Resumo
A fenda labiopalatina (FLP) é uma malformação congênita, resultante da falha na fusão embrionária entre os processos maxilares e nasais mediais. Esta falha, que pode ser unilateral ou bilateral, gera uma fenda que ultrapassa o lábio, processo alveolar e palato, envolvendo o forâmen incisivo (WANG et al., 2014; OLASOJI et al., 2005).
A prevalência mundial de fenda FLP varia entre 1 e 2 a cada 1.000 nascidos. Em concordância, no Brasil, a cada 650 nascimentos há um portador de fenda de lábio e/ou palato variando de acordo com aspectos étnicos (FREITAS et al., 2012; PARANAÍBA et al., 2011; GARIB et al., 2010).
No período pré-natal, há alto nível de estrogênio no feto que facilitará a passagem pelo canal do parto por relaxar os ligamentos e proporcionar maior plasticidade das cartilagens, pelo aumento do ácido hialurônico. Logo após o parto, os níveis de estrogênios circulantes passados da mãe para feto diminuem levando ao enrijecimento das cartilagens. A correção não cirúrgica das deformidades das cartilagens tem melhor resultado quando são realizadas nos três primeiros meses de vida, segundo os trabalhos de remodelagem da cartilagem auricular nos estudos de Matsuo (MATSUO et al., 1984, 1988 e 1989).
As fendas podem ser diagnosticadas precocemente durante o pré-natal por meio do ultrassom normal, a partir da 26ª semana de gestação. Ao redor da 15ª semana é possível visualizar o nariz e o palato. A ultrassonografia morfológica em 3D revela nitidamente a deformidade, principalmente quando ocorre no palato. O diagnóstico preciso depende de uma topografia da face em múltiplos planos, experiência na técnica e observação no grau de ondulação da língua (DOUGLAS, 2012).
No entanto, Amstalden-Mendes et al. (2011) apresenta dados de que na maioria dos casos (75,3%) a fissura é diagnosticada apenas após o parto, na maternidade, enquanto que em apenas 14% o diagnóstico é realizado durante o pré-natal e, nestes casos, parece existir uma relação com maior renda financeira. Em 10,2% o diagnóstico só é realizado após a alta da maternidade.
Para o tratamento de portadores de FLP, torna-se necessária a atuação de uma equipe multidisciplinar formada por médicos pediatras e cirurgiões plásticos, cirurgiões-dentistas, psicólogos, fonoaudiólogos, nutricionistas e enfermeiros que junto aos pais trabalharão para atenuar as sequelas morfológicas, funcionais e psicológicas proporcionando uma melhor qualidade de vida à criança fissurada (MOURA et al., 2012).
De acordo com o Protocolo do Grupo de Cirurgia Craniofacial da Disciplina de Cirurgia Plástica e Queimaduras do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – HCFMUSP para tratamento dos pacientes de fissuras labiopalatinas, aos 3 meses de vida, é realizada queiloplastia, e aos 12 meses, a palatoplastia (CARVALHO et al., 2004).
O reparo da fissura labiopalatal continua sendo uma tarefa desafiadora para os cirurgiões plásticos (BARRY et al., 2005). A ortopedia pré-cirúrgica com modelagem nasal é uma alternativa quando o tratamento é instituído nos primeiros três meses de vida.
O objetivo desse trabalho é relatar por meio de um caso clínico o tratamento pré-cirúrgico neonatal com a técnica de Ortopedia pré-cirúrgica utilizando modelador nasal e placa expansora, evidenciando que o diferencial dessa técnica é a confecção da placa sem necessitar de moldagem, assim como a fundamental atuação do cirurgião-dentista nesse tipo de tratamento da fenda labiopalatina.