Resumo
A simetria facial ocorre quando existe um equilíbrio entre os dois lados da face que se relacionam perfeitamente de forma idêntica, tendo o mesmo formato, tamanho e posição. Opostamente, a assimetria facial é descrita como o desequilíbrio das estruturas esqueléticas. Grande parte da população apresenta faces assimétricas, sendo muito rara a condição de perfeita simetria. No entanto, nem todas as assimetrias precisam ser tratadas, somente em casos em que são perceptíveis aos olhos do paciente essas assimetrias serão relevantes, onde a ocorrência do desvio ósseo é próxima ou maior que 4 mm. Em desvios menores muitas vezes elas são consideradas subclínicas e a deformidade é de difícil percepção humana. O prejuízo estético, a etiologia e a estabilidade oclusal confirmarão a real necessidade de tratamento (ALLGAYER et al., 2011; PALOMO et al., 2005; MASUOKA et al., 2007; PECK; PECK; KATAJA, 1991).
O terço inferior da face é o mais acometido pelas assimetrias, sendo o ramo mandibular e a linha média dental as áreas mais afetadas (AZEVEDO et al., 2006). As assimetrias podem ser classificadas em mandibulares isoladas, que ocorrem por um crescimento deficitário ou exacerbado do corpo; do ramo mandibular ou de outras estruturas, provocando um desvio da linha média com laterognatismo mandibular; ou assimetrias maxilomandibulares, não existindo assimetrias maxilares isoladas, já que a maxila é osso fixo no esqueleto e a posição mandibular acompanha seu desenvolvimento (MEDEIROS; MEDEIROS, 2004).
Existem diversas etiologias possíveis para as assimetrias faciais de terço médio e inferior, podendo envolver fatores genéticos, congênitos ou adquiridos. Dentre elas, estão as fissuras faciais, síndromes, lesões tumorais como o osteocondroma, hiper ou hipoplasia condilar, desenvolvimento muscular assimétrico e desarranjo interno da articulação temporomandibular, como a anquilose. (CARLINI et al., 2005; CEVIDANES et al., 2005; HASHIMOTO et al., 2008; VILLELA et al., 2007). Existem também as assimetrias funcionais, que ocorrem quando há um padrão anormal de fechamento mandibular causado pela maloclusão (SILVA et al., 2018; MIGLIOLO et al., 2016; CORDEIRO et al., 2018). A hiperplasia condilar é rara e definida como um crescimento excessivo da cabeça condilar, e pode ser causada por traumas, artrite, infecções e alterações hormonais, causando uma assimetria mandibular (ADAMS, 1873).
As fraturas condilares causam dor, limitação de movimentos, alteração oclusal e também são causadoras de assimetria facial caso não haja um correto diagnóstico e tratamento da fratura, deixando assim sequelas estéticas e funcionais (BEHRENS ORIÁ, 2014). Isso ocorre devido ao côndilo ser o principal centro de crescimento mandibular, e traumas nessa área, principalmente em período de desenvolvimento, podem causar alterações no crescimento mandibular e inclusive afetar o desenvolvimento maxilar (YAMASHIRO; OKADA; TAKADA, 1998; DUTHIE et al., 2007).
O diagnóstico da assimetria facial é composto por uma minuciosa anamnese, na qual é importante definir qual a principal queixa do paciente. É importante investigar traumas ocorridos na região, desordens da articulação temporomandibular, infecção otológica, uso de aparelhos ortopédicos e outras patologias que possam ter levado à deformidade. No exame físico, a avaliação facial é uma parte fundamental do diagnóstico das assimetrias, assim como a avaliação intrabucal, observando a oclusão, linha média e sua relação com a linha média facial e a presença de inclinações do plano oclusal (BELL; PROFFIT; WHITE, 1980; BURSTONE, 1998; KOKICH; KIYAK; SHAPIRO, 1999; ANHOURY, 2009; JANSON et al., 2009).
O diagnóstico da assimetria facial necessita, além do exame físico, de exames complementares de diagnóstico, como as fotografias, modelos de estudo e exames de imagem (UECHI et al., 2006). Dentre eles estão a radiografia posteroanterior de face (que possibilita uma comparação entre os dois lados da face e avaliação das linhas médias dentárias), a tomografia computadorizada de face, a ressonância magnética, a cintilografia óssea e os traçados cefalométricos. Essas ferramentas auxiliares proporcionam um melhor diagnóstico da etiologia da assimetria e um planejamento cirúrgico mais eficaz (CARLINI; GOMES, 2005; SILVA et al., 2018; TERAJIMA et al., 2008; MEDEIROS; MEDEIROS, 2004).
Na avaliação das alternativas de tratamento é importante levar em conta a eficácia de cada uma. Em casos de assimetrias severas, a correção ortocirúrgica (cirurgia ortognática) é o tratamento de preferência para se obter o resultado mais satisfatório. A escolha do plano de tratamento estará diretamente relacionada à etiologia da assimetria e ao grau de deformidade, observando objetivamente os benefícios estéticos, dentários e faciais que o tratamento eleito trará (CARLINI; GOMES, 2005; MUCHA, 2014).
Intervir cirurgicamente pode ser necessário para corrigir a deformidade por meio de osteotomias maxilomandibulares. E, em casos onde seja necessário aumento da altura de ramo mandibular ou reconstrução total da ATM, pode ser necessária a instalação de prótese de ATM, associado à mecânica ortodôntica, a fim de obter o melhor resultado funcional e estético. A reconstrução total de ATM com prótese é uma modalidade que visa tratar uma patologia ou situação irreversível que acomete a ATM, substituindo côndilo e fossa por material aloplástico para restaurar forma e função, além do alívio da dor como objetivo secundário (QUINN, 2000; WOLFORD et al., 2015).