Resumo
A reabsorção dentária interna, também denominada de reabsorção intracanal, odontoblastoma, endodontoma ou granuloma interno, é um evento patológico associado a injúrias causadas às camadas de odontoblastos e pré-dentina. Sua etiologia não está totalmente estabelecida, sendo que a maioria dos autores concorda que fatores traumáticos e ̸ ou infecciosos são os principais agentes etiológicos (NEVILLE et al., 2009; LOVE et al., 2010). Entretanto, pode estar relacionada a outros fatores, como cáries, pulpite crônica de longa duração, ou restauração profunda, apresentando deficiente proteção pulpar (CONSOLARO et al., 2012).
Na maioria dos casos, a reabsorção dentária interna possui um curso clínico assintomático, sendo diagnosticada durante o exame clínico ̸ radiográfico de rotina (CULBREATH et al., 2000).
A reabsorção interna resulta na destruição gradativa da dentina e esse tipo de reabsorção pode localizar-se na porção coronária ou nos terços cervical, médio ou apical das paredes do canal radicular. (PATEL et al., 2010). Quando localizada mais na porção coronária, clinicamente percebe-se uma “mancha rosa”, conhecida como “pink spot” ou dente róseo de Mummery, que pode ser vista por transparência do esmalte, devido a intensa proliferação de tecido de granulação desta região (CONSOLARO et al., 2005).
De acordo com Lopes et al. (2010), histologicamente ocorre uma transformação do tecido pulpar normal em tecido de granulação, com células gigantes multinucleadas reabsorvendo as paredes dentinárias da cavidade pulpar.
Conforme o estudo realizado por Consolaro et al. (2012), o estímulo que induzirá a reabsorção interna deverá ser de longa duração e baixa intensidade, não suficiente para promover necrose pulpar, caracterizando um processo inflamatório crônico. A camada odontoblástica e de pré-dentina conferem uma proteção à parede pulpar contra as células clásticas. Os clastos se aderem apenas aos tecidos mineralizados, sendo assim, a camada de odontoblastos e pré-dentina têm de ser alterada ou danificada, resultando na exposição de dentina mineralizada diretamente ao tecido conjuntivo pulpar inflamado e rico em células reabsortivas (células clásticas e macrófagos), possibilitando um ponto inicial para as reabsorções internas. Portanto, o processo de reabsorção interna é precedido de: inflamação crônica pulpar, desaparecimento ou danificação da camada odontoblástica e de pré-dentina e invasão de células clásticas.
Quando a reabsorção ocorre na raiz, o contorno do canal é perdido e é vista radiograficamente uma dilaceração em forma de ampola. Segundo Consolaro et al. (2012), no exame radiográfico com reabsorção dentária interna, observa-se que o contorno dos limites pulpares sofre uma expansão relativamente simétrica, de aspecto balonizante, com contornos regulares e arredondados.
Para Neville et al. (2009), a reabsorção pode continuar por tanto tempo quanto a polpa permanecer vital, podendo evoluir para a comunicação da polpa com o ligamento periodontal.
Se o processo avança, a destruição pode eventualmente perfurar a superfície lateral da raiz, o que pode dificultar a distinção para a reabsorção radicular externa. O correto diagnóstico diferencial entre reabsorção interna e externa é primordial, pois estas representam processos patológicos distintos e, consequentemente, exigem terapêuticas diferentes (PATEL; PITTI FORD, 2007).
A identificação do tipo de reabsorção pode ser facilitada mediante análise radiográfica. A radiografia sugestiva de reabsorção externa evidencia uma área de rarefação óssea associada a alteração dentária, visto que a reabsorção interna está limitada dentro do dente, exceto quando é comunicante. Outra particularidade diferencial relevante consiste na interrupção da lâmina dura adjacente presente na reabsorção radicular externa. Na reabsorção interna, a lâmina dura apresenta-se intacta, íntegra e sem irregularidades (SILVEIRA et al., 2008).
No momento em que se realiza o diagnóstico, remove-se imediatamente o tecido pulpar com o tecido de granulação, estando o tratamento ligado à amplitude da reabsorção. Quando não ocorre perfuração radicular, preconiza-se a terapia endodôntica convencional, com o intuito de paralisar o processo, o qual cessa com a remoção da polpa devido à interrupção da circulação sanguínea que nutre as células clásticas. Nos casos considerados perfurantes, o tratamento se torna mais complexo, podendo ser cirúrgico ou não.
A seguir, será relatado um caso clínico de reabsorção dentária interna ressaltando as especificidades do tratamento endodôntico.