Resumo
Nas últimas décadas, com o anseio estético por parte dos pacientes, houve uma revolução na Odontologia Restauradora com o surgimento de novos materiais e novas técnicas para que resultados estéticos fossem alcançados. Com isso, a periodontia mudou o seu enfoque, deixando de se preocupar exclusivamente com a prevenção e o tratamento de doenças, passando a buscar alternativas efetivas para a reconstrução dos tecidos perdidos.
A recessão gengival pode ser definida como a migração da margem gengival para apical em relação à junção cemento-esmalte (JCE), ocasionando a exposição da superfície radicular, podendo acometer um ou múltiplos dentes. Além do comprometimento estético, as recessões podem acarretar problemas funcionais, como a hipersensibilidade dentinária, o risco de desenvolvimento de lesões cervicais não cariosas e a cárie radicular (JOLY, 2019).
A busca por um tratamento efetivo das recessões periodontais resultou no surgimento de novas técnicas. Dessa forma, resultados mais previsíveis quanto ao recobrimento radicular puderam ser obtidos, a partir da utilização de técnicas como os enxertos de tecido conjuntivo gengival, regeneração tecidual guiada e matriz dérmica acelular (AMINE K. et al., 2018).
A técnica de Bruno, em 1994, propôs alterações à técnica de Langer e Langer, evitando a utilização de incisões verticais. Segundo o mesmo autor, as incisões verticais podem comprometer o suprimento sanguíneo para o enxerto, aumentando o desconforto pós-operatório, além de promover uma cicatrização mais lenta (BRUNO, 1994).
Esta técnica implica a realização de uma incisão horizontal em ângulo reto na papila adjacente à recessão, ao nível da JAC, ou ligeiramente coronal (figura 3). O epitélio da papila é mantido intacto. A extensão mesiodistal da incisão pode ser aumentada para facilitar o acesso à raiz, uma vez que não se recorre a incisões verticais de descarga. É elevado um retalho de espessura parcial, que se estende apicalmente, para além da JMG (figura 3). A superfície radicular exposta é preparada para receber o enxerto, sendo aplanada com curetas ou brocas de polimento, e o tratamento químico com a utilização de ácido cítrico a 10%. A remoção do enxerto ao nível do palato inicia-se por uma incisão perpendicular ao longo eixo do dente, 2 a 3 mm apicalmente à gengiva marginal (figura 4). A extensão mesiodistal desta incisão é determinada pelo comprimento do retalho do local receptor. Uma segunda incisão é realizada paralelamente ao longo eixo do dente, 1 a 2 mm para apical da primeira incisão, com a espessura desejada para o enxerto (figura 4). A incisão deve ser feita o mais apical possível, para a obtenção de uma maior quantidade de tecido conjuntivo. O enxerto é então elevado com a ajuda de um elevador de periósteo e removido do palato (figura 4). A região dadora é então suturada. Posteriormente, o enxerto é posicionado na área receptora e o retalho de espessura parcial é reposicionado coronalmente e suturado com suturas interrompidas (figura 6).
A classificação de Miller é a mais utilizada, dentro de todas as publicadas. Esta classificação, proposta em 1985, apresenta quatro classes de recessão gengival com base no nível ósseo e quantidade de tecido mole proximal, de forma a definir a probabilidade de sucesso dos recobrimentos radiculares. Classe I: recessão do tecido marginal que não se estende até a junção mucogengival. Não há perda óssea nem de tecido mole interdentário. Classe II: recessão do tecido marginal que se estende até ou além da junção mucogengival. Não há perda óssea nem de tecido mole interdentário. Classe III: recessão do tecido mole que se estende até ou além da junção mucogengival. A perda óssea ou de tecido mole interdentário é apical em relação à junção cemento-esmalte, porém coronária à extensão apical da retração do tecido marginal. Classe IV: retração do tecido marginal que se estende além da junção mucogengival. A perda óssea interdentária estende-se até um nível apical em relação à extensão da retração do tecido marginal. Os defeitos de classe I e II de Miller apresentam prognóstico de recobrimento radicular completo, os defeitos de classe III apresentam prognóstico de recobrimento parcial, enquanto os de classe IV não apresentam um prognóstico favorável (LINDHE, 2005).
No entanto, (CAIRO et al., 2018) propuseram uma nova classificação para recessões gengivais, que foi aceita pela Associação Americana de Periodontia e Federação Europeia de Periodontia em 2018, sendo assim, a recessão gengival, foi classificada em três tipos de recessões: Recessão Tipo 1 (RT-1): recessão gengival sem perda de inserção interproximal, apresentando prognóstico de recobrimento radicular total. Recessão Tipo 2 (RT-2): recessão gengival está associada com a perda de inserção interproximal, que é menor ou igual ao comprimento da recessão gengival, apresentando prognóstico de recobrimento radicular total. Recessão Tipo 3 (RT-3): recessão gengival está associada à perda de inserção interproximal. A quantidade da perda de inserção interproximal é maior que recessão pelo que não há capacidade de recobrimento (PAPAPANOU et al., 2018).
O presente relato de caso teve como objetivo descrever um caso clínico no qual foi realizada a cirurgia de recobrimento radicular, recessão tipo 1 (RT-1), com a técnica de Bruno associada ao enxerto de tecido conjuntivo, onde a área doadora foi a região do palato.