Resumo
Os dentes supranumerários são alterações do desenvolvimento classificadas como uma desordem numérica, que podem ocorrer nos maxilares, sendo mais frequente na maxila, em especial na região anterior. A etiologia dos dentes supranumerários é considerada uma desordem odontogênica podendo ser intraósseo ou erupcionado (NAGAVENI; SHASHIKIRAN; REDDY, 2009).
A hipótese etiológica para o aparecimento de dentes supranumerários é variada, entre elas uma sugere que pode ser o resultado da duplicação da lâmina dental, outra que pode surgir de uma dicotomia do broto dentário ou estar associada a uma influência genética, principalmente quando se refere ao mesiodens, que são os dentes supranumerários que ocorrem na linha média superior entre os incisivos centrais (CHIMAL; BERMEO; CARRILLO, 2011).
A formação do dente é o resultado de uma série de interações entre o epitélio e a ectomesênquima derivada da crista neural da maxila e mandíbula. Avanços notáveis nos mecanismos genéticos melhoraram a compreensão da formação e desenvolvimento dos dentes supranumerários. O início dos germes dentais tem um efeito decisivo no número de dentes, e as células do órgão do esmalte, que se formam no centro do germe dentário no início do estágio de capuz, produzirão várias moléculas sinalizadoras para controlar o desenvolvimento dos germes dentários, incluindo proteína morfogenética óssea, fator de crescimento de fibroblastos e fator de necrose tumoral. A expressão estável e precisa das moléculas de sinalização é a base do desenvolvimento dos dentes, e a regulação positiva ou negativa de qualquer uma dessas moléculas leva a anomalias dentárias e de dentição (LU et al., 2017).
De acordo com a morfologia, os dentes supranumerários podem ser suplementares (duplicam a anatomia dos dentes) ou rudimentares (dismórficos, tuberculares ou conoides). Podendo estar associados ou não à alguma síndrome. Aqueles associados a síndromes têm sido relatados com síndrome de Gardner, displasia Cleidocranial, síndrome de Fabry-Anderson, síndrome de Ehler Danlos, doença de Crouzon, síndrome de Hallermann-Streiff, síndrome de Down, displasia ectodérmica (SAWAI; FAISAL; MANSOOB, 2019).
A prevalência de dentes supranumerários é de 0,5 a 3,7% na dentição permanente e 0,3% a 0,6% na dentição decídua, (MEIGHANI; PAKDAMAN, 2010), ocorrendo com maior frequência no gênero masculino, na proporção de 2 para 1 (MOURA et al., 2013).
O diagnóstico do dente supranumerário é simples, normalmente verificado em um exame radiográfico solicitado para outras finalidades. A radiografia periapical e panorâmica exercem um papel fundamental no diagnóstico dessa anomalia quando o dente supranumerário encontra-se intraósseo. No entanto, em alguns casos são necessários exames mais complexos como técnica de Clarck, Tomografia Computadorizada Cone Beam, Radiografia Oclusal e Lateral de crânio (RIBEIRO, 2011).
A radiografia panorâmica é o meio complementar de diagnóstico imprescindível pela visão global das estruturas maxilomandibulares que oferece e que, muitas vezes, evidencia as características patológicas não detectadas por outros meios (GUEDES PINTO, 2010), (BELLUZO, 2007).
A tomografia computadorizada proveu à Odontologia a reprodução da imagem tridimensional dos tecidos mineralizados maxilofaciais, com mínima distorção e dose de radiação significantemente reduzida (VALENTE et al., 2016).
O dente supranumerário pode estar associado a apinhamentos, má posição dentária, reabsorção de dentes adjacentes, formação de cistos dentígeros, impactação do permanente, diastemas e erupção ectópica (MOREIRA, et al., 1998).
Para uma abordagem terapêutica de supranumerário é necessária a avaliação de vários fatores como a idade do paciente, as complicações causadas pela presença destes dentes e a possibilidade de posicionamento funcional desses elementos no arco dental (ATA-ALI; ATA-ALI, 2014).
O tratamento pode ser realizado por diferentes técnicas. Tendo em vista as complicações relacionadas com a presença do supranumerário, geralmente a remoção cirúrgica é indicada, entretanto o momento adequado para a intervenção cirúrgica é controverso (SOLARES, 1990).