Resumo
O sucesso do tratamento endodôntico está intimamente relacionado ao modo como o tratamento dos canais radiculares é conduzido, seja do ponto de vista da modelagem, da limpeza, ou da obturação (INGLE, 1956).
São observados na literatura índices maiores de 96% de sucesso para tratamentos endodônticos em casos de polpa vital ou de polpa não vital com ausência de radiolucência periapical. No caso de presença de radiolucência periapical, estes índices reduzem para 86% (SJOGREN et al., 1990). É bem sedimentado que o insucesso no tratamento endodôntico está normalmente relacionado à manutenção no sistema de canais radiculares, de microrganismos (LEONARDI et al., 2006).
Esse insucesso é, na maioria das vezes, reflexo de como o tratamento foi conduzido. Ele pode ser consequência de falhas durante o próprio tratamento como desvios, perfurações ou um tratamento malconduzido, como em decorrência de outras causas, como por exemplo restaurações coronárias insatisfatórias, variações anatômicas ou trincas (FAVA, 2001).
Os procedimentos de irrigação ativada são fundamentais para reduzir a carga bacteriana em todo o sistema de canal radicular e remover smear layer. Esses sistemas ativados demonstraram ser mais eficientes em remover a smear layer que os métodos clássicos de irrigação, apesar de nenhum protocolo de irrigação ser capaz de produzir canais radiculares livres de smear layer (MIGUÉNS-VILA et al., 2022).
O sinal mais evidente do insucesso é a manutenção da periodontite apical. A periodontite apical é a inflamação e destruição dos tecidos perirradiculares consequentes da necrose da polpa dental a partir da infecção desta por microrganismos predominantemente anaeróbicos. Esses microrganismos se espalham ao longo do sistema de canais radiculares e seus subprodutos podem entrar em contato com o periápice promovendo uma resposta imunológica. Os fatores microbianos e forças de defesa se encontram, colidem e destroem grande parte do tecido periapical, resultando na formação de várias categorias de lesões de periodontite apical (NAIR, 2004).
A opção de tratamento preferível para o manejo dessa situação clínica é o retratamento endodôntico não cirúrgico, entretanto, se este for tecnicamente desafiador, associado ao risco de complicações ou recusa do paciente, a cirurgia parendodôntica passa a ser considerada como uma abordagem alternativa para preservar o dente e evitar a extração. Além disso, a infecção em áreas apicalmente inacessíveis, infecção extrarradicular, reações de corpo estranho ou cistos radiculares são outras possíveis causas de periodontite apical, que podem ser melhor tratadas clinicamente com cirurgia (CHRISTIANSEN et al., 2008 e PINTO et al., 2020).
A cirurgia endodôntica não era considerada importante dentro do domínio do endodontista, sendo por muito tempo vista como o último recurso. Felizmente isso mudou quando o microscópio, microinstrumentos, pontas ultrassônicas e materiais de preenchimento radicular mais biologicamente aceitáveis foram introduzidos. O desenvolvimento simultâneo de melhores técnicas, materiais e instrumentos resultou em maior compreensão da anatomia apical, maior sucesso do tratamento e uma resposta mais favorável do paciente (KIM; KRATCHMANN, 2006).