Resumo
A mordida aberta anterior (MAA) pode ser definida como uma maloclusão no sentido vertical, onde as bordas dos incisivos apresentam uma dimensão vertical negativa. Sua etiologia pode estar relacionada ao resultado da interação de fatores persistentes diversos como hábitos bucais deletérios persistentes, deglutição atípica, interposição lingual, pacientes respiradores bucais (ALMEIDA et al., 1998; PROFFIT; FIELDS; SARVER, 2007).
É comum entre os ortodontistas a concepção da dificuldade de tratamento de um paciente com mordida aberta anterior, sendo desafiador tanto seu tratamento quanto a estabilidade do caso a longo prazo (SMITHPETER; COVELL, 2010).
A MAA está relacionada a uma série de causas, dentre elas o padrão de crescimento facial desfavorável, obstruções na região nasofaríngea e posição lingual inadequada. Intervenções ortopédicas durante o período de dentição mista apontam para uma melhora nos resultados finais do tratamento (DEGUCHI et al., 2011).
A etiologia da MAA, em sua maioria, está relacionada com a existência de disfunções secundárias que permanecem após a remoção dos hábitos deletérios, como a posição inadequada da língua em repouso. Relata ainda, que os dentes e ossos da face apresentam-se em equilíbrio em relação a forças musculares antagonistas; lábios e língua em repouso geram um equilíbrio que determinam as posições dentárias. A pressão atípica da língua contra os dentes, de forma contínua e prolongada, gera movimentações dentárias, justificando a instalação do MAA (ARTESE et al., 2011).
Quando já instalada, a MAA é corrigida tipicamente por meio de extrusão dos dentes anteriores ou, quando necessita de melhora do aspecto estético facial, de abordagem cirúrgica ortognática, por meio da impacção da região posterior da maxila associado ao tratamento ortodôntico. Quando não for possível extruir os dentes anteriores ou quando há excesso de exposição de gengiva, a intrusão de molares é indicada. Com o advento da ancoragem absoluta com mini-implantes ortodônticos, tornou-se possível a correção da mordida aberta anterior de uma forma menos invasiva, por intermédio da intrusão de molares posteriores, no entanto, sem a necessidade de aparelhos extrabucais, e por meio de uma abordagem não cirúrgica atingir resultados desejáveis sem efeitos colaterais (BAEK et al., 2010).
Segundo Reynders, Ronchi e Bipat (2009), com a utilização dos mini-implantes, os ortodontistas ganharam uma nova perspectiva diante dos planejamentos ortodônticos, incorporando-os a uma série de situações clínicas. Dentre suas vantagens, estão o seu tamanho reduzido, relativa simplicidade do procedimento cirúrgico, o que gera aumento do conforto do paciente, a possibilidade da carga imediata, além do baixo custo associado à sua utilização. Desta forma, os dispositivos de ancoragem temporária tornam os tratamentos comuns mais fáceis de se tratar, e os casos complexos mais viáveis com a utilização de um recurso de ancoragem factível (GRABER; VARNASDALL; VIG, 2012). Atualmente, o uso de miniplacas e mini-implantes tem sido amplamente utilizado na ortodontia. Na correção da MAA, são utilizados como ancoragem absoluta na intrusão de molares, corrigindo as más posições dentárias e evitando cirurgias ortognáticas em casos de menor severidade (MAIA et al., 2010).
Scheffler, Profitt e Phillips (2014) destacam a importância do advento dos mini-implantes no cenário da ortodontia, criando novas possibilidades de correção da MAA por meio da intrusão de molares. A proposta do seu estudo foi documentar a quantidade de intrusão dos molares, de diminuição da MAA e da altura facial anterior alcançadas a partir dos dados coletados de 33 pacientes tratados com intrusão de molares ancorados em mini-implantes ortodônticos. Eles concluíram que a intrusão de molares pode reduzir de 5 a 6 mm da MAA.
Kuroda, Katayama e Takano-Yamamoto (2005) apresentam em seu artigo a correção de um paciente com MAA severa esquelética com uso de mini-implantes ortodônticos como dispositivo de ancoragem absoluta. O objetivo do tratamento sugerido foi diminuir a mordida aberta anterior por meio da intrusão de molares mandibulares que se encontravam extraídos na expectativa de alcançar uma rotação anti-horária da mandíbula após a intrusão dos molares. Após o tratamento notou-se uma importante redução da MAA, melhora das proporções faciais por conta da diminuição da altura facial anterior e rotação anti-horária da mandíbula, indicando ser esta mecânica funcional e satisfatória tanto para a função, como para a estética facial.
Quanto ao sítio de escolha para a instalação dos mini-implantes, a região extra-alveolar oferece algumas vantagens, como simplicidade cirúrgica, relativo baixo custo, além de possibilitar maior versatilidade de movimentos, por se localizar fora da região alveolar evitando o contato indesejado com as raízes dentárias (WU et al., 2017).