Resumo
As mecânicas ortodônticas contemporâneas têm sido aperfeiçoadas, com ênfase no controle dos efeitos colaterais (MELSEN, 2015) e na busca de um equilíbrio dentário, muscular e articular (GREMILLION, 2006). Os dispositivos de ancoragem esquelética auxiliam na movimentação dentária nos três planos do espaço, de forma simultânea, contínua (CALICCHIO, 2016) e previsível (JENNER; FITZPATRICK, 1985), remodelando e reformatando o osso (CONSOLARO, 2015).
O ortodontista necessita definir previamente, com a equipe interdisciplinar, o local para a instalação dos dispositivos, estabelecendo a posição e a distância dos acessórios ortodônticos. As miniplacas devem ser instaladas três a quatro milímetros no sentido lateral e vertical em relação aos tubos colados nos molares, com o cuidado de não comprometer os tecidos moles durante os movimentos previamente planejados. O planejamento em modelos prototipados dos maxilares pode facilitar muito o procedimento cirúrgico, ao definir o local de sua instalação.
Uma vez instaladas, as miniplacas podem ser ativadas imediatamente após o procedimento cirúrgico (MELSEN, 2015). Torna-se fundamental o domínio e gerenciamento – pela equipe interdisciplinar – das possíveis intercorrências,
assim como realizar pequenos ajustes nos braços das miniplacas durante o tratamento (LAM et al., 2018). A ancoragem esquelética ampliada permitiu modificar a forma de se tratar as más oclusões e aumentou os limites da mecânica ortodôntica (SILVA; PINHO; MELOTI, 2011).
Essa prática tem sua aplicabilidade nas seguintes situações (SILVA et al., 2018): a) em movimentos de distalização/verticalização/intrusão, sem perda de ancoragem, com redução dos índices de extrações e da necessidade de desgastes interproximais; b) nos casos complexos de cirurgias ortognáticas (auxiliando a rotação mandibular no sentido anti-horário em padrões dolicofaciais de Classe II, bem como mantendo o controle vertical da oclusão); c) na correção das diferentes inclinações dos planos oclusais (em que há necessidade de remodelação óssea intrusiva ou extrusiva nos processos dentoalveolares); d) na correção das divergências dos planos oclusais em relação ao Plano de Camper (nos casos limítrofes e com tendência a Classe III, nos quais a maxila apresenta rotação no sentido anti-horário); e) nas impacções maxilares (em casos em que há crescimento excessivo do osso alveolar, no sentido vertical, entre os planos oclusal e palatino); f) na centralização dos côndilos nas fossas articulares em indivíduos simétricos (quando a etiologia estiver relacionada a interferências oclusais, desde que os discos articulares estejam sadios e bem posicionados).
As áreas de eleição para a fixação dos dispositivos na maxila são o pilar zigomático e o canino. Na mandíbula, as áreas de eleição são o corpo mandibular ou crista oblíqua externa, entre os primeiros e segundos molares, e à frente do forame mentual, na região anterior. Essas regiões possuem um osso cortical, normalmente com 2 mm de espessura, o que proporciona condições favoráveis para a estabilização e ativação, com a carga necessária para correções ortodônticas (SUGAWARA; NISHIMURA, 2005).
Ao considerar que a fixação das miniplacas realiza-se fora do processo alveolar, a ancoragem no osso basal não sofre deflexão, em decorrência do carregamento de forças ortodônticas ou ortopédicas, promovendo uma ancoragem absoluta. Em contrapartida, os mini-implantes são instalados no processo alveolar ou próximo a ele, estando sujeitos à deflexão do osso ao seu redor, quando submetidos ao carregamento funcional (CONSOLARO, 2015).
As miniplacas recomendadas para ancoragem ortodôntica são confeccionadas em titânio F67 Grau 2 e possuem diferentes formatos, a exemplo daquelas que são produzidas pela empresa CPMH. Constituem‑se de três partes: corpo, braço transmucoso e cabeça (SUGAWARA; NISHIMURA, 2005). O corpo possui três orifícios para fixação dos parafusos, podendo ser modificada para o formato “L”, cortando-se um dos orifícios. Isso é importante quando a instalação da miniplaca (MP) se dá próximo ao forame mentual ou à abertura piriforme.
Para adaptar-se às necessidades da anatomia de cada paciente, o braço intermediário possui três comprimentos distintos: curto, médio e longo. A cabeça possui dois elos para a fixação de parafusos, os quais serão adaptados para a estabilização dos acessórios ortodônticos, e pode ainda, sofrer modificações como a remoção ou abertura de um elo (figura 1). Essas adaptações necessitam de alicates específicos para o corte (figura 1A) e dobra das miniplacas (figura 2B-F).
A adaptação prévia das miniplacas pode ser realizada em um modelo prototipado em impressora 3D, obtido pela conversão do arquivo DICOM, de uma tomografia computadorizada, em STL. A adaptação das miniplacas no biomodelo, previamente à cirurgia, diminui significativamente o tempo transcirúrgico e reduz o edema e a inflamação pós‑operatórios. Também proporciona maior precisão na adaptação das miniplacas ao osso e um posicionamento tridimensional correto. Deve-se considerar a mecânica ortodôntica planejada e a compatibilidade com as estruturas anatômicas, como raízes dentárias e o trajeto do nervo alveolar.
Os detalhes da técnica cirúrgica serão apresentados por meio de um caso clínico.