Resumo
O apinhamento representa a característica mais frequente de todas as más oclusões, portanto, um dos problemas mais usuais a serem corrigidos no tratamento ortodôntico. O apinhamento dentário pode ser definido como uma discrepância existente entre o tamanho dos dentes e dos maxilares e pode ocorrer em três situações: os dentes apresentam-se excessivamente largos, ou a mandíbula e/ou a maxila com tamanhos reduzidos, ou uma combinação de ambos os fatores. A correção pode ser efetuada por diversos procedimentos clínicos, como extrações dentárias, desgastes interproximais ou por meio de expansão dos arcos e protrusão dentaria (SALVATORE, 2014; ALMEIDA et al., 2015).
O apinhamento dentário, a depender do seu grau de severidade, pode ser tratado de diferentes formas, como, por exemplo, com a distalização de molares, as extrações, as expansões dos arcos dentários e os desgastes interproximais (Cuoghi et al., 2007; VALARELLI et al., 2013).
Um dos planos de tratamento mais conservadores seria com desgastes interproximais, A opção por este método está diretamente associada à severidade da maloclusão e à quantidade de apinhamento. É válido salientar que o correto planejamento dos casos clínicos proporcionará ao ortodontista a previsibilidade da estabilidade pós-contenção (MARTINS et al., 2007).
Os desgastes dentários referem-se à diminuição das dimensões dentárias mesiodistais cujo objetivo é corrigir apinhamentos suaves ou moderados, bem como eliminar a desproporção natural de tamanho dentário entre os arcos. Tradicionalmente, o desgaste de esmalte nas regiões interproximais foi idealizado para o tratamento de casos com discrepâncias entre as larguras dos dentes. Esta filosofia foi descrita por Bolton em seu clássico artigo de 1958, em que relatava a desarmonia de tamanho dentário e sua relação para a análise e tratamento das más- oclusões (Cuoghi et al., 2007).
Em um outro artigo clássico de 1980, Tuverson inferiu que a redução de esmalte de 0,3 mm para os incisivos inferiores e 0,4 mm para os caninos inferiores pode ser realizada sem prejudicar a vitalidade dentária. Ele provou que, radiograficamente, existe esmalte suficiente para permitir o desgaste dentário sem comprometimento da face proximal e ainda enfatizou que a opção pelo desgaste interproximal seria a alternativa mais indicada para os casos limítrofes de extração. O desgaste pode ser realizado em até metade da espessura do esmalte interproximal, o que corresponde a aproximadamente 0,8 mm em cada face dos dentes posteriores e 0,5 mm dos dentes anteriores de ambos os arcos, permitindo um ganho de até 8,9mm de espaço se o desgaste for realizado a partir da mesial dos primeiros molares (CUOGHI et al., 2007; ALMEIDA et al., 2015).
Outra alternativa bastante utilizada atualmente para correção de apinhamento dentário é a utilização do sistema de aparelhos autoligados. Desde o início do século 20 que os braquetes autoligáveis já não são novidade na Ortodontia. Esses braquetes apresentam níveis muito baixos de atrito, e esse fato faz com que haja uma concordância na literatura sobre o fato dos autoligáveis produzirem menor atrito durante a movimentação ortodôntica, quando comparados com os braquetes convencionais. Outras vantagens atribuídas aos aparelhos autoligáveis são a diminuição do acúmulo de placa bacteriana, menor tempo de tratamento, menor tempo de cadeira, a possibilidade de intervalos maiores entre as consultas, menor desconforto ao paciente e menor injúria aos tecidos bucais (VILELLA et al., 2015; (BARBOSA, 2014).
Durante a compensação, as alterações ocorridas durante o tratamento são puramente de natureza dentária, com a mudança da inclinação dos dentes e uma certa expansão dos arcos, o que proporciona um ganho de espaço muitas vezes suficiente para corrigir alguns casos de apinhamento dentário. Caso a opção de tratamento seja pela compensação dentária, uma opção é a utilização do sistema autoligável. Os braquetes autoligados, por apresentarem menor atrito durante a mecânica ortodôntica, podem proporcionar um tempo de tratamento um pouco mais curto (SATO et al., 2013)
O presente relato de caso clínico tem como objetivo descrever uma opção de correção de apinhamento dentário de pequena magnitude utilizando desgastes dentários interproximais associados a braquetes autoligados passivos.