Resumo
As más oclusões caracterizadas pela sobremordida profunda são definidas pelo excesso de sobreposição dos dentes anteriores superiores sobre os inferiores no plano vertical e são consideradas de difícil resolução. A correção desta patologia oclusal é de fundamental importância para a manutenção das estruturas ósseas e dentárias, além de evitar desordens temporomandibulares (BHATEJA; FIDA; SHAIKH, 2016).
A etiologia está relacionada a aspectos importantes, que influenciam os indivíduos durante o período de crescimento, a saber: desenvolvimento dentoalveolar, atividade dos tecidos musculares e desordens esqueléticas (BHATEJA; FIDA; SHAIKH, 2016).
Entre as características dentárias comuns, relata-se a curva de Spee acentuada, seguido do comprimento coronal dos incisivos superiores, os quais se sobrepõem aos inferiores. No que diz respeito às características esqueléticas, pode-se observar a diminuição do ângulo goníaco e do plano mandibular (EL DAWLATLY; FAYED; MOSTAFA, 2012; BHATEJA; FIDA; SHAIKH, 2016). O diagnóstico baseado na Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico permite a realização de um estudo craniométrico, com medidas realizadas nos três planos do espaço, o que possibilita a avaliação de possíveis assimetrias do crânio e das medidas das estruturas internas, fornecendo valores precisos para o diagnóstico ortodôntico (SILVA et al., 2018).
O tratamento da sobremordida profunda grave demanda um tratamento ortodôntico associado à cirurgia ortognática. Em casos de menor gravidade, quando a opção é o tratamento compensatório, a mecânica ortodôntica tem como objetivo a intrusão dos dentes anteriores e/ou extrusão dos posteriores, com base na posição vertical dos incisivos superiores e sua exposição em relação ao lábio superior (PARK, KIM; KWON, 2011).
Os movimentos de intrusão dentária são complexos. A Ortodontia convencional é limitada, considerando-se o fato de utilizar os dentes como estruturas de apoio, o que produz efeitos colaterais indesejáveis. Muitos autores já descreveram protocolos de tratamento que utilizam mini-implantes como ferramenta capaz de auxiliar na mecânica, uma vez que não apresenta comprometimento estético e independe da colaboração do paciente (ARAÚJO et al., 2008; PARK; KIM; KWON, 2011; SENISIK; TUKKAHRAMAM, 2012). Todavia, esse sistema de ancoragem pode apresentar complicações clínicas, como a perda da estabilidade primária, limitação quanto à aplicação e direção de forças, lesão de raízes durante a instalação, além da fratura dos mini-implantes durante os procedimentos de inserção e remoção (ARAÚJO et al., 2008).
A utilização de miniplacas como ancoragem esquelética para movimentação ortodôntica foi primeiramente descrita por Jenner e Fitzpatrick (1985), precursores de vários outros estudos que aprimoraram a técnica e a indicação das miniplacas para fins de movimentação ortodôntica, de maneira a reduzir a complexidade e o tempo de tratamento, além de aumentar a previsibilidade dos resultados terapêuticos (JENNER; FITZPATRICK, 1985; FABER et al., 2008; BATISTA et al., 2011; SILVA et al., 2018).
As miniplacas fornecem maior estabilidade primária, quando comparadas aos mini-implantes, por ficarem distantes das raízes dos dentes, instaladas em regiões onde o osso é mais denso. Isso possibilita a translação dos dentes na área da miniplaca, com total controle tridimensional, e permite ainda: aplicação de diferentes vetores de força, controle da posição condilar, impacção da maxila, correção e rotação dos planos oclusais, assim como a retificação da curva de Spee nos casos de sobremordida (FABER et al., 2008; SILVA et al., 2018).
O presente relato de caso clínico tem como objetivo descrever a sequência clínica de um paciente adulto, birretruso, com má oclusão de sobremordida profunda associada à curva de Spee acentuada. O diagnóstico foi realizado por meio da avaliação morfológica da face e protocolo tomográfico 3D, seguido por uma mecânica individualizada, com a utilização de ancoragem esquelética ampliada (miniplacas).