Resumo
A ocorrência de perdas precoces de dentes decíduos pode repercutir de diferentes maneiras, incluindo impacto biológico (funcional ou estético) e, até mesmo, impacto em aspectos psicológicos e qualidade de vida da criança (Krisdapong et al., 2013). Em termos funcionais, perder precocemente um dente decíduo pode influenciar fortemente no desenvolvimento da oclusão futura, tendo relação com a fonética e função mastigatória do indivíduo (Goenka et al.,2014). Além disso, a manutenção do comprimento do arco na dentição decídua é importante para o desenvolvimento normal da oclusão na dentição permanente. Assim, a manutenção do espaço do dente perdido, muitas vezes, pode evitar a perda de espaço e/ou prevenir o desenvolvimento de uma maloclusão posterior ou reduzir a sua gravidade (CERNEI et al., 2015).
A busca tardia pelo tratamento pode fazer com que as maloclusões já estejam instaladas quando da procura pela reabilitação estético-funcional. Entre essas alterações, poderíamos destacar falta de espaço para repor o elemento perdido (NORTHWAY, 2012; SIMON et al., 2012) e alteração na posição vertical dos antagonistas. Assim, embora a sequência ideal para o tratamento de um paciente com grandes destruições e perdas precoces seja, primeiramente, realizar a reabilitação para posteriormente iniciar o tratamento das maloclusões, dependendo da ocorrência e do grau das alterações anteriormente mencionadas, o tratamento ortodôntico pode ser essencial para se viabilizar a própria reabilitação e a inversão dessa sequência ideal pode ser requerida. A ortodontia pré-reabilitadora tem sido vista como uma alternativa para favorecer o plano de tratamento naqueles casos em que é bem indicado (PELIZZARI et al., 2012).
Sendo assim, torna-se imprescindível que o profissional detecte a presença de uma perda precoce e escolha a conduta clínica mais adequada a cada caso, proporcionando mais segurança e eficácia no tratamento e reabilitação do paciente. Neste cenário, destacam-se os diversos tipos de aparelhos mantenedores e recuperadores de espaço, com indicação variável de acordo com o elemento perdido, idade da criança e características do arco dentário (SETIA et al., 2013).
Contudo, essa quebra na sequência ideal gera outros tipos de desafios para os clínicos, como por exemplo, falta de estrutura dentária para fixação de aparatos e realização de ancoragem durante a movimentação ortodôntica. Assim, é importante que se opte por certas adaptações no sentido de permitir as correções necessárias para criar condições de se implementar a reabilitação estético-funcional posteriormente.
O seguinte relato enfoca a realização do tratamento ortodôntico modificado, bem como as adaptações realizadas, para possibilitar a reabilitação estética futura em criança com sequelas de perda dentária.