Resumo
Em 1955, Kuttler afirmou que a anatomia apical tende a ser imprevisível e não uniforme (WALTON; TORABINEJAD, 1997). Anatomicamente, a “zona crítica apical” está situada no interior dos 3-4 milímetros do ápice radicular e corresponde ao canal radicular apical, o forame e suas ramificações próprias (DEUS, 1992). Segundo Ricucci e Siqueira Junior (2008), estas ramificações apicais têm abrigado células bacterianas, frequentemente organizadas em Biofilme.
Com o intuito de melhorar a acesso a esta região e facilitar sua limpeza, alguns autores, como Silva et al. (2013) e Cruz Júnior et al. (2016), realizam a ampliação foraminal. O alargamento intencional do forame pode superar os limites da irrigação e potencializar a desinfecção (FERNERY et al., 2010),visto que o tratamento endodôntico visa controlar a infecção, oferecendo condições para que ocorra a reparação e que a maioria dos micro-organismos é oportunista, causando doenças somente quando está no interior do canal radicular (HIZATUGU et al., 2002).
No entanto, uma das principais preocupações quando se adota este limite de instrumentação é a possibilidade de dor pós-operatória. Esta é considerada uma sensação indesejada ainda, infelizmente, comuns após intervenções endodônticas e tem sido relatada após endodontias em 25% – 40% dos casos, incluindo aqueles com polpa vital e não vital (NEKOOFAR et al., 2003).
Durante a limpeza e modelagem dos canais radiculares, pode ocorrer a extrusão de uma pequena quantidade de tecido pulpar remanescente e raspas de dentina. Frequentemente, esta extrusão resulta em inflamação adicional e algum desconforto pós-operatório. Além disso, o risco de extrusão de irrigantes e materiais obturadores consiste numa desvantagem do preparo apical amplo. Entretanto, apresenta como vantagens a remoção de dentina infectada e o acesso de irrigantes ao terço apical do canal radicular. Por isso que, desde o estudo clássico de Ingle, grande ênfase tem sido dada ao limite apical da instrumentação e obturação, que consiste numa das controvérsias da endodontia ainda sem solução. (COHEN; HARGREAVES, 2007).
Durante a modelagem do canal, com instrumentos manuais ou rotatórios, há extrusão de detritos, mesmo mantendo o preparo convencional (NAIR et al., 2005). Burklein et al. (2012) sugerem que os sistemas reciprocantes tendem a empurrar mais detritos, bactérias e irrigantes através do forame do que os sistemas convencionais de instrumentação. Isto é pensado devido ao preparo mais rápido, usando somente um instrumento, além do movimento de vai e vem que pode compactar detritos para irregularidades no canal radicular e empurrá-los para além do forame (DIETRICH et al., 2012), podendo aumentar o risco de complicações com flare-ups. Deste modo, o controle adequado do comprimento de trabalho (CT) pode reduzir a extrusão de materiais através do forame, mas não evitar por completo esta (SELTZER; NAIDORF, 1985).
Desde 2008, quando Yared descreveu uma técnica de preparo de canais radiculares utilizando apenas um instrumento F2 (25.08) do sistema Protaper em movimento reciprocante (movimento que tem como ideia base as forças balanceadas de Roanne), m uitas especulações e pesquisas têm sido feitas na tentativa de minimizar os riscos envolvidos no preparo radicular com instrumentos rotatórios de níquel-titânio (NiTi), e devido às vantagens dos instrumentos reciprocantes, como uso de instrumento único e liga de NiTi denominado M-Wire que confere maior resistência à fadiga cíclica, maior força e resistência ao desgaste em comparação com os instrumentos feitos de fios de NiTi super elásticas convencionais por causa de sua microestrutura martensítica nano-cristalina única (YE; GAO, 2012). Além disso, o movimento reciprocante diminui o estresse axial sobre o instrumento e aumentam remoção de detritos (ÇAPAR; ARSLAN, 2016).