Resumo
A maloclusão de classe III é definida como uma discrepância anteroposterior, com envolvimento esquelético e/ou dentário e /ou funcional entre a maxila e mandíbula (LOPES; COSTA; OLIVEIRA, 2015).
Até a década de 1970 foi vista como um problema relacionado à mandíbula, sendo assim, considerada sinônimo de prognatismo mandibular. No entanto, pode ser caracterizada pelo retrognatismo maxilar, prognatismo mandibular ou combinação de ambos. Essas alterações tornam o perfil facial reto ou côncavo, sendo estas características marcantes, definidas e percebidas logo no período de dentadura decídua ou dentição mista, o que facilita na escolha do tratamento precoce (CREPALDI et al., 2011; LUZ et al., 2011; YAVUZ; HALICIOG; CEYLAN, 2009; ZUPO et al., 2011).
Atualmente, sabe-se que 62% dos casos de maloclusão de classe III apresentam envolvimento maxilar, necessitando de alguma forma de protação para sua correção (LOPES; COSTA; OLIVEIRA, 2015; VENTURINI et al., 2015).
De acordo com as experiências clínicas, a maloclusão de classe III deve ser tratada o mais cedo possível, com o objetivo de restringir todo o crescimento horizontal ou, pelo menos, redirecioná-lo a um vetor mais vertical, deixando que a maxila continue o seu crescimento para baixo e para cima (LUZ et al., 2014).
A maloclusão de classe III é um dos problemas mais difíceis de tratar na dentição mista. Tem etiologia multifatorial envolvendo causas genéticas e ambientais. Estas tendem a agravar com o passar do tempo, uma vez que o crescimento da mandíbula mantém-se ativo por um período mais longo que o da maxila. Por isso, acredita-se que uma intervenção ortopédica, como a expansão maxilar e a terapia com aparelhos de tração extrabucal (máscara facial), em pacientes em crescimento, é bem-vinda e deve ser executada. Sendo assim, é possível que o ortodontista opte por uma terapia conservadora, evitando ou minimizando uma cirurgia ortognática no futuro (LUZ et al., 2014; PATTANAIK; MISHRA, 2016; ZUPO et al., 2011).
A protação maxilar, associada ou não à disjunção da sutura palatino mediana é a terapia mais recomendada, normalmente, para tratamento de classe III, em fase de crescimento. Essa protação é realizada com o auxilio de máscara facial, na qual é obtida melhora no padrão esquelético e redução na quantidade de compensações dentárias. Existem várias possibilidades de tratamento precoce da classe III, entretanto, a literatura é unânime em considerar a protação maxilar, associada ou não à expansão rápida da maxila (ERM) como a melhor terapia para pacientes em fase de crescimento e com deficiência na face média (LOPES; COSTA; OLIVEIRA, 2015; SILVA et al., 2017).
Nas ultimas duas décadas, uma combinação de ERM, juntamente com uma máscara facial para prolongar a maxila, tornou-se um protocolo padrão nos casos que apresentam deficiência maxilar (MUTHUKUMAR; VIJAYKUMAR; SAINATH, 2016).
A máscara facial é um aparelho extrabucal, usado no sentido de tracionar a maxila para anterior por meio de elásticos que ligam a máscara a um aparelho intrabucal pré-selecionado e fixado no arco superior. É um procedimento mecânico ortodôntico e ortopédico, cujo principal objetivo é a correção do problema dentário e/ou esquelético. O tratamento com máscara facial é geralmente complementado com a ERM, o que tende a desarticular a maxila e iniciar a resposta celular nas suturas circu-maxilar, permitindo uma reação mais positiva às forças de protação (CREPALDI et al., 2011).
A máscara facial tem sido utilizada com ou sem ERM, mas quando combinada com ERM, a máscara facial produz efeito mais rápido, devido ao início da resposta celular em decorrência da desarticulação da base óssea (RAMADAN; SANTAMARIA, 2018).
Nos casos em que a ERM é feita previamente ao uso da máscara, ela pode ser realizada por meio de aparelhos como o Haas, o McNamara ou o Hyrax. Após a ERM é iniciado o uso da máscara com forças ortopédicas e por um longo período do dia (RAMADAN; SANTAMARIA, 2018).
No presente caso clínico, foi utilizado o uso de um aparelho Disjuntor do tipo Ozeias, o qual se trata de um dispositivo expansor versátil, com ajuste de afastamento controlado em forma de leque da região posterior da maxila. Trata-se de uma modificação do aparelho desenvolvido por Haas, que apresenta bandas, botão de acrílico, braço de força, expansor sem o guia posterior para facilitar a abertura em forma de “leque”, e o stop posterior para delimitar a abertura desejada na região posterior do dispositivo (RODRIGUES, 2011).
Diversos tipos de máscara facial têm sido relatados na literatura para protação maxilar, entre elas, a de Delaire, Turley e a de Petit. A máscara facial do tipo Petit foi o tipo de máscara facial utilizada no presente caso clínico. Esta apoia-se em dois pontos da face: mento e região glabela. Com isso, a região molar fica livre para um possível reposicionamento maxilar anterior (CREPALDI et al., 2011; RAMADAN; SANTAMARIA, 2018).
Ao se tratar de idade para se iniciar o tratamento com máscara facial, pode ser variável, mas, frequentemente, está relacionada com as fases de desenvolvimento dentário, podendo iniciar entre 4 e 10 anos de idade, na fase dentição decídua e mista precoce, época em que podemos obter melhores efeitos ortopédicos e menores efeitos dentoalveolares, prevenindo, no futuro, extrações dentárias ou cirurgia ortognática (CREPALDI et al., 2011).
É importante ressaltar que o tratamento com uso da máscara facial se inicie antes do surto de crescimento puberário, aproveitando, ao máximo, o seu potencial, já que o término do crescimento da maxila é mais precoce do que o da mandíbula (CREPALDI et al., 2011).
Desta forma, este capítulo tem como objetivo descrever um caso clínico, demostrando a eficiência da ERM associada ao uso de máscara facial do tipo Petit para o tratamento precoce da maloclusão esquelética de classe III.