Resumo
A cárie dentária é uma doença silenciosa, dependente da presença de biofilme e exposição à sacarose para se desenvolver (CURY; TENUTA, 2009). Pode ser representada por resultados como: sintomas, sinais e efeitos colaterais de uma desintegração química da superfície do dente (esmalte e dentina), causada pela placa bacteriana e mediada pela saliva (FEJERSKOV; KIDD, 2009). Nos dentes decíduos, é uma doença evitável e reversível se tratada nos estágios iniciais, mas quando não tratada pode levar à dor, bacteremia, alteração no crescimento, desenvolvimento e perda prematura dos dentes, distúrbio da fala, podendo afetar, também, o permanente sucessor (TINANOFF, 1998).
A cárie precoce da infância é uma doença crônica que afeta a dentição decídua de crianças pré-escolares, uma vez que pode se desenvolver imediatamente após a irrupção dentária (KROL, 2004). Incisivos superiores e primeiros molares decíduos são os mais suscetíveis à lesão de cárie. Os incisivos inferiores são menos afetados por estarem protegidos pela secreção salivar produzida pelas glândulas sublingual e submandibular, além de estarem cobertos pela língua (ALAZMAH, 2017).
Uma grande dificuldade enfrentada pelos Odontopediatras é o tratamento estético de dentes anteriores pigmentados, menores, malformados, mal posicionados e fraturados. A frustração associada à solução destes problemas tem sido evitada com o avanço em qualidades de materiais restauradores e das técnicas de união ao esmalte dental (MC DONALD; AVERY, 2001). Em relação à malformação dentária, amelogênese imperfeita, deficiência na quantidade de esmalte (hipoplasia do esmalte) ou esmalte hipomineralizado, que geralmente acompanham sensibilidade dentária extrema, as coroas são uma opção pela necessidade destes dentes de receber uma cobertura total. O uso de cimentos de ionômero de vidro modificado para cimentação das coroas tem sido o mais recomendado (CROLL et al., 2014).
As coroas de aço totais ou facetadas ou de policarbonato foram alternativas para restauração de lesões de cárie extensas. Apesar de possuírem boa resistência, as coroas de aço eram antiestéticas, devido à grande quantidade de metal exposto (KUPIETZKY; WAGGONER, 2004). As restaurações de cobertura total coronária com resina composta, como as “coroas de acetato”, talvez sejam as mais utilizadas para dentes severamente destruídos, fraturados ou malformados (CROLL, 1995). Outra opção é a retenção intracanal, que pode ser confeccionada diretamente com o uso de pino de fibra de vidro e/ou resina composta (JUDD et al., 1990; MENDES et al., 1993; SANTOS, 2005)
Em Odontopediatria, as coroas são indicadas para crianças que têm alto risco de lesão de cárie anterior e posterior, crianças com extensa lesão de cárie de múltiplas superfícies (BERG; DONLY, 2011). Estudos mostram que há menos irritação gengival e acúmulo de biofilme em superfícies altamente polidas e à hipótese de que as coroas de zircônia têm menor acúmulo de placa (QUIRYNEN; BOLLEN, 1995; SONG; KOO, 2015; WALIA et al., 2015)
Num estudo comparando coroas de zircônia com coroas de aço, foram avaliados, entre outros critérios, saúde gengival, rigidez da superfície e desgaste do dente antagonista, integridade marginal, cárie secundária na margem da coroa e a satisfação dos pais ou responsáveis com a aparência da restauração. Os resultados após 24 meses mostram que a única diferença significativa nos parâmetros avaliados foi a satisfação dos pais com a estética das coroas de zircônia (DONLY et al., 2018).
Coroas de zircônia estão se tornando um procedimento restaurador comum entre Odontopediatras por possuírem propriedades semelhantes às coroas de metais e suas cores aproximam-se a dos dentes que serão restaurados (PLANELLS DEL POZO; FUKS, 2014). De acordo com um outro estudo (BRADLEY et al., 2015), as coroas foram o tratamento de escolha para restaurar os dentes decíduos anteriores, concordando com outros estudos que acompanharam o sucesso clínico de 6 e 12 meses após a instalação e tiveram alta taxa de retenção e satisfação dos pais (STEPP et al., 2018; WALIA et al., 2014; SALAMI et al., 2015).