Resumo
A avulsão consiste no deslocamento completo do dente para fora do seu alvéolo. Quando ocorre durante a fase de dentadura mista, envolvendo dentes permanentes, é um problema que merece atenção ainda mais especial, tendo em vista seus impactos na saúde geral da criança. Em se tratando de dentes anteriores superiores, além dos aspectos funcionais (mastigação, deglutição e fala), compromete-se a estética do sorriso, o que pode criar influências negativas do ponto de vista psicológico, afetando a socialização da criança e, consequentemente, sua qualidade de vida (COSTA et al. 2019; PEREIRA; MIASATO, 2010).
A avulsão de dentes permanentes representa 0.5-3% de todas as lesões dentárias, não sendo incomum em crianças e adolescentes que tenham sofrido traumatismo. Neste caso, o reimplante é o tratamento de escolha, mas nem sempre pode ser realizado imediatamente. Quanto mais tempo o dente permanecer fora do alvéolo, menores as chances de revascularização pulpar e restabelecimento das fibras do ligamento periodontal, aumentando o risco de reabsorção radicular. Diante do relato de que o tempo extra alveolar total foi superior a 60 minutos, as células do ligamento periodontal estarão inviáveis (ANDERSSON et al., 2012).
Quando o reimplante do incisivo avulsionado não for possível, e levando-se em conta a idade do paciente, outras soluções são necessárias para minimizar os danos estéticos, funcionais e emocionais (BONANATO et al., 2008). Considera-se como uma boa alternativa a utilização de aparelhos mantenedores de espaço estéticos e funcionais como tratamento provisório (PITHON et al., 2012), tendo em vista o fato de a criança estar em fase de crescimento e, portanto, a instalação de implantes não ser indicado nesse período. Assim, eles estariam criando condições ideais para o tratamento definitivo, quando o crescimento esquelético estivesse completo, além de proporcionar tempo para o planejamento de atendimento odontológico interdisciplinar e de evitarem atrofia do processo alveolar (GÖLLNER et al., 2009; TÜZUNER; KUSGÖZ; NUR, 2009).
Os mantenedores de espaço removíveis apresentam as vantagens de serem de fácil confecção e manejo, baixo custo, permitirem uma fácil higienização, além de possuírem facilidade de ajuste. É importante considerar também que a criança tenha suficiente maturidade emocional para aceitar o uso de um aparelho removível. Assim, faz-se necessário que durante o período inicial de adaptação ao aparelho haja retenção e estabilidade, proporcionando conforto ao paciente (WATT et al., 2018).
Os acompanhamentos clínicos periódicos são necessários para controlar o crescimento da criança e avaliar a possível necessidade de substituição do aparelho, reparos e desgastes, até que o paciente tenha idade suficiente para a instalação de implantes dentários. Além disso, deve-se considerar que os mantenedores de espaço acumulam biofilme, o que indica a necessidade de acompanhamento da sua higiene bucal e orientações alimentares (dieta não cariogênica).
O objetivo deste capítulo é apresentar um caso clínico de uma criança que sofreu avulsão do elemento 11 aos dez anos de idade, procurando atendimento tardiamente, e para o qual foi confeccionado um aparelho removível estético e funcional.