Resumo
A cárie severa da infância é definida pela presença de uma ou mais superfícies cavitadas, perdidas ou restauradas devido à doença cárie nos dentes decíduos em crianças abaixo de seis anos de idade (TINANOF et al., 2019). As lesões de cárie afetam 5% a 20% das crianças entre 12 e 36 meses de idade. Até 3 anos de idade qualquer sinal de cárie de superfície lisa é indicativo de cárie severa na primeira infância, manifestação altamente destrutiva e debilitante da doença que pode levar a dor, interferir na alimentação e progredir para a formação de abscessos, que podem afetar o desenvolvimento da dentição permanente e graves danos à saúde do paciente. A manutenção dos dentes decíduos no arco dentário até o período de esfoliação fisiológica é importante para a estética, fala, mastigação e na guia de irrupção dos permanentes (PITTS et al., 2019; PITTS et al., 2017)
Quando há o comprometimento pulpar é indicado o tratamento endodôntico para prevenir a perda precoce do dente decíduo. Em casos de necrose pulpar diagnosticada pela presença de fístula e/ou exame radiográfico, deve ser feita a pulpectomia, isto é, remoção de toda a polpa na câmara pulpar e canal radicular (SMAÏL‐FAUGERON et al., 2018; AAPD, 2008; GUEDES-PINTO; PAIVA; BOZZOLA, 1981; ARAÚJO; MASSARA; PERCINOTO, 2013). Devido às características dos dentes decíduos, o canal radicular após a limpeza deve ser preenchido por pastas com ampla atividade antimicrobiana e biocompatibilidade. A pasta Guedes-Pinto, composta por rifamicina, paramonoclorofenol canforado e iodofórmio é um material que tem eficácia demonstrada em estudos laboratoriais, propriedades antimicrobiana, anti-inflamatória e elevada tolerância em tecidos periapicais (GUEDES-PINTO, SANTOS, 2010; ARAÚJO; MASSARA; PERCINOTO, 2009; MELLO-MOURA; CERQUEIRA; SANTOS, 2007).
O cimento de ionômero de vidro (CIV) pode ser utilizado como material restaurador após a pulpectomia em crianças devido a sua capacidade de adesão ao esmalte e à dentina, à liberação de flúor na estrutura do dente, evitando o crescimento bacteriano nas superfícies restauradas (OLIVEIRA et al., 2003). O CIV apresenta versão fotoativada, por meio da qual é possível um melhor controle do material, característica importante no atendimento em Odontopediatria.