Resumo
O desenvolvimento radicular dos dentes permanentes se completa normalmente entre 1 a 4 anos após sua erupção na boca (QUESADA, 2011). Se durante esse período, em que os dentes são considerados imaturos, a polpa é necrosada por cárie ou trauma, seu desenvolvimento radicular será interrompido, resultando em dentes com ápices abertos, paredes radiculares finas e relação raiz-coroa inapropriada. Isso resultará em dentes frágeis, sensíveis a forças externas e propensos a fratura cervical (THIBODEAU et al., 2007; NEHA et al., 2011; WIGLER et al., 2013; DIOGENES et al., 2014). O tratamento endodôntico de dentes com tais características é complicado pela dificuldade de instrumentação e desinfecção das paredes delgadas, risco de extravasamento da substância irrigadora, dificuldade de travamento do cone de guta-percha no terço apical, entre outras (ANDREASEN; BAKLAND, 2012).
Tradicionalmente, esses dentes são tratados através da apicificação, procedimento que envolve a inserção de medicamentos à base de hidróxido de cálcio Ca(OH)2 dentro do canal radicular com o objetivo de induzir a formação de uma barreira apical estabelecendo condições favoráveis para o subsequente tratamento endodôntico convencional (RAFTER, 2005). Embora nestes casos o tratamento tradicional do canal tenha uma taxa de sucesso de 74% (ANDREASEN et al., 2002) a necessidade de múltiplas consultas, bem como a fragilidade aumentada da dentina radicular (ANDREASEN et al., 2002), aumenta o risco de fratura dentária (CVEK, 1992).
A confecção de um plug apical de MTA também foi relatada como uma opção de tratamento alternativa, mas não regenera a fisiologia do complexo dentino-pulpar (JEERUPHAN et al., 2012; SIMON; GOLDBERG, 2014), nem permite a formação e o espessamento das paredes radiculares.
A revascularização do canal radicular (WIGLER et al., 2013) foi proposta para superar os obstáculos relacionados ao manejo clínico dos dentes permanentes imaturos necrosados (IWAYA et al., 2001, BANCHS; TROPE, 2004). Esse procedimento visa preencher o canal radicular com tecido semelhante à polpa após a indução de um coágulo sanguíneo dentro do sistema de canais radiculares, que servirá como um local de ancoragem para as células tronco da região apical.
Desde então, evidências sobre estimular o crescimento de tecidos no sistema de canais radiculares após a revascularização foram fornecidas (MURRAY et al., 2007; NOSRAT et al., 2011; GARCIA-GODOY; MURRAY, 2012). Além disso, a aplicação de derivados do sangue, como Plasma Rico em Plaquetas (PRP) e Fibrina Rica em Plaquetas (PRF), poderia ser realizada em casos específicos com o objetivo de acelerar a formação de tecido (MITTAL; NARANG, 2012) ou quando não se consegue a formação do coágulo intracanal, por estimulação do sangramento apical.
A desinfecção do sistema de canais radiculares é um passo crucial no procedimento de revascularização, uma vez que a instrumentação mecânica é contraindicada devido à presença de paredes finas, o que poderia aumentar ainda mais o risco de fratura radicular (ANDREASEN; BAKLAND, 2012). Portanto, soluções de desinfecção como o hipoclorito de sódio (NaOCl) e/ou clorexidina são utilizadas no interior dos canais.
A segunda etapa inclui a colocação de uma pasta desinfetante [Ca(OH)2 ou pasta tri-antibiótica (TAP) contendo ciprofloxacina, metronidazol e minociclina proposta por Hoshino et al. (1996), seguida de um selamento coronário.
Na consulta seguinte, o dente é reacessado endodonticamente e a instrumentação do canal além do forame com uma lima K é realizada para provocar sangramento na região periapical. Isso faz com que as células tronco sejam aprisionadas em coágulos, seguidas pela indução de angiogênese e nova formação de tecido semelhante a polpa (CHEN et al., 2011; KIM et al., 2012; KESWANI et al., 2013). O MTA é colocado sobre o coágulo e o dente é permanentemente restaurado.
O sucesso da terapia de revascularização é alcançada quando atinge os seguintes objetivos: eliminação de sinais e sintomas, evidência de cura óssea, aumento da espessura das paredes do canal e/ou aumento do comprimento radicular (desejável) e resposta positiva aos testes de vitalidade (AAE).
A seguir, será relatado um caso clínico de revascularização em 2 sessões, onde foi utilizado a pasta TAP como medicação intra canal, ressaltando as especificidades do tratamento endodôntico.