Resumo
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma desordem de desenvolvimento neural marcada de forma generalizada por alterações que afetam a qualidade das interações sociais e padrões de comunicação. Tais características podem se manifestar em diferentes graus de gravidade de comportamento, linguagem e habilidades intelectuais (DOVER; LE COUTEUR, 2007).
Por comprometer a comunicação, estratégias de comunicação são geradas de forma inadequada que podem transformar-se em problemas de comportamento (KAMEN; SKIER, 1985), podendo exibir reações exageradas a estímulos sensoriais, como sons, cores brilhantes e toque (MARSHALL et al., 2008). Além disso, os pacientes com TEA podem ter dificuldade com a invasão do espaço pessoal, com mudanças em seu meio ambiente e sua programação diária (FRIENDLANDER et al., 2006).
Em virtude dos desafios do autismo enfrentados pelo complexo familiar, a saúde bucal nem sempre tem sido prioridade. No entanto, os pais têm a percepção da necessidade de uma boa saúde oral de seus filhos e ao mesmo tempo apresentam receio quanto ao comportamento, pois notam dificuldades exemplificadas por recusa grave ao creme dental, à escovação e à dieta saudável (THOMAS et al., 2018). Este receio é real, pois diante de procedimentos odontológicos, as crianças com TEA apresentam uma colaboração limitada (DAVIT et al., 2011).
Em virtudes disso, a doença cárie tem alta prevalência em indivíduos com TEA (DA SILVA et al., 2017). Isso ocorre devido às dificuldades em realizar a higiene oral pela destreza manual reduzida e/ou pelo não cumprimento da supervisão dos pais durante a higienização (BLOMGVIST; BEJEROT; DAHLLOF, 2015). Também existe a aversão oral ou hipersensibilidade sensorial ao redor da boca, comprometendo mais ainda a saúde bucal (STEIN et al., 2011). Além disso, o uso de medicamentos, para alguns deles, pode levar a uma diminuição do fluxo salivar (RAI; HEGDE; JOSE, 2012).
No TEA, comumente, as técnicas convencionais de condicionamento psicológico ao consultório odontológico podem não ser tão eficazes (MARSHALL et al., 2008). Mas a intervenção comportamental é a abordagem mais bem estabelecida (LEBLANC; GILLIS, 2012).
As estratégias que visam melhorar o atendimento odontológico para pacientes TEA foram adaptadas da psicologia (THOMAS et al., 2018). As consultas devem ser curtas e envolver a quantidade mínima de estimulação sensorial (DELLI et al., 2013).
Similarmente, desde 1999 tem sido estudado o uso de recursos visuais como auxílio no condicionamento psicológico da criança autista ao consultório odontológico (BACKMAN; PILEBRO, 1999). Isto está fundamentado na facilidade de aprendizado quando instrumentos visuais são empregados, pois estes possibilitam uma quantidade reduzida de palavras e transmite uma mensagem constante e estável. Ao mesmo tempo, proporciona a contextualização de imagens, possibilitando a aplicação em situações reais, adaptando e gerenciando o comportamento de crianças com TEA (HARTLEY; ALLEN, 2015). Este tipo de comunicação é denominado por comunicação aumentativa e alternativa (TETZCHNER; MARTINSEN, 2000).
A comunicação aumentativa é definida como uma comunicação complementar ou de apoio. A comunicação alternativa é qualquer forma de comunicação diferente da fala e usada por indivíduos em contextos de comunicação frente a frente. (TETZCHNER; MARTINSEN, 2000). Ambos têm efeitos benéficos na resolução de comportamentos difíceis em indivíduos que não desenvolveram habilidades de comunicação avançada. Também apresentam efeitos positivos quando aplicada a pessoas mais jovens. No entanto, para ser eficaz alguns fatores estão associados, como a frequência de intervenção, ou seja, o número de sessões por semana, e a duração da intervenção, muitas vezes sendo necessário a aplicação por semanas, meses ou anos (WALKER; SNELL, 2013).
O tratamento odontológico a nível ambulatorial para crianças com TEA é viável, desde que o profissional esteja capacitado para a aplicação da técnica de comunicação aumentativa e alternativa, obtendo bons resultados na comunicação criança- profissional. No entanto, as experiências traumáticas anteriores podem interferir na resposta favorável da comunicação aumentativa e alternativa. Os pacientes sem experiência odontológica anterior necessitam de menor número de sessões (ZINK et al., 2016).
O objetivo deste capítulo foi apresentar um caso clínico no qual a abordagem psicológica de condicionamento utilizada para a dessensibilização de uma criança com TEA ao consultório odontológico, para consulta preventiva, foi a comunicação aumentativa e alternativa.