Resumo
A disfunção temporomandibular (DTM), segundo a Academia Americana de Dor Orofacial, é um conjunto de distúrbios que envolvem os músculos mastigatórios, a articulação temporomandibular (ATM) e estruturas associadas. Essas disfunções são caracterizadas principalmente por dor, sons na articulação e função irregular ou limitada da mandíbula. Sua etiologia multifatorial vem acompanhada de sinais e sintomas que devem ser pesquisados criteriosamente com o objetivo de obter um preciso diagnóstico e um plano de tratamento mais adequado para cada situação (CARLSSON; MAGNUSSON; GUIMARÃES, 2006; DE LEEUW, 2010).
Dentro desse contexto, a dor miofascial é uma das principais causas de dor de origem não dental na região orofacial, atingindo aproximadamente 30% dos pacientes que procuram tratamento para DTM (FERNANDEZ-CARNERO et al., 2010; GUIMARÃES, 2012).
Alguns estudos têm demonstrado uma alta prevalência de automedicação em pacientes com DTM, e esse hábito tem sido apontado por especialistas como extremamente frequente e prejudicial, sendo destacado o consumo excessivo de analgésicos e a influência dessa prática no agravamento e até mesmo na cronificação do quadro (PASTORE et al., 2018; DIAS et al., 2019). Dias et al. (2017) ainda relataram que a automedicação em pacientes com DTM é comum, e isso pode ser explicado pela ocorrência de dor constante durante a execução de funções essenciais como mastigação, fala e deglutição, causando uma queda na qualidade de vida dos pacientes com esse transtorno. Adicionalmente, o uso excessivo de medicamentos pode favorecer o desenvolvimento de dependência, contribuir para o aparecimento da dor crônica e causar efeitos colaterais como hipersensibilidade e náuseas (NEVES et al., 2019).
Segundo Weiss et al. (2014), vários fatores podem estar associados à alteração da percepção e do limiar de dor em quadros de dores crônicas, sendo um deles a automedicação. Além disso, autores como Sansone, Watts e Wiederman (2014) relacionaram o uso da automedicação com o risco de “catastrofização da dor”, que consiste em uma má adaptação psicológica à dor, e pode levar a pessoa a uma experiência de dor intensificada com uma maior incapacidade funcional e uma dificuldade de desconectar-se da sensação dolorosa (LIN et al., 2013; NEVES et al., 2019).
Embora a questão da automedicação seja de extrema relevância, ainda são escassos os estudos que avaliaram a influência do tratamento conservador de DTMs na interrupção da prática da automedicação, o que direcionou a realização deste capítulo. O presente trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade São Leopoldo Mandic (Parecer: 3.405.940).