Resumo
Segundo Carranza e Newman (1997), existe entre a dentina e a primeira camada de cemento uma fina camada de cemento afibrilar, amorfo ou intermediário, na qual estão presentes amelogeninas. Estas são proteínas da matriz do esmalte de origem ectodérmica, em contraposição aos demais tecidos periodontais, os quais possuem origem mesenquimal. Esta camada de cemento amorfo pode estar contida em dentes com remanescentes celulares da bainha epitelial de Hertwig, aprisionados numa substância fundamental amorfa e calcificada. Já que, a perda da porção cervical do epitélio reduzido do órgão do esmalte, no momento da erupção do dente, pode colocar em contato porções de esmalte maduro com o tecido conjuntivo. Este, por sua vez, depositará este cemento acelular e afibrilar, contendo somente substância fundamental mineralizada.
A amelogenina é uma proteína responsável pela adesão entre as células e possui afinidade por hidroxiapatita (HOANG et al., 2002).
Para investigar os efeitos da amelogenina na proliferação, adesão e migração das células que compõe o periodonto, Li et al. (2010) isolaram moléculas de amelogenina recombinante (rPAm) de porcos e investigaram sua ação nos fibroblastos do ligamento periodontal (FLP), fibroblastos gengivais (FGs) e células epiteliais gengivais. Foi constatado que a rPAm promoveu a proliferação e migração dos FLPs, porém não a adesão. A proliferação e adesão dos FGs foram aumentadas, porém não a migração. Um achado interessante no estudo foi a inibição da proliferação, migração e adesão das células epiteliais, indicando que a amelogenina apresenta uma influência importante na regeneração periodontal.
Durante o desenvolvimento dos dentes, a
amelogenina e outros componentes da matriz dentinária (enamelina, ameloblastina) são depositadas por ameloblastos secretores de esmalte de uma maneira altamente estruturada de modo a formar prismas que são completamente mineralizados durante a maturação, com a degradação de componentes proteicos e deposição de minerais de hidroxiapatita. O esmalte é composto por aproximadamente 96% de minerais, 3% de água, e 1% de material orgânico. A maior parte do material orgânico está localizado no interior do esmalte, onde forma estruturas muito características chamadas tufos de esmalte devido à sua aparência na junção amelo-dentinária (DUVERGER et al., 2014).
O epitélio juncional é uma estrutura especializada que veda a superfície do dente na cavidade bucal. A perda da sua integridade é um dos primeiros processos que ocorre durante o desenvolvimento da doença periodontal, podendo levar à perda óssea e dentária. Estudos com imunolocalizadores demonstram que amelotina está presente tanto na lâmina basal, na interface com a superfície do esmalte, como no epitélio juncional. Uma vez que, o epitélio juncional é uma estrutura que está firmemente aderida à superfície dentária, especula-se que, a amelotina tenha alguma participação no processo de adesão celular (BIDAULT et al., 2007).
No mercado são lançados frequentemente novos produtos que prometem restabelecer os tecidos periodontais de suporte. Um destes produtos é o Emdogain®, uma proteína derivada da matriz orgânica do esmalte. Este material é composto principalmente por amelogenina, extraída de germes dentais de suínos durante o processo de odontogênese. A amelogenina tem importante papel coadjuvante no desenvolvimento do cemento acelular, ligamento periodontal e osso alveolar (SCULEAN et al., 1999).
Um estudo feito por Pontoriero et al. (1999), analisou o uso de membranas juntamente com a MDE. Foram avaliados 40 pacientes que possuíam perda de inserção periodontal e presença de dois defeitos ósseos contralaterais. Os pacientes foram divididos em quatro grupos com 10 pacientes, sendo que, três grupos receberam tratamento com membranas (Guidor®, Resolut® e e-PTFE) e um grupo foi tratado com Emdogain®. Os tratamentos de controle foram tratados com cirurgia periodontal, sem a colocação de membrana e com a aplicação de um gel placebo (propilenoglicol). Os resultados demonstraram que, após doze meses, ocorreu uma redução na profundidade de sondagem e na perda de inserção clínica nos grupos tratados com regeneração tecidual guiada e com Emdogain®, mostrando-se superiores em relação ao controle.
Recentemente, a amelogenina foi introduzida na pratica clínica como terapêutica de regeneração periodontal. Na verdade, trata-se de um extrato purificado de proteínas derivadas da matriz do esmalte – Emdogain ® (EMD; Biora AB, Malmo- Sweden) o qual a amelogenina é o principal componente. O EMD favorece a cementogênese e a formação de osso alveolar. As experiências in vitro mostraram também que EMD induz a síntese de proteínas e a formação de nódulos mineralizados pelas células do ligamento periodontal humano (JEGAT, 2003).
Modica et al. (2000) avaliaram a influência
do Emdogain® no procedimento de recobrimento radicular em 12 pacientes portadores de 40 pares de retrações gengivais classe I e II de Miller (bilaterais e comparáveis). Em cada um dos pacientes, um local foi designado aleatoriamente para o grupo teste com retalho posicionado coronariamente associado ao Emdogain® e outro grupo controle (apenas retalho posicionado coronariamente). Foram avaliados a retração gengival, o nível clínico de inserção, profundidade de sondagem e a faixa de gengiva queratinizada, previamente ao experimento e seis meses pós-operatórios. A média inicial de retração gengiva era de 3.71 ± 1.68 mm para o grupo teste e 3.50 ± 1.56 mm para o grupo controle. A média de recobrimento radicular foi de 3.36 ± 1.55 mm, correspondendo a 91,2%, para o grupo teste, e de 2.71 ± 1.20 mm correspondendo a 80,9% no grupo controle. Não foram verificadas alterações na profundidade de sondagem e faixa de gengiva queratinizada. Os resultados sugerem que a utilização do Emdogain® não promove melhora estatisticamente significante nos parâmetros clínicos, quando associado à técnica de reposicionamento coronário do retalho.
O presente trabalho tem como objetivo fazer um relato de um caso clínico sobre o uso na amelogenina na periodontia.