Resumo
A reabilitação total do paciente edentado com utilização de uma prótese fixa na mandíbula foi a primeira modalidade de tratamento introduzida com implantes osseointegrados e tinha como finalidade resolver a instabilidade apresentada pelas próteses totais inferiores e, dessa forma, melhorar a qualidade de vida dos pacientes, principalmente no seu aspecto funcional.
No entanto, complicações e alterações peri-implantares são uma realidade que devemos diagnosticar e tratar, conforme indicação e necessidade de cada caso. O insucesso de implantes está relacionado a fatores como doenças crônicas, uso de medicamentos por muitos períodos e condições de higiene bucal, principalmente presença de placa bacteriana acompanhada de sangramento à sondagem periodontal, que aumentam o risco de mucosite e peri-implantite (BIANCHINI, 2014).
Overdentures são próteses parciais ou totais, removíveis, que utilizam como suporte a mucosa oral juntamente com dentes ou implantes osseointegrados (CASTLEBERRY, 1990) e são modalidades de tratamento relatadas desde a década de 1980 (WATSON; LINSTROM; SYMINGTON, 1988).
As overdentures foram frequentemente utilizadas como alternativa terapêutica em casos onde a perda precoce de alguns implantes não mais viabilizou a prótese tipo protocolo fixo (WIDBOM; SÖEDERFELDT; KRONSTÖM, 2005) e também em casos onde havia reabsorção óssea severa que permitia somente colocação de implantes curtos (SMEDBERG et al., 1993).
Em um paciente edentado, a decisão pelo tipo de prótese sobre implantes a ser realizada, se fixa ou removível, influenciará no planejamento do número e posição dos implantes a serem utilizados (LEKHOLM, 1998).
Outro fator que deve ser considerado na indicação é o comprimento ou extensão posterior dos pônticos em balanço (cantiléveres), que não deve ser maior que 1,5 vezes a distância do centro do implante mais anterior à linha que tangencia o bordo distal dos dois implantes mais posteriores (distância A-P), determinando, dessa forma, a quantidade de dentes posteriores que formarão o conjunto de dentes da prótese, influenciando tanto na estética quanto no conforto oclusal do paciente (TELLES et al., 2014). Como regra geral, quando cinco implantes são colocados entre os forames mentonianos, para suportar uma prótese fixa o cantiléver não deve passar de 2,5 vezes a distância A-P (MISCH, 2008).
As overdentures, por serem removíveis, permitem aos pacientes conseguirem mais facilmente um padrão de higiene aceitável, principalmente se comparadas às próteses fixas, que necessitam de procedimentos de higienização mais complexos. Pacientes com coordenação motora deficiente possuem maior dificuldade na higienização das próteses e dos implantes, sendo então a overdenture uma indicação mais assertiva. Pacientes com saúde debilitada e/ou em que o fator financeiro seja imperativo, as overdentures geralmente são primeira escolha de tratamento, por requererem menor quantidade de implantes e menor tempo de tratamento, diminuindo o custo final (TELLES et al., 2014). As overdentures estão indicadas em situações em que a remoção da prótese é imperativa para que o paciente possa fazer a higienização (HOBO; ICHIDA; GARCIA, 1997).
Do ponto de vista mecânico, as overdentures podem funcionar como sistemas rígidos, semirrígidos ou resilientes. No rígido ou semirrígido, os dispositivos de retenção limitam os movimentos das próteses, aproximando-as das próteses fixas no binômio mecânica/funcionalidade. Esse sistema reduz as forças que incidem sobre o rebordo alveolar, porém requer mais implantes para suportarem as cargas oclusais. Já nos sistemas resilientes, os elementos de retenção utilizados podem permitir que as próteses façam movimentos de rotação em torno de um eixo e translação vertical, de maneira que parte das forças oclusais seja absorvida diretamente pelo rebordo alveolar, diminuindo a quantidade de cargas que incidiriam sobre os implantes. A escolha do tipo de sistema vai depender do número de implantes ou dentes, da sua localização, da conveniência e/ou viabilidade protética e do custo (TELLES et al., 2014).
Os dispositivos de retenção das overdentures podem ser do tipo barra/clipe, anéis de retenção ou magnetos. A escolha desses dispositivos pode ser orientada por conveniências específicas do caso ou por questão de concepção e filosofia do profissional. Dispositivos tipo barra/clipe necessitam de mais espaço disponível para sua utilização devido à dimensão de seus componentes e por esse motivo, o espaço protético disponível sobre a prótese pode ser um fator determinante na escolha dos dispositivos de retenção (TELLES et al., 2014).
Nas overdentures barra/clipe, o tipo de barra é um determinante do grau de movimentação da prótese: barras esféricas permitem um momento livre de rotação da prótese e, por isso, em geral são utilizadas nos sistemas resilientes. Já as barras de paredes paralelas tendem a limitar essa movimentação, o que as torna mais adequadas para o uso dos sistemas rígidos ou semirrígidos (TELLES et al., 2014; MISCH, 2008).
Como desvantagens das overdentures, podemos citar que em alguns casos, para compensar a perda de volume de tecidos moles e duros, algumas próteses podem se tornar demasiadamente volumosas (HOBO; ICHIDA; GARCIA, 1997), e sua característica removível pode trazer insatisfação ao paciente, principalmente àqueles que anseiam por ter uma prótese fixa, que traz a sensação de integração permanente ao corpo (NOVAES; SEIXAS, 2008; SPIEKERMANN et al., 2000; HOBO; ICHIDA; GARCIA, 1997), impacção alimentar (MISCH, 2008), necessidade frequente de revisões e manutenções dos componentes de conexão (EBADIAN; AZADBAKHT; SHIRANI, 2020; MANÊS FERRER et al., 2020; BATISTA et al., 2005; DUDIC; MERICSKE-STERN, 2002).
A reabilitação com próteses totais são um desafio ao clínico, em especial quando se tem que trocar uma prótese fixa por uma removível. Uma restauração fixa fornece a vantagem psicológica de como agir e parecer com dentes naturais, enquanto uma overdenture, mesmo que totalmente implantossuportada, permanece como uma prótese removível. Uma constatação muito comum ouvida de pacientes com restaurações fixas é de que “estes dentes implantados são melhores que os meus próprios”, enquanto os comentários relacionados às overdentures são de que “elas são melhores que minha prótese total” (MISCH, 2008).
As técnicas convencionais para próteses removíveis não conseguem prever com segurança a estabilidade, retenção e estética senão no momento da instalação delas. A técnica da clonagem terapêutica descrita por CASTRO & GOMES (2009) trouxe elementos e passos clínicos que permitem ao dentista fazer modificações estético-funcionais na prótese que o paciente utiliza e necessita ser trocada, a fim de testar a nova configuração desejada nesta nova prótese temporária, antes de executar a confecção da prótese definitiva.
O objetivo deste relato de caso clínico é demonstrar a fase de transformação de uma prótese tipo protocolo inferior em uma overdenture provisória, que posteriormente foi duplicada (clonada) e utilizada como uma moldeira individual dentada, transferindo as informações clínicas para a nova overdenture.