Resumo
A oclusão não se trata apenas de uma relação de contato estático e dinâmico entre os dentes (GROSS, 2017). Uma oclusão caracterizada como ideal é aquela que permite com que o sistema estomatognático (SE) realize suas funções fisiológicas como mastigação, deglutição e fonética, sem comprometer suas estruturas – ossos do crânio, mandíbula, osso hioide, clavículas e esterno, músculos da face e posterior do pescoço, articulação temporomandibular (ATM), ligamentos periodontais, nervos e vasos sanguíneos, dentes, língua, lábios, bochechas e glândulas salivares (SOUSA, 2019).
A mastigação é a função primária do sistema estomatognático, ela facilita a deglutição que gera grandes forças nas estruturas de suporte da mandíbula, maxila e crânio. Os dentes posteriores (molares e pré-molares) são os principais responsáveis em suportar essas cargas, sua relação de intercuspidação máxima garante estabilidade de todo o complexo, gerando um equilíbrio dinâmico. Sendo assim, em uma oclusão fisiológica, as transmissões de forças oclusais ocorre ao longo do eixo dos dentes posteriores; nos caninos por meio dos movimentos de lateralidade; na guia anterior imediata; na dimensão vertical de oclusão (DVO) adequada; na posição de relação cêntrica (RC) coincidindo com a posição de máxima intercuspidação habitual (MIH) e contatos posteriores bilaterais e simultâneos (GROSS, 2017; OKESON, 2000; MELO et al., 2019; CAVESTRO; CUNHA, 2019).
Com isso pode-se dizer que a oclusão ideal é aquela onde a maior quantidade de dentes posteriores estão em íntimo contato, distribuindo forças oclusais em seu longo eixo, bilateralmente, de modo a proteger os dentes anteriores de contatos excessivos, permitindo equilíbrio e estabilidade oclusal, sem nenhuma manifestação patológica sobre os dentes ou estruturas de suporte (OKESON, 2000).
Segundo Tosati (2019), a ausência dos dentes posteriores gera sobrecarga nos dentes anteriores, principalmente em pacientes portadores de parafunção, como o bruxismo, onde na grande maioria, possuem desgastes dentários, que alteram a DVO, essa alteração precisa ser tratada pela sua importância funcional, independentemente de sua sintomatologia.
Assim, a perda dos elementos dentários ou qualquer alteração do SE podem gerar alterações na harmonização do sorriso, problemas na ATM como estalidos ou travamentos, tensões nos músculos da mastigação ou perda da DVO, sendo o seu restabelecimento de suma importância para o sucesso das reabilitações orais (CÉZAR; SILVA, 2019; SOUSA, 2019).
A DVO pode ser chamada de distância vertical funcional e é determinada por dois pontos fixos da face, um na maxila (meio da face ou nariz) e outro na mandíbula (parte inferior da face ou mento), com os dentes em intercuspidação. Já a dimensão vertical de repouso (DVR) é resultante da altura entre os dois pontos citados, quando a mandíbula está fisiologicamente em posição de repouso em relação à maxila. As distâncias verticais de oclusão ou repouso precisam ser mensuradas corretamente, pois o aumento ou a diminuição, pode gerar danos aos dentes, músculos, articulação, deglutição, fonação ou até mesmo na postura do paciente (SOUSA, 2019). Sendo a diferença dos resultados obtidos pela DVO e DVR, a determinação do espaço de repouso interoclusal (IORS) ou espaço funcional livre (EFL), que interfere diretamente na fonação (TOSATI, 2019; GROSS, 2017).
Com isso, a terapêutica para restabelecer a dimensão vertical (DV), por meio de um correto diagnóstico e plano de tratamento, nas reabilitações orais, torna-se uma questão de extrema importância, para devolver adequadamente ao paciente função e estética perdidas (MELO et al., 2019). Uma das etapas que compõem a terapêutica protética são as restaurações temporárias/provisórias, fase essa intermediária ao preparo e à adaptação da prótese definitiva, que devem ser confeccionadas com uma qualidade e planejamento adequado, de acordo com as necessidades individuais de cada paciente, evitando assim, não gerar insatisfação ao mesmo, problemas periodontais e custos adicionais, visto que um tratamento reabilitador extenso pode durar dias ou até meses. As técnicas para sua confecção podem ser de maneira direta ou indireta – com o auxílio de laboratório ou uma combinação direta/indireta. E seus materiais de fabricação em resinas acrílicas, coroas pré-fabricadas, resinas fluídas bisacrílicas, ou até resinas fresadas (SOUZA; COELHO; ALMEIDA, 2020).
Essas próteses temporárias/provisórias podem ser do tipo fixas ou removíveis, confeccionadas com as funções de manutenção biológica e biomecânica, protegendo os dentes pilares por meio da proteção pulpar; no auxílio no diagnóstico oclusal; readequando o perfil de emergência e contribuindo com a estética por meio da forma e contorno; além da manutenção e restabelecimento das funções orais perdidas pela diminuição da DVO, como a capacidade mastigatória; contribuindo para a adaptação do indivíduo a uma nova condição oral e na minimização possibilidade de erros, por um período limitado de tempo até a substituição por prótese definitiva (SOUZA et al., 2020; CÉZAR et al., 2019; CAVALCANTI, 2015).
Cabe destacar que a instalação de próteses definitivas deve ser realizada somente após as estruturas orais com necessidades de adequação bucal, como má higiene oral, doença periodontal, tratamento endodôntico, cárie dentária, restaurações imperfeitas e extrações, forem sanadas, a fim de garantir boa previsibilidade ao caso (CAVALCANTI et al., 2015).
Diante disso, o objetivo do relato de caso clínico consiste em apresentar o planejamento realizado para nova dimensão vertical de oclusal e o restabelecimento terapêutico com restaurações provisórias em resina fluida bisacrilíca superior, para adequar o colapso oclusal posterior do paciente.