-AMAT et al., 2016). Apresenta diagnóstico clínico-funcional e sua remoção cirúrgica costuma ser indicada, em bebês, quando a inserção do frênulo dificulta a amamentação e, em crianças maiores, quando a falta de mobilidade lingual prejudica a fala e/ou provoca problemas periodontais (BRITO; MARCHESAN; DE BOSCO et al., 2008; MARTINELLI MARCHESAN; RODRIGUES; et.al, 2012; MARTINELLI et al., 2015; FERRÉS-AMAT et al., 2016). Nesses casos, deve ser feita a avaliação anatomofuncional, bem como das funções orofaciais, a fim de verificar se a frenectomia se faz necessária (JOSEPH et al., et al., 2016). Existem na literatura 4 escalas de avaliação do freio lingual: Assessment Tool for Lingual Frenulum (ATLFF), Proposta de Kotlow, Bristol Tongue Assessment Tool (BTAT) e Protocolo de avaliação do freio lingual em bebês.
O Protocolo de Avaliação do Freio Lingual em Bebes (MARTINELLI, 2012) é subdividido em duas partes. A primeira consiste em avaliar a história clínica do paciente, identificando-o e coletando dados sobre antecedentes familiares com alteração no frênulo, saúde geral, intercorrências durante a amamentação, como dor ou ferimento nos mamilos, bem como o tempo entre as mamadas e presença de cansaço ao mamar. A segunda parte corresponde a uma avaliação anatomo-funcional, na qual são observados aspectos gerais do freio lingual, avaliação das funções orofaciais, investigação dos movimentos e da posição da língua na cavidade bucal, além de funções de sucção e deglutição durante a amamentação. Para a avaliação, devem ser marcados os itens que correspondem aos achados anatômicos. Os itens apresentam escores, em escala progressiva, onde zero significa normalidade e um ou dois, significa características de alteração. A somatória da avaliação contribui para um diagnóstico preciso, auxiliando a indicação do procedimento cirúrgico de acordo com os escores obtidos durante a avaliação. Para escores entre zero e quatro, não há alteração; escores iguais a cinco ou seis, deve ser feita uma nova avaliação após 6 meses; e, para valores acima de sete, se faz necessária a liberação do frênulo lingual, por meio da frenectomia (MARTINELLI MARCHESAN; RODRIGUES et al., 2012).
Para crianças entre 4 e 14 anos, Ferrés-Amat e colaboradores propuseram um protocolo que associa a técnica cirúrgica à reabilitação lingual miofuncional, composta por exercícios que devem ser feitos um dia antes do procedimento cirúrgico e 45 dias após a frenectomia, com reavaliações periódicas programadas (FERRÉS-AMAT et al., 2016).
Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo relatar um caso de frenectomia ligual com foco na avaliação realizada pelo protocolo descrito por Martinelli et al. (2012)