Resumo
A cárie dentária se conceitua, desde a década de 60, como uma doença multifatorial, sendo que, atualmente, sabe-se da fundamental importância dos fatores determinantes e confundidores para sua progressão (MANJI; FEJERSKOV, 1990). A manifestação da lesão de cárie resulta em uma desmineralização de tecidos dentários desde uma pequena alteração de refração da luz até a destruição total dos dentes (NEWBRUM, 1988; GOMES; DA-ROS, 2008; ABUCHAIM et al., 2011).
Em crianças, a progressão da lesão de cárie é relativamente mais rápida, visto que os dentes decíduos apresentam algumas particularidades que os tornam mais suscetíveis ao processo (MAGNUSSON; SUNDELL, 1977), entre elas, a menor espessura de esmalte e dentina, proporcionando uma câmara pulpar mais ampla e cornos pulpares mais proeminentes. Possuem, também, uma estrutura mineral diferente do dente permanente, onde o esmalte é rico em carbonato de cálcio, um cristal mais solúvel, e que, consequentemente, aumenta o risco de envolvimento pulpar pela lesão de cárie, justificando, assim, a demanda dos procedimentos de pulpectomia (GUEDES-PINTO; MELLO-MOURA, 2016).
Um estudo que avaliou a longevidade e sucesso de tratamento de lesões de cárie de diversos tamanhos com resinas compostas em dentes decíduos mostrou-se favorável quando relacionado à resistência, integridade das margens e durabilidade, sugerindo a ampla utilização destas, pois além de preservarem a estrutura dental remanescente, apresentam estética mais favorável e desgaste semelhante ao desgaste fisiológico do dente decíduo (PIVA; RIBEIRO; SOUZA, 2014). Em contrapartida, a técnica restauradora para as resinas compostas é crítica, sendo bastante sensível à umidade e necessidade de colocação em pequenas porções de, no máximo, 2 milímetros do material, demandando mais tempo para atendimento. Em lesões que envolvem faces proximais, fica indispensável o uso de matriz e cunhas para restabelecer o contato proximal, além da adaptação marginal, devolvendo forma e função ao dente (NEVES et al., 2002).
Diversos tipos de matrizes foram desenvolvidos para melhorar os contatos proximais, como: pré-cunhamento, utilização de matrizes ultrafinas e alguns dispositivos especiais que ajudam na polimerização e na pressão do material restaurador contra a matriz (KEOGH; BERTOLOTTI, 2001). NEVES et al. (2002) avaliaram tipos de matrizes e constataram que elas são imprescindíveis para confecção de restaurações ocluso-proximais e que em dentes com grandes destruições coronárias, especialmente os que necessitam receber grampo de isolamento, as mais indicadas são as matrizes individuais, dentre elas, a circunferencial total (matriz soldada, rebitada ou automatrix), entretanto, em casos de grandes restaurações e ausência de dentes contíguos, o procedimento torna-se mais difícil, visto que a adaptação da matriz fica prejudicada, sendo necessário o emprego de outras técnicas restauradoras (RANK et al., 2013).
As restaurações indiretas poderiam ser indicadas neste estudo, no entanto, além do alto custo, exigem um desgaste grande do elemento dental e possível agressão à região cervical, podendo ocasionar problemas periodontais (RANK; MORAES; IMPARATO, 2005). Outra opção para restauração, neste caso, seria a técnica restauradora semidireta extra-bucal em resina composta, todavia necessitaria de preparo do elemento dental, moldagem, confecção de uma incrustação e a cimentação desta (RANK; MORAES; IMPARATO, 2003), o que levaria a um maior tempo de trabalho e custo. Devido a essa lacuna, de praticidade no atendimento infantil, esse relato de caso visou demonstrar a utilização de uma banda ortodôntica como matriz para restauração eliminando o tempo de confecção de matriz personalizada para restaurações extensas, procurando devolver o contorno proximal como guia de erupção do permanente e otimizar o tempo de atendimento.