Resumo
Muitos pacientes buscam tratamentos ortodônticos, com queixa relacionada à estética e função. As alterações faciais são frequentes, especialmente nas más oclusões associadas às assimetrias esqueléticas (GU; MCNAMARA, 2007). Nestes casos, o tratamento necessita de uma abordagem interdisciplinar que envolva a Ortodontia e a Cirurgia Ortognática (LEGAN, 1998).
Entre as causas das assimetrias faciais, está a hiperplasia condilar, uma alteração benigna do desenvolvimento, caracterizada por um crescimento contínuo e unilateral do côndilo, que altera sua morfologia e seu tamanho (FARIÑA et al., 2015; RODRIGUES; CASTRO, 2015). Frequentemente, esta patologia está associada a uma inclinação da maxila e/ou do plano oclusal (OBWEGESER; MAKEK, 1986; SLOOTWEG; MÜLLER, 1986; NITZAN, 2008; OLATE, 2013). Segundo a classificação de Obwegeser e Makek (1986), que ainda hoje é muito utilizada, ela pode ser dividida em três categorias: hiperplasia hemimandibular (resultando em uma assimetria no plano vertical), alongamento hemimandibular (causando assimetria horizontal), ou ainda uma combinação de ambas.
A etiologia da hiperplasia condilar permanece desconhecida, no entanto, vários autores sugerem que essa condição patológica possa ser influenciada por trauma, infecção, carga excessiva sobre o côndilo, alteração hormonal, hereditariedade e artrose, acometendo especialmente as mulheres. Como meios de diagnóstico, as radiografias panorâmicas podem ser utilizadas para a visualização da morfologia condilar, enquanto as radiografias cefalométricas podem evidenciar as alterações na altura do ramo (ROSA; SOUZA-JÚNIOR; TIUSSI, 2012; OLATE, 2013; FERREIRA et al., 2014; RODRIGUES; CASTRO, 2015;). Vale ressaltar que as tomografias computadorizadas fornecem uma visão tridimensional dos tecidos duros e moles, o que permite a identificação dos efeitos colaterais nas estruturas ósseas adjacentes (FERREIRA et al., 2014). A cintilografia óssea é fundamental para detectar se a atividade de crescimento condilar está ativa ou inativa. Porém, apenas com a cintilografia não é possível distinguir entre hiperplasia condilar e processos inflamatórios, infecciosos, neoplásicos ou de cicatrização. Desta forma, seus resultados devem ser correlacionados com achados clínicos e imagens anatômicas (HODDER et al., 2000; FERREIRA et al., 2014).
O tratamento ortocirúrgico para correção da assimetria causa um transtorno estético na fase pré-cirúrgica. O preparo ortodôntico, associado à utilização de ancoragem esquelética (miniplacas), apresenta-se como uma alternativa mais rápida e eficiente, com o domínio dos planos oclusais e a possibilidade de executar movimentos simultâneos, tridimensionalmente (anteroposterior, transversal e vertical), o que reduz os efeitos colaterais indesejáveis. Isso torna os resultados mais previsíveis, com redução da necessidade de extrações dentárias e do tempo de tratamento, minimizando, assim, a complexidade das cirurgias ortognatias (LAM et al., 2018; SILVA et al., 2018).
O presente relato de caso clínico teve por objetivo apresentar o preparo ortocirúrgico não convencional (POCNC) realizado em uma paciente Classe I esquelética, com assimetria provocada por hiperplasia condilar. Após realizado o diagnóstico 3D e o planejamento ortodôntico, a correção dessa deformidade craniofacial foi dividida em fases: ortodôntica pré-cirúrgica, com a utilização de miniplacas como ancoragem; cirurgia ortognática associada à condilectomia; e, finalização ortodôntica.