Resumo
A Odontopediatria é uma especialidade da odontologia que ainda é um verdadeiro desafio para o profissional, principalmente quando o assunto são pacientes com alguma necessidade especial, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA) (PAGNONCELLI, 2015).
O comportamento do paciente, a imaturidade, os medos e fobias são incrementos complicadores do tratamento.
A literatura descreve várias técnicas não farmacológicas de manejo comportamental em odontopediatria e PNE que são utilizadas a fim de gerar segurança e tranquilidade durante o atendimento (SILVA et al., 2016).
As técnicas mais utilizadas para condicionamento do paciente pediátrico são: comunicação verbal, comunicação não verbal, falar-mostrar-fazer, controle de voz, reforço positivo, modelagem e distração, contenção física, musicoterapia, entre outros. E mesmo com tantas técnicas, parece que o manejo na Odontopediatria se restringe a comportamentos colaboradores (SILVA et al., 2016).
O autismo é um transtorno caracterizado pelo desenvolvimento acentuadamente anormal e prejudicado nas interações sociais, nas modalidades de comunicação e no comportamento.
Do ponto de vista analítico-comportamental, o autismo é uma síndrome de deficit e excessos que podem ter uma base neurológica, mas que está, todavia, sujeita a mudança, a partir de interações construtivas, cuidadosamente organizadas com o ambiente físico e social e mesmo comportamentos considerados desajustados, como os apresentados por indivíduos autistas, são provocados por eventos específicos e são mantidos por suas consequências (GREEN, 2001).
O medo causado por traumas e experiências ruins anteriores, contenção física, a dificuldade em expressar e estabelecer relação social e muitas vezes não verbais com o profissional, faz com que o tratamento odontológico desse paciente com TEA, se torne um grande pesadelo; podendo levar inclusive à desorganização do cérebro e desconstrução dos avanços alcançados ao curso das terapias (SIMÕES, 2011).
A dificuldade do Autista em dividir sua atenção frente a estímulos, faz com que ele perceba o mundo como uma sobrecarga de informações, e mudanças bruscas de percurso, se não bem manejadas, podem causar momentos de desorganização interna, gerando comportamentos inadequados (BOSA, 2001).
A sedação consciente em odontologia é uma grande aliada e facilitadora no manejo dos pacientes odontopediátricos; principalmente nos autistas, pois por meio dela podemos intervir com total segurança e ausência de traumas para o paciente (MALAMED, 2012).
Muitas são as vantagens no uso do óxido nitroso como auxiliar em qualquer tratamento odontológico, são eles (MALAMED, 2012):
- Técnica muito segura e fácil;
- Muito usada como primeira escolha em sedações leves e moderadas;
- Início rápido e facilmente reversível;
- Curta duração;
- Necessário apenas monitoramento clínico;
- Rápido relaxamento do paciente;
- Controle comportamental do paciente;
- Liberação rápida do organismo após término;
- Não precisa de jejum;
- Amnésia temporária durante o procedimento, o que descarta qualquer possibilidade de lembranças traumáticas.
Algumas desvantagens também são encontradas (BRUNICK, 2008):
- Uso de máscara nasal;
- Necessário curso de habilitação com certificação pelo CFO;
- Compra do equipamento de sedação, cilindros, recarga dos gases, oxímetro de pulso/mesa, equipamentos de SBV.
O uso da máscara nasal pelo paciente, seja ele colaborador ou não colaborador, depende em grande parte da prática, experiência e manejo do cirurgião-dentista, sendo sucesso na maioria dos casos, se feita corretamente.
Convém ressaltar, que a sedação com óxido nitroso é regulamentada pela Lei nº 5.081/66. A lei em seu art. 6º, incisos V e VI, diz que “compete ao CD aplicar anestesia local e troncular e analgesia e hipnose, desde que comprovadamente habilitado, quando constituírem meios eficazes para o tratamento.
Mesmo contribuindo muito nesses aspectos, a sedação deve ser indicada somente se necessário e realizada por profissional devidamente habilitado, não devendo ser usada indiscriminadamente, pois o objetivo do seu uso é o condicionamento e estabelecimento gradativo da confiança entre paciente e cirurgião-dentista (FERRARI, 2005).
O uso da sedação consciente com o gás óxido nitroso e oxigênio e, principalmente, a sedação associada oral, ajudam no controle desse comportamento em todos os tipos de pacientes, possibilitando o controle eficaz de salivação, redução das memórias do tratamento, abolindo assim qualquer possibilidade de traumas, além da redução do uso de anestésicos locais, um dos maiores causadores de óbitos na odontologia, por uso indiscriminado (MALAMED, 2012).
Esse trabalho tem por objetivo demonstrar que o tratamento odontológico de paciente com TEA, usando a sedação consciente com óxido nitroso e oxigênio, é um grande aliado no controle comportamental.