Resumo
A recessão gengival caracteriza-se pelo deslocamento apical da margem da gengiva expondo a superfície radicular (WENNSTROM, 1994); podendo incluir uma ou mais superfícies dentárias. Isto tem sido um problema comum na população e geralmente leva o paciente a procurar tratamento (LOE et al.,1992; SERINO et al., 1994). De acordo com Maynard (1987) e Wennstrom et al. (1996), os fatores etiológicos mais frequentes associados à recessão gengival são doença periodontal, escovação traumática e dimensões gengivais inadequadas.
Nas últimas décadas, várias técnicas cirúrgicas foram usadas para tratamento das recessões gengivais. O objetivo da cirurgia plástica periodontal é desenvolver uma técnica menos invasiva que favoreça uma cicatrização mais rápida, com menor desconforto pós-operatório e maior satisfação dos pacientes. A literatura tem documentado que a recessão gengival pode ser tratada com sucesso por inúmeros procedimentos cirúrgicos, independente da técnica utilizada, desde que não haja perda óssea e de tecido mole interproximal (MULLER, 1985; WENNSTROM, 1996).
Para se obter um resultado ideal no procedimento de cirurgia plástica periodontal, de acordo com Wennstrom e Zucchelli (1996), necessita-se de qualidade estética, além da ausência de sangramento à sondagem com a manutenção de sulcos rasos. Para isso, alguns procedimentos cirúrgicos são reportados na literatura com maior previsibilidade comparado a outros em relação ao recobrimento radicular, como o retalho reposicionado coronalmente e as técnicas bilaminares (WENNSTROM, 1996; ROCCUZZO, 2002).
A técnica de tecido conjuntivo autógeno foi originalmente descrita por Edel em 1974 e está baseada no fato de que o tecido conjuntivo carrega uma mensagem genética induzindo o epitélio a se tornar queratinizado. De acordo com Cairo et al. (2008) o uso do tecido conjuntivo submerso na técnica de retalho reposicionado coronalmente é o padrão ouro para recobrimento radicular, suas principais indicações são fatores estéticos, hipersensibilidade dentinária, prevenção de lesões cervicais cariosas e não cariosas. Entretanto, na aplicação desta temos como principal desvantagem a necessidade de um segundo sítio cirúrgico para a área doadora do tecido conjuntivo, que na maioria das vezes é removida do palato e em alguns casos da região retromolar; causando maior desconforto ao paciente.
Diante dessas limitações, investigações a respeito de substitutos teciduais, como membranas autógenas de L-PRF (Leucócito Plasma Rico em Fibrina), tem sido realizadas (CHOUKROUN et al., 2001). O uso de membranas de L-PRF é de fácil preparo e manipulação e não requer a necessidade de anticoagulantes ou trombina bovina, ela pode ser cortada, adaptada e facilmente suturada. O L-PRF é composto por uma matriz de fibrina polimerizada em uma estrutura tetramolecular envolta em plaquetas, leucócitos, citocinas e células-tronco. A polimerização lenta das fibrinas durante o processo conduz à incorporação intrínseca de citocinas plaquetárias nas malhas da fibrina dentro da cadeia glicano. Este resultado implica que, diferente de outros concentrados plaquetários, o L-PRF está apto a liberar o lançamento de citocinas durante o processo de remodelação da matrix de fibrina. Devido a esse mecanismo, pode-se explicar as propriedades cicatriciais do L-PRF clinicamente observadas. O L-PRF também demonstrou organizar-se como uma densa rede de fibrina com um grande número de concentrado leucocitário em uma parte do coágulo e uma particularidade que é a liberação lenta de fatores de crescimento e glicoproteínas ao longo de 7 dias (DOHAN, CHOUKROUN, 2006).
O L-PRF quando utilizado nos defeitos causados por recessão gengival, repara as propriedades funcionais da gengiva vestibular do dente e restaura a permanência e integridade do tecido gengival queratinizado (ANILKUMAR et al., 2009). Além disso, utilizando o L-PRF, elimina-se a necessidade de um sítio doador, deixando essa técnica menos invasiva, reduzindo a formação de edema quando comparado ao tecido conjuntivo e um menor desconforto pós-operatório (SAADOUN, 2006).