Resumo
Os traumas na dentição decídua são bastante frequentes e possuem uma prevalência média de 36,8%, enquanto os permanentes ocorrem 58,6% das vezes (ZALECKIENE et al., 2014). O trauma na dentição decídua pode requerer diferentes abordagens, dadas as peculiaridades em que cada trauma ocorreu. Menos recorrente que o trauma direto expresso pelo evento que o causou, pode-se localizar, via exames complementares, alterações morfológicas e anatômicas, que dificilmente seriam identificadas se não fosse o trauma primário. Um achado radiográfico frequente é o mesiodens, um dente supranumerário localizado na linha média da maxila. A prevalência geral de dentes supranumerários é de 0,15% a 1,9%, sendo mais comum em sexo masculino, mas o fator hereditário tem um peso maior quando o indivíduo tem casos na família (DIAS et al., 2019).
A formação do mesiodens parece decorrer da mobilidade do processo facial durante o desenvolvimento da face, que costuma gerar a ruptura da lâmina dental. Os prolongamentos epiteliais da lâmina dentária passam por proliferação exagerada e podem levar à formação do elemento supranumerário e podem apresentar características anatômicas distintas (DIAS et al., 2019).
As complicações decorrentes da presença do mesiodens estão relacionados ao atraso de erupção, apinhamento, impactação de incisivos permanentes, formação anormal de raízes, alteração da trajetória da erupção dos incisivos, diastema na linha média, lesões císticas, infecção intraoral, rotação, reabsorção radicular de dentes adjacentes ou até mesmo erupção na cavidade nasal. (MARCHETTI; OLIVEIRA, 2015). E o diagnóstico precoce de dentes supranumerários e a intervenção cirúrgica apropriada, associadas ao tratamento ortodôntico podem diminuir ou evitar essas complicações (GIOTTI et al., 2014).
A manutenção de espaço em casos de perda precoce de dentes decíduos em pacientes jovens promove alterações positivas nas funções fonética, mastigatória e estética, além de evitar a instalação de maloclusões. Desta forma, é de extrema importância que os cirurgiões-dentistas, principalmente os odontopediatras proponham aos pais esse tipo de tratamento, uma vez que a reabilitação é importante para o paciente (PEREIRA; SOARES; COUTINHO, 2010).
Inúmeros autores defendem a utilização dos mantenedores de espaço, principalmente quando a criança está em desenvolvimento fonético, para que este não seja prejudicado pela perda desses dentes. Além disso, há relatos que o comprometimento estético afeta a relação social da criança nesta etapa em que ela inicia a vida escolar (OLEGARIO et al., 2014). O uso de um mantenedor de espaço anterior do tipo fixo em caso de perda precoce dos incisivos decíduos é uma opção favorável à obtenção da satisfação tanto da família, quanto da própria criança de pouca idade e com dificuldade de colaboração (OTA et al., 2014).
O objetivo desde trabalho é relatar o caso realizado em clínica odontopediátrica, apresentando as etapas de diagnóstico e cirurgia do mesiodens, assim como os procedimentos de reabilitação oral que se sucederam.