Resumo
A maloclusão de Classe III é uma consequência da deficiência maxilar e/ou prognatismo mandibular, resultando em mordida cruzada anterior e perfil côncavo. Pacientes jovens, com hipoplasia maxilar são, muitas vezes, tratados com disjunção e protração maxilar com o uso de máscara facial que promove uma tração anterior aplicada à maxila para estimular seu crescimento, enquanto restringe ou redireciona o crescimento mandibular (DE CLERCK et al., 2009). Até 1970, a Classe III esquelética era entendida como prognatismo mandibular, porém descobriu-se que, muitas vezes, a etiologia primária dessa má oclusão é a hipoplasia da maxila. Na década de 1990, estudos científicos esclareceram os efeitos da tração reversa da maxila para correção dessa maloclusão: a biomecânica envolvida nesses tratamentos se dá com movimento de avanço da maxila, rotação para baixo e para trás da mandíbula, vestibularização de incisivos superiores e lingualização de incisivos inferiores (NGAN; MOON, 2015).
Estudos mostram que a ERM prévia à protração da maxila atua liberando as suturas circum-maxilares e pode levar a maiores alterações ortopédicas de avanço maxilar. Quando a ERM é feita com uso de aparelhos expansores convencionais, pode provocar efeitos deletérios como inclinação vestibular dos dentes posteriores, pois os usam como unidades de ancoragem. Assim, muitos autores têm proposto o uso de aparelho para expansão rápida da maxila ancorados em mini-implantes instalados no osso palatino para onde as forças aplicadas são direcionadas eliminando os efeitos colaterais em dentes e provocando alterações puramente esqueléticas (MACGINNIS et al., 2014).
Helmkamp (2012) avaliou os efeitos esqueléticos e dentários da expansão rápida da maxila no plano transversal comparando dois tipos de aparelho: hyrax dentossuportado e outro ancorado em mini-implantes, além disso, observou que os pacientes tratados com aparelho convencional apresentaram maior distância entre as coroas dos molares, seguida de expansão alveolar e, por último, expansão sutural, enquanto os pacientes tratados com aparelho apoiado em mini-implantes tiveram maior expansão sutural e quase nenhum distanciamento das coroas dos molares, sugerindo que a ERM com ancoragem esquelética pode ser uma alternativa em casos que se deve evitar inclinações indesejadas de molares.
Sadao (1994) descreveu a técnica Multiloop Edgewise Arch-wire (MEAW) usada para reconfigurar o plano oclusal a fim de corrigir a maloclusão de Classe III, pois o considera um componente de grande influência na posição vertical e anteroposterior das bases ósseas. Como a posição vertical dos dentes posteriores não é estável durante o processo de crescimento e desenvolvimento da face, uma vez que há erupção contínua de molares no período de crescimento pós-puberal, pode-se considerar que, além da influência genética, a discrepância posterior negativa pode ser o maior fator de contribuição para o desenvolvimento da Classe III. Quando ocorre a erupção dos molares, caso o paciente possua baixo potencial de crescimento mandibular, a mandíbula tenderá à rotação no sentido horário, entretanto, se o paciente tiver potencial alto, o crescimento vertical da cabeça da mandíbula será estimulado causando uma rotação anti-horária da mandíbula levando à Classe III esquelética. O autor demonstrou ainda a aplicabilidade clínica dessa técnica propondo tratamento para eliminar a discrepância posterior e controlar o plano oclusal por meio dos arcos MEAW ativados para intruir e verticalizar dentes posteriores reconstruindo o plano oclusal e reposicionando a mandíbula para posterior.
O presente caso clínico mostrou tratamento de um paciente de 17 anos, Classe III esquelética, dolicofacial, tratado com expansão rápida da maxila apoiada em mini-implantes associada à protração maxilar com máscara facial e uso dos arcos Mutility (em alternativa aos arcos usados na técnica MEAW) para alteração do plano oclusal, seguindo os conceitos do Prof. Sato e elásticos de Classe III.