Resumo
O termo recessão gengival pode ser conceituado como a migração da margem gengival até um ponto apical à junção cemento-esmalte (JCE), com exposição da superfície radicular à cavidade bucal (LINDHE et al., 2015). As recessões gengivais são altamente prevalentes, afetando 50% da população entre 18 e 64 anos (Kassab & Cohen, 2003). Considerada uma condição clínica comum, está frequentemente presente em indivíduos com baixo ou alto padrão de higiene bucal, sem distinção de idade ou etnia, e que aumenta com a idade. Com o aumento da expectativa de vida da população mundial e com as pessoas mantendo um maior número de dentes durante a vida, as recessões gengivais são cada vez mais relatadas (ZUCCHELLI; MOUNSSIF, 2015).
As recessões gengivais podem ser localizadas, afetando apenas um dente, grupo de dentes ou generalizadas, ocorrendo em toda a boca (CARRANZA et al., 2007). Estas não afetam apenas esteticamente o paciente, mas também causam sensibilidade dentinária, dificultam a escovação, tornando-se um fator retentor do biofilme bacteriano (ISHI et al., 2004).
Atualmente, a etiologia das recessões gengivais é considerada multifatorial e está relacionada à presença de fatores anatômicos que se predispõe à ação de fatores desencadeantes com a patogenia das recessões gengivais. Quanto aos fatores predisponentes, relacionados à anatomia dos tecidos, podem-se citar deiscências e fenestrações ósseas, cortical óssea delgada, ausência de tecido queratinizado, mau posicionamento dentário, bridas e freios de inserção alta (ISHI et al., 2004). Dentre os fatores desencadeantes, estão: a escovação traumatogênica; próteses mal adaptadas; grampos; barras ou selas de prótese parcial removível; violação do espaço biológico; incisões relaxantes mal posicionadas; movimentação ortodôntica e fumo (ISHI et al., 2004).
Todos esses fatores apenas ocorrerão na presença de um periodonto predisponente, que resultará em uma inflamação, desencadeando a recessão gengival (MAYNARD JR; WILSON, 2015) (CHAMBRONE; TATAKIS, 2015). O tratamento de escolha para esse problema é cirurgia plástica periodontal, e diferentes técnicas cirúrgicas têm sido propostas para aumentar a previsibilidade do tratamento, estabilidade e resultados clínicos, bem como para melhorar a estética. A técnica cirúrgica de recobrimento radicular a ser escolhida, geralmente, relaciona-se com as características clínicas do caso, preferência do operador, habilidade manual, classificação da recessão gengival, dentre outros (CHAMBRONE; TATAKIS, 2015).
O enxerto de tecido conjuntivo subepitelial (CTG) é o padrão-ouro para tratamento de recessões radiculares, melhorando a porcentagem de recobrimento radicular, recobrimento radicular completo, espessura do tecido e a quantidade de tecido queratinizado na área operada em comparação com outras opções de tratamento (CHAMBRONE et al., 2018).
Quando defeitos de recessões múltiplas estão presentes, consideramos por selecionar uma técnica que permita a correção simultânea de todas as recessões. Zucchelli e De Sanctis (2000) propuseram tratamento para recessão múltipla em pacientes com demanda estética, descrevendo uma modificação do retalho coronalmente avançado (MCAF), que utiliza incisões oblíquas para criar uma papila cirúrgica (ZUCCHELLI; DE SANCTIS, 2000). Ao evitar incisões verticais, esse desenho de retalho aumentou os resultados estéticos e reduziu as cicatrizes, e melhorou os resultados clínicos (ZUCCHELLI et al., 2009).
O objetivo deste relato é apresentar um caso de recobrimento radicular pela técnica de Zucchelli & De Sanctis, indicada para áreas de múltiplas recessões estéticas, associado ao enxerto de conjuntivo subepitelial (CTG).