Resumo
No tratamento endodôntico, foi Schilder (1974) a preconizar a técnica de instrumentação por meio do conceito “cleaning and shaping”, que é a limpeza e modelagem do canal radicular. Este procedimento, para que se obtenha sucesso, faz-se necessário que o profissional conheça a anatomia interna dos canais radiculares, de seus aspectos normais e, principalmente, de suas variações. Estes fatores norteiam a abertura coronária, a localização dos canais e o correto preparo químico-mecânico (SCHILDER, 1974).
As variações morfológicas levam ao emprego da expressão sistema de canais radiculares (SCR), e em razão deste encontrar-se em comunicação direta com os tecidos perirradiculares por meio de ramificações apicais, canais colaterais, acessórios e deltas apicais. A falta de conhecimento da diversidade anatômica é uma das principais causas de insucesso do tratamento endodôntico (KEREKES; TRONSTAD, 1977; WEINE; KELLY; LIO, 1975).
Os molares inferiores permanentes são elementos dentais que mais frequentemente requerem terapia endodôntica na prática odontológica (HULL et al., 2003). As raízes mesiais destes elementos apresentam normalmente dois canais (mesiovestibular e mesiolingual), podendo haver variações de um a três canais. A raiz distal tem normalmente um canal, não sendo incomum a presença de dois canais. Outra complexidade desses dentes é a projeção cervical de dentina na parede proximal nas raízes mesiais que aumenta com o tempo pela deposição de dentina secundária. Tal estrutura leva à redução mesiodistal da câmara pulpar, dificultando a localização da entrada dos canais (LINDEN et al., 2013).
Historicamente foram Barker Lockett e Parsons (1969) e Vertucci e Williams (1974) os primeiros pesquisadores que demonstraram a presença de um canal extra e independente na raiz mesial dos molares inferiores. A partir desse momento, outros pesquisadores também começaram a relatar canais médios na raiz mesial dos molares inferiores. Tahmasb et al. (2017) demonstraram que o canal médio mesial está presente em 26% dos primeiros molares inferiores e 8% dos segundos molares inferiores. Embora esse canal médio tenha sido chamado de canal intermediário (FABRA-CAMPOS, 1989), canal mésio central (NAVARRO et al, 2007), terceiro canal mesial, (HOLTZMANN, 1997), canal mesial acessório (KARAPINAR-KAZANDAG; BASRANI; FRIEDMAN, 2010) e canal mesial médio (NOSRAT et al., 2015).
Foram Pomeranz, Eidelman e Goldberg (1981) e Azim, Deutsch e Solomon (2015) os primeiros que descreveram utilizando o termo Canal Médio Mesial (CMM), e este tem por caraterística ser o termo mais comumente utilizado. Portanto, o objetivo deste trabalho é relatar um caso clínico, de tratamento endodôntico de um primeiro molar inferior esquerdo, com a presença de 3 canais mesiais, no qual todos foram localizados e tratados com o intuito de obter, assim uma maior limpeza e desinfecção de todo o SCR, sua complexa anatomia e consequentemente, obter um melhor prognóstico para o caso apresentado.