Resumo
A Mucosite Oral (MO) é um dos efeitos colaterais mais comuns e auto-limitantes do tratamento antineoplásico. Relativamente frequente, a incidência quando decorrente de quimioterapia é bastante variável de acordo com tipo de tumor e esquema de tratamento (AL-ANSARI et al., 2015), podendo chegar a 90% em crianças menores de 12 anos (TRAVAGLINI, 2003). Em crianças com Leucemia linfobástica aguda (LLA), sua incidência é em torno de 46% (FIGLIORA et al., 2008). O esquema de quimioterapia, o tipo de câncer, a idade, a contagem de neutrófilos e a condição oral são fatores importantes que influenciam no desenvolvimento de MO em pacientes oncológicos (CHENG et al., 2001; CHENG; CHANG; YUEN, 2004).
Tal condição está relacionada com eritemas, úlceras e dor intensa que podem interferir no estado nutricional do paciente e em sua qualidade de vida, muitas vezes limitando ou até mesmo sendo necessária a interrupção da terapia oncológica.
A evolução da mucosite oral é complexa, e favorece outras complicações e infecções locais e sistêmicas, sendo potencialmente letal. As lesões podem ser frequentemente complicadas por infecções por cândida ssp. (LALLA; SAUNDERS; PETERSON, 2014), uma vez que as lesões ulceradas da mucosa atrófica representam um ótimo nicho para o crescimento de micro-organismos patogênicos, incluindo fungos oportunistas, e o processo inflamatório induzido por infecção piora significativamente a sintomatologia clínica, levando ao aparecimento de manchas brancas sobre áreas inflamadas.
O tratamento com antifúngico é a primeira escolha e é altamente recomendável (LALLA; PATTON; DONGARI-BAGTZOGLOU, 2013). No entanto, já é possível haver resistência aos antifúngicos comuns, o que representa uma dificuldade no tratamento desses pacientes.
Assim, a busca de estratégias terapêuticas alternativas é altamente encorajada. A terapia com laser tem sido relatada por se mostrar eficaz na prevenção da MO, redução da severidade, dor e duração de úlceras (GOBBO et al., 2014; MAVER-BISCANIN; MRAVAK-STIPETIC; JEROLIMOV, 2005). A terapia fotodinâmica (PDT, do inglês, (Photodynamic Therapy)) é descrita na literatura como a interação entre uma fonte de luz de um comprimento de onda específico e um fotossensibilizador na presença de oxigênio (DOUGHERTY, 2002). Podem ser utilizados diferentes fotossensibilizadores, incluindo o azul de metileno, em associação a uma fonte de luz (LED e laser de baixa potência) no comprimento de onda vermelho. Por meio desse processo, o pigmento promove a lise das células-alvo como resultado de formação e liberação de radicais livres oxigênio reativas em função da absorção de luz pelo corante. Como resultado desse processo, as células dos micro-organismos são lesadas através de desnaturação proteica e lise da membrana celular (KVAAL; WARLOE, 2007; PENG, 2006; TEICHERT et al., 2006). Essa terapia tem mostrado resultados promissores como terapia coadjuvante ao tratamento antifúngico, com eficiência comparada à nistatina oral, porém com a vantagem de não oferecer resistência, não ser tóxica, não possuir efeito colateral, ser rápido, uma vez que necessita de menos dias de aplicação quando comparada ao antifúngico tópico convencional e ter boa aceitabilidade por parte do paciente infantil.