Resumo
A Odontologia, como toda ciência, enfrenta desafios diários a cada intervenção. A cirurgia, muitas vezes, se depara com fenômenos complexos da reparação tecidual. Na procura de acelerar estes fenômenos, novos aditivos bioativos são pesquisados para que auxiliem a regulação da inflamação, aumentem a velocidade do processo da hemostase e promovam a cicatrização, o que é uma questão recorrente em todas as áreas cirúrgicas.
Ross et al. (1974) foram os primeiros a descreverem os fatores de crescimento contido nas plaquetas, que isoladas do sangue periférico, formam uma fonte autóloga de fatores de crescimento que estão contidos nos grânulos alfa das plaquetas (CHATTERJEE; AGARWAL; SUBBAIAH, 2014), tendo a capacidade de estimular a proliferação celular, a remodelação da matriz óssea e a angiogênese (SOOD et al., 2012). As plaquetas são os principais elementos responsáveis pelo processo de cicatrização, através da coagulação, e pela liberação de fatores de crescimento que iniciam e sustentam tal fenômeno (MAZOR et al., 2009; WU et al., 2012).
Este fenômeno tecidual é mediado por uma grande variedade de eventos intra e extra-celulares sendo regulados por proteínas de sinalização e por um processo complexo que depende de uma sequência de eventos. São mitogênicos (proliferativos), quimiotáticos, estimulam a migração dirigida de células e induzem a angiogênese, estimulando a formação de novos vasos sanguíneos (CHOUKROUN et al., 2006).
O plasma rico em fibrina e plaquetas, PRF, pertencente à segunda geração de concentrados plaquetários, foi desenvolvido por CHOUKROUN et al. (2006), com um processamento simplificado, barato e sem manipulação bioquímica do sangue (PANDA et al., 2014). Trata-se de uma técnica em que é necessária somente a centrifugação do sangue do paciente, sem a adição de aditivos (DEL CORSO; TOFFLER; EHRENFEST, 2010), produzindo um coágulo de plaqueta rica em fibrina por um processo de polimerização natural durante a centrifugação, sendo sua arquitetura tridimensional de fibrina responsável pela liberação lenta de fatores de crescimento e glicoproteínas da matriz, por um período de aproximadamente sete dias (EHRENFEST et al., 2010).
O PRF tem a capacidade de regular a inflamação e de estimular o processo imunológico da quimiotaxia (TATULLO et al., 2012) e como é um produto autólogo (EHRENFEST, 2010), elimina qualquer risco de transmissão de doenças (TATULLO et al., 2012). Este material tem a função de proteger os locais cirúrgicos e os biomateriais eventualmente implantados (CHATTERJEE; AGARWAL; SUBBAIAH, 2014), parecendo acelerar a cicatrização, além de que, quando associado a material de enxertia, tende acelerar a formação de novo osso (CHOUKROUN et al., 2006; TATULLO et al., 2012)
Estruturalmente, após a centrifugação do sangue, obtém-se uma matriz firme de fibrina com uma arquitetura tridimensional complexa, onde se encontram a maioria das plaquetas e leucócitos (SOOD, 2012), nos quais as citocinas são de extrema importância, sendo esta matriz de fibrina constituinte dos elementos responsáveis pelo potencial terapêutico (DEL CORSO; TOFFLER; EHRENFEST, 2010).
A atividade biológica da fibrina é suficiente para explicar a capacidade cicatricial deste concentrado e o modo de polimerização lenta confere às membranas deste material uma arquitetura fisiológica, particularmente favorável, que sustenta o processo cicatricial (DOHAN, et al. 2006 & SARAVANAKUMAR, 2014). As plaquetas têm um papel fundamental na hemostase e são uma fonte natural de fatores de crescimento (SOOD et al., 2012; SUNITHA; MUNIRATHNAM, 2008). Estes fatores de crescimento são libertados pela ativação das plaquetas por estímulos ou substâncias como: trombina, cloreto de cálcio, colágeno ou adenosina 5c-difostafo (SOOD et al., 2012).
O início da cura de qualquer ferimento é realizado pela formação de coágulos e inflamação, seguido por uma fase proliferativa, que compreende de epitelização, angiogênese, formação de tecido de granulação, deposição de colágeno e, finalmente, maturação do colágeno e contração (AGRAWAL; AGRAWAL, 2014).
O uso de aditivos cirúrgicos, que promovem a aceleração da cicatrização de feridas, fundamenta-se em estudos que relatam a liberação de fatores de crescimento de vários tipos por grânulos secretórios de plaquetas especializados (VENDRAMIN et al., 2006).
Na Implantodontia, a utilização deste biomaterial tem como proposito gerar osso suficiente para instalação de implantes. Novas formas terapêuticas podem ser desenvolvidas com a adição de PRF aos materiais de enxerto (SIMONPIERI et al., 2009).