Resumo
Os procedimentos de cirurgia plástica periodontal com cobertura radicular são utilizados no tratamento de recessão gengival há muitos anos (STEFANINI et al., 2018). O conceito “cirurgia plástica periodontal” foi introduzido por Miller (1993), sendo aceito pela comunidade científica internacional em 1996. Este termo abrange procedimentos cirúrgicos realizados para prevenir ou corrigir defeitos anatômicos, de desenvolvimento ou traumáticos, bem como defeitos resultantes de determinadas patologias na gengiva, na mucosa alveolar ou no osso. O recobrimento radicular é um procedimento cirúrgico, incluído na cirurgia plástica periodontal, indicado para o tratamento de recessões gengivais em pacientes que apresentam sintomas resultantes da exposição radicular, tais como hipersensibilidade dentinária e/ou comprometimentos estéticos (CHAMBRONE et al., 2015).
O recobrimento radicular tem como principais objetivos o recobrimento completo da raiz exposta, o aumento da dimensão da gengiva, a melhoria da aparência estética e a obtenção de uma mínima profundidade de sondagem após cicatrização (ZUCCHELLI; MOUNSSIF, 2015).
A literatura relata que as principais indicações destes procedimentos são a estética, hipersensibilidade dentinária, prevenção de cárie ou presença de lesões cariosas cervicais (CHAMBRONE L. et al., 2015), necessidade de aumento de tecido queratinizado (ZUCCHELLI; MOUNSSIF, 2015), prevenção ou presença de lesões de cárie cervicais, bem como lesões de cárie radiculares (BITTENCOURT et al., 2006; ZUCCHELLI; MOUNSSIF, 2015); aumento da longevidade das restaurações (BITTENCOURT et al., 2006).
Para avaliação do tipo de técnica cirúrgica de recobrimento radicular a ser empregada, os principais critérios são: a estética, isto é, o grau de exposição gengival durante o sorriso, a presença ou ausência de mucosa queratinizada apicalmente à recessão, associadas à avaliação do tipo de recessão periodontal (Classes I, II, III e IV de Miller) e o fenótipo periodontal. Um tecido gengival de espessura fina deve, de preferência, ser associado ao enxerto de tecido conjuntivo gengival, aumentando assim a previsibilidade de sucesso no tratamento das recessões periodontais. Apesar da evolução das técnicas cirúrgicas que utilizam a regeneração tecidual guiada e substitutos alógenos, como a matriz dérmica acelular, com o objetivo de recobrimento radicular, o enxerto autógeno de tecido conjuntivo gengival apresenta-se, ainda, como a técnica padrão-ouro e com maior previsibilidade para o tratamento das recessões gengivais.
Os avanços científicos e técnicos no desenvolvimento de procedimentos cirúrgicos periodontais tem como objetivo o recobrimento da recessão associado a profundidade mínima de sondagem, ausência de inflamação, bem como que atendesse às percepções e exigências estéticas dos pacientes que aumentaram consideravelmente nos últimos anos. Portanto, os procedimentos cirúrgicos de plástica periodontal, não se limitam apenas a cobertura radicular, mas também a resultados estéticos como homogeneidade da cor e textura dos tecidos moles da área operada com os tecidos moles adjacentes (DE SANCTIS M. et al., 2007).
Dentre as várias técnicas para recobrimento radicular, destaca-se a técnica do enxerto de tecido conjuntivo subepitelial por meio da confecção de um envelope. Descrita pela primeira vez por Raetzke (1985), este descreve a técnica de forma simples e delicada, com o mínimo trauma cirúrgico, pois não há necessidade de incisões relaxantes ou sutura, e o tecido conjuntivo enxertado fica em íntimo contato com o tecido gengival e radicular da área receptora, proporcionando ao enxerto dupla nutrição sanguínea. No entanto, a técnica da forma como foi originalmente descrita se aplicava às recessões únicas de classe I e II de Miller, necessitando de uma altura de tecido queratinizado suficiente para permitir uma dissecção parcial do retalho em torno da área desnuda. A técnica apresenta algumas vantagens, como elevação do retalho sem deslocamento das papilas e sem incisões relaxantes (incisões de liberação vertical), favorece a manutenção do suprimento sanguíneo e cicatrização sem intercorrências, além de minimizar o risco de formação de tecido cicatricial no pós-operátorio (OTTO ZUHR et al., 2018).
O recobrimento radicular por meio da técnica do envelope modificado é uma modificação da técnica, representada pela preparação do leito receptor iniciado pela elevação de um retalho de espessura total partindo da margem gengival, seguida da fenestração apical do periósteo e estabilização do enxerto com suturas proximais ou através de um retalho misto, partindo do preparo de um envelope total com o uso de tunelizadores, seguidos da divisão apical do retalho a partir da linha mucogengival, para garantir uma mobilização coronal (JOLY et al., 2009; JOLY et al., 2015). O enxerto conjuntivo deve ser adaptado ao retalho vestibular com suturas para garantir a estabilidade deste. A quantidade de exposição do enxerto pode ser considerada desde que em torno de 80% do tecido conjuntivo estejam cobertos pelo retalho recebendo nutrição apropriada para garantir a viabilidade da porção exposta (HAN et al., 2008). Importante ressaltar que a largura do enxerto alcance pelo menos o centro das papilas dos dentes adjacentes e que o comprimento corresponda à distância da JCE e à linha mucogengival.
A técnica do recobrimento radicular com envelope modificado apresenta algumas vantagens, pois a realização do retalho de espessura total próximo à margem gengival é uma técnica de fácil realização, diminuindo o risco de dilaceração do tecido mole, mantendo a integridade vascular (RASPERINI et al., 2011). Foi verificada uma melhora biológica na cicatrização da ferida pela ausência de incisões relaxantes verticais, o que permite um melhor potencial vascular de cicatrização e um resultado estético final mais favorável à região operada.
Portanto, a utilização da técnica de envelope modificado é apropriada e atende aos requisitos estéticos, com base em fatores clínicos e anatômicos.