Resumo
A definição de mordida aberta anterior, denominada MAA, possui uma série de controvérsias sobre o momento correto em que ela pode ser diagnosticada. Alguns autores apontam que deve ser a partir do momento em que a sobremordida estiver menor do que a considerada normal, enquanto outros, somente quando os dentes anteriores estão de topo a topo. Ainda há aqueles que compreendem que é MAA quando há falta de contato entre os dentes anteriores.
Independentemente dos apontamentos divergentes sobre a definição exata de MAA, sabe-se que essas alterações, normalmente, comprometem a fala, a deglutição, a função mastigatória e ainda são causa de transtornos psicossociais desfavoráveis, afetando a autoestima do indivíduo (JUSTUS, 2001; MAIA et al., 2008; PROFFIT, 2007).
Os dentes, juntamente com os ossos de suporte, estão submetidos a um sistema de forças antagônicas, geradas principalmente pela musculatura. Tais forças, em condições normais, são neutralizadas entre si, mantendo os dentes em posições estáveis, ou seja, sem sofrerem nenhum tipo de movimentação, mantendo assim o equilíbrio. Qualquer fator que interfira nesse equilíbrio poderá provocar alterações dentárias e/ou esqueléticas, dando origem à MAA. Com base nessa ideia de equilíbrio, pode-se citar vários fatores suspeitos de serem responsáveis pelo desenvolvimento da MAA, tais como: hábitos de sucção, hipertrofia das amígdalas, respiração bucal, fonação, deglutição atípica, entre outros; porém, nem todos esses fatores apresentam uma relação causa e efeito totalmente esclarecida. A maioria dos estudos conclui que o posicionamento atípico da língua em repouso (uma das disfunções secundárias), é o principal fator responsável pela manutenção da MAA (ARTESE et al., 2011).
Compreender os mais variados fatores etiológicos da MAA, sua influência no decorrer do crescimento craniofacial e sua relação com os fatores genéticos envolvidos (padrão de crescimento), faz com que a MAA seja considerada uma das más oclusões mais difíceis de serem tratadas, especialmente no que se refere à sua estabilidade em longo prazo (HUANG, 1989; ALMEIDA et al., 1998; MAIA et al., 2008; ZUROFF et al., 2010; ARTESE et al., 2011).
Estudos mostram que 50% das MAA na dentadura decídua se autocorrigem com o passar do tempo, pelo amadurecimento da função oral e diminuição natural da sucção (MAIA et al., 2008; ARTESE et al., 2011), porém é de extrema importância que o ortodontista intervenha quando a MAA estiver presente na dentadura mista, classificada como MAA dentoalveolar, evitando assim que a má oclusão se agrave com o decorrer do crescimento craniofacial. Se não for tratada corretamente, após o término do crescimento craniofacial, a MAA dentoalveolar passará a ser classificada como MAA esquelética, pois, além dos componentes dentários, apresentará componentes esqueléticos envolvidos na má oclusão, tais como: extrusão dentoalveolar posterior, rotação mandibular no sentido horário, ângulos goníacos abertos, ramos mandibulares curtos, altura facial anteroinferior (AFAI) aumentada.
O tratamento ortodôntico convencional (sem o uso de miniplacas), quando utilizado para a correção da MAA esquelética, pode ser feito com ou sem extrações dentárias, porém, a maioria dos resultados encontrados na literatura é insatisfatória, pois, resultam em compensações dentárias. Assim, para obter-se resultados melhores e estáveis, a cirurgia ortognática é indicada para complementar o tratamento ortodôntico convencional, com o objetivo de corrigir os componentes esqueléticos envolvidos e obter uma maior estabilidade (ALMEIDA et al., 2003; RAMOS et al., 2008).
A utilização de miniplacas para realização de movimentações dentárias iniciou-se na década de 1980, por Jenner e Fitzpatric, e devido ao seu grande índice de sucesso, vem sendo utilizada e aperfeiçoada até os dias de hoje (JENNER; FITZPATRICK, 1985; BATISTA et al., 2011; SILVA et al., 2018). Quando comparada a qualquer outro sistema de ancoragem esquelética, essa mecânica ortodôntica possui inúmeras vantagens e cria novas possibilidades para a realização dos tratamentos ortodônticos. Sua base ampla permite fixar dois ou três parafusos em áreas ósseas mais densas, nas quais as remodelações são mais lentas, obtendo-se assim, uma maior estabilidade. Sua fixação rígida permite realizar movimentações dentárias em grupo e, simultaneamente, nos três planos de espaço: sagital, vertical e transversal. Pelo fato de sua fixação ser distante das raízes dentárias, os dentes ficam livres para as realizações de todos os movimentos necessários durante o tratamento ortodôntico. Desta forma, quando indicada e instalada corretamente possibilitará movimentações dentárias e reformatação óssea, em curto período de tempo, o posicionamento correto de todos os dentes em suas bases ósseas, um baixo índice de indicação de extrações dentárias; um custo biológico reduzido; tratamentos com maior estabilidade em longo prazo; menor indicação de cirurgia ortognática para correção da MAA esquelética (BATISTA et al., 2011; SILVA; PINHO; MELOTI, 2011; CONSOLARO, 2015; SILVA et al., 2018).
Este trabalho teve por objetivo ilustrar o tratamento ortodôntico, com auxílio de miniplacas de titânio, de um paciente com má oclusão de Classe II e mordida aberta anterior esquelética.