Resumo
A aparência estética dos dentes apresenta grande importância no convívio social diário e na melhora da autoestima das pessoas. O padrão de beleza universal, imposto pela sociedade moderna, faz com que os pacientes busquem cada vez mais um sorriso praticamente perfeito. Em virtude disso, a odontologia estética vem merecendo cada vez mais destaque dentro do contexto geral da Odontologia (MAINIERI, 2012).
As restaurações de cerâmica pura apresentam vantagens como estética, biocompatibilidade, durabilidade e capacidade de resistir a condições orais por um longo tempo sem apresentar alterações clinicamente significativas (ATTIA; KERN, 2004).
O resultado estético é de extrema importância para muitas restaurações unitárias e, portanto, o material restaurador deve manter a qualidade de sua superfície e característica estética por um longo tempo, preferivelmente por toda a vida do paciente (ANUSAVICE, 2005). Atualmente, tem-se a disposição, diversos tipos de sistemas cerâmicos, que, após laboriosos estudos e testes, proporcionam qualidades mecânicas e ópticas diferenciadas (MAINIERI, 2012).
Por outro lado, todas as cerâmicas odontológicas apresentam defeitos de superfície (fendas de Griffith) que se formam durante o processo de fundição e sinterização. Quando a cerâmica é submetida a uma força que tende a dobrá-la,
são geradas tensões de tração que se concentram nas extremidades dessas fendas, promovendo a propagação das mesmas através da cerâmica e, consequentemente, a fratura do material sem a deformação plástica. Com o objetivo de aumentar a resistência das cerâmicas, surgiram as cerâmicas reforçadas, que se caracterizam, basicamente, por apresentar uma maior quantidade de fase cristalina em relação a cerâmica feldspática convencional. Diversos cristais têm sido empregados, como a alumina, a leucita, o dissilicato de lítio e a zircônia, os quais atuam como bloqueadores da propagação de fendas quando a cerâmica é submetida a tensões de tração, aumentando a resistência do material (SPHOR; CONCEIÇÃO, 2005).
As cerâmicas feldspáticas com alto teor de leucite, como o caso da cerâmica Creation Willy Geller® ou da IPS Design®, apresentam-se sob a forma de pó que é misturado com um líquido próprio, para formar uma espécie de pasta, a qual vai sendo aplicada por camadas com os efeitos que se quer dar à microfaceta, através do auxílio de pincéis ou espátulas apropriadas. A pasta de cerâmica condensada deste modo é então sinterizada (cozida) em vácuo, com uma temperatura de a 900 oC, de modo a eliminar o máximo de porosidades (TONDELA, J., 1998).
Esta aplicação da cerâmica pode ser efetuada sobre uma folha de platina ou sobre um troquel de gesso refratário. A queima da cerâmica sobre troquéis refratários é um método bastante antigo (BRUCE, G., 1891) e generalizado na confecção de restaurações de microfacetas. Através dessa técnica pode-se obter efeitos de cor e translucidez interessantes com a estratificação por camadas das cerâmicas feldspáticas convencionais, além de não necessitar um equipamento especial.
A interação que ocorre entre o esmalte, a dentina e até mesmo a polpa dental dá origem a diferentes fenômenos ópticos que podem ser observados nos dentes naturais, e incluem graus variáveis de translucidez e opacidade do esmalte e da dentina, além dos efeitos de opalescência, translucidez e fluorescência (WINTER, 1993; VANINI, 1996; DIETSCHI, 2001; FONDRIEST, 2003; BARATIERI; ARAÚJO IR; MONTEIRO JR, 2005). Parâmetros colorimétricos como o matiz, croma e valor são insuficientes para alcançar o sucesso estético na seleção e reprodução da cor. A obtenção da cor dos dentes pode ser otimizada por meio da reprodução de propriedades ópticas adicionais como opalescência, fluorescência e translucidez. (PRIEST; LINDKE, 2000).
A fluorescência é considerada uma propriedade óptica muito importante na reabilitação de elementos anteriores utilizando os sistemas cerâmicos. Esse fenômeno depende diretamente da incidência da luz, mais especificamente da luz ultravioleta. A fluorescência dos dentes naturais tem uma importante contribuição para sua aparência, inclusive na ausência de luz do dia. Portanto, para reproduzir a aparência natural da estrutura dentária, os materiais restauradores cerâmicos devem apresentar características ópticas similares às do dente natural. Quando materiais restauradores diretos e indiretos são submetidos à luz escura, negra ou UV, a ausência de propriedades fluorescentes adequadas irá interferir de forma negativa nas propriedades estéticas do material (BAEZA et al., 2002; DIETSCHI, 2001; MAGNE; BELSER, 2003).
Leinfelder (2000) relatou que para os clínicos que trabalham com restaurações estéticas, particularmente no campo das cerâmicas, a fluorescência é uma propriedade física muito importante. Dentes naturais são fluorescentes. Em outras palavras, eles emitem luz visível quando expostos à luz UV. A fluorescência proporciona vitalidade à restauração e minimiza o efeito metamérico entre dentes e material restaurador. É importante que os componentes básicos da porcelana emitam luz visível quando expostos à luz UV.
Muitos dos novos sistemas cerâmicos possuem impressionantes propriedades físicas e mecânicas, contudo, a longevidade clínica do material não pode ser determinada com precisão com base nestas propriedades, nem em testes in vitro de carga até a falha (SULAIMAN, 2015).
O objetivo deste relato de caso clínico foi mostrar a viabilidade do emprego de uma restauração indireta em cerâmica quando aplicada em um único elemento dental para devolver a harmonia ao sorriso da paciente.