Resumo
Dentes natais consistem em uma anomalia de erupção rara, de etiologia incerta, caracterizada pela presença de dentes ao nascimento. A prevalência de dentes natais e neonatais, que são os que realizam a erupção no primeiro mês de vida, varia amplamente de 1:1000 a 1:30000 nascidos vivos (WANG; LIN; LIN, 2017). Os dentes natais são 3 vezes mais comuns que os neonatais e a região dos incisivos inferiores é o local de ocorrência mais frequente dessa anomalia. Não há diferença na prevalência entre os sexos, apesar de alguns autores relatarem uma predileção pelo feminino (MHASKE et al., 2013, SAMUEL et al., 2018).
Esses dentes são, na maioria das vezes, dentes decíduos com erupção precoce. A incidência de dentes supranumerários está entre 1 a 10%. O correto diagnóstico dessa anomalia é muito importante para determinar se o dente faz parte da dentição decídua normal ou é um supranumerário e assim desenvolver o plano de tratamento adequado para cada condição (MALKI; AL-BADAWI; DAHLAN, 2015).
A principal complicação associada aos dentes natais e neonatais é a ulceração traumática na superfície ventral da língua, denominada doença de Riga-Fede, devido às bordas incisais cortantes que esses dentes apresentam. Essa lesão pode resultar em uma inadequada sucção do leite, contribuindo para o risco de deficiências nutricionais. A possibilidade de deglutição e aspiração devido à fraca implantação óssea que favorece a grande mobilidade também causam preocupação nos pais e nos odontopediatras. Além disso, outras complicações como injúrias no seio da mãe, dificuldade de amamentação, lesões cariosas, pólipos pulpares e erupção precoce do dente sucessor também estão associadas à presença de dentes natais e neonatais (MHASKE et al., 2013, NOGUEIRA et al., 2014, DINIZ et al., 2018).
A abordagem terapêutica depende da dentição à qual pertence o dente e as possíveis complicações associadas que podem causar problemas à saúde da mãe e do bebê (DINIZ et al., 2018). Quando o dente está com muita mobilidade, a extração é indicada devido ao risco de esfoliação e aspiração ou deglutição. Se o dente fizer parte da dentição normal, a primeira opção de tratamento é mantê-lo no arco, a não ser que esteja interferindo no aleitamento, apresentando grande mobilidade ou causando injúrias traumáticas para a mãe ou a criança (MALKI; AL-BADAWI; DAHLAN, 2015).
O pediatra é o primeiro profissional da saúde a estabelecer um contato com a criança e possui um papel importante no encaminhamento desses pacientes para o odontopediatra. Essa interação entre esses profissionais permite um diagnóstico precoce e uma abordagem integral da criança (DINIZ et al., 2018).